Por Terezinha Nunes
Recentemente, o general Jorge Videla, um dos comandantes da Ditadura Militar argentina entre 1976 e 1983, e, atualmente, cumprindo prisão perpétua por “crimes contra a humanidade”, admitiu que durante o regime de exceção naquele país foram executadas de 7 a 8 mil pessoas, e que as Forças Armadas deram um jeito de sumir com os corpos para evitar protestos.
Os militares argentinos não só sumiram com os corpos, como confessou Videla, mas também entregaram, em adoção, a casais amigos, filhos dos militantes citados e, como se denunciou depois, jogaram no mar muitos desses corpos de que falou o general.
A ditadura militar brasileira iniciada em 1964 – muito antes da Argentina – e praticamente encerrada em 1985, com as eleições diretas, foi, infinitamente, mais branda, em termos de mortes de militantes, que a do nosso vizinho país.
Não se conhece história por aqui de corpos lançados ao mar, por exemplo, mas, há poucos dias, o ex-delegado do DOPs , Cláudio Antonio Guerra, publicou um livro de memórias dizendo que, em 1973, pelo menos uma dezena de corpos de militantes de esquerda, mortos pela ditadura, foram incinerados em uma usina de açúcar no norte do Rio de Janeiro.
Ninguém até agora contestou a informação bombástica do ex-delegado e a sua confissão ganhou credibilidade maior quando se sabe que muitas das pessoas que desapareceram na época nunca foram encontradas, embora suas famílias até hoje lutem por isso, como é o caso dos parentes do militante pernambucano Fernando Santa Cruz.
Com a decretação da anistia, que significa perdão de lado a lado, foram ficando para trás as iniciativas visando a apuração sobre o que aconteceu nos porões da ditadura militar brasileira.
Está certo que ninguém mais poderá ser punido, de acordo com a lei, mas as famílias, sobretudo aquelas que não sabem onde chorar seus mortos, têm o direito de saber o que aconteceu com eles e onde se encontram os corpos.
É necessário também que as pessoas, sobretudo as que nasceram ou cresceram na época, saibam o que houve na guerra sem fronteiras entre direita e esquerda para que as atrocidades não sejam repetidas.
Desta forma há de se louvar a atitude do governo federal, através da presidente Dilma, de criar a Comissão da Verdade que, vai, na medida do possível, apurar o que ocorreu e que contou, em seu lançamento, com o apoio e a presença de ex-presidentes, com destaque para Lula e Fernando Henrique Cardoso.
Era de se esperar a reação de militares da reserva que, na época, frequentaram os porões da ditadura, a esta iniciativa e que viesse, como veio, carregada de acusações de revanchismo.
Ou de cobranças de investigações “dos dois lados”. O próprio ex-ministro Nelson Jobim assim se pronunciou mas foi bem contestado pelo professor Oscar Vilhena Vieira, diretor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas para quem “a esquerda já foi julgada, condenada e já cumpriu pena”.
Realmente não se conhece um só caso de militar acusado de tortura ou assassinatos que tenha sido punido. Já na esquerda os processos foram inúmeros. Vilhena registra que, só em São Paulo, mais de 3 mil processos foram abertos contra militantes de esquerda. Todos julgados.
Mas, como em toda regra há exceções, é possível que o atentado a bomba do Aeroporto dos Guararapes seja enfim elucidado até para se saber afinal se foi originado na direita ou na esquerda, como já se chegou a especular.
CURTAS
De Volta
O mais influentes dos secretários do prefeito João da Costa, André Campos, de turismo, deixa a equipe municipal no final deste mês. André vai reassumir o mandato de deputado estadual. A versão que corre na Assembleia é que ele pode vir a se candidatar a prefeito de Jaboatão, pelo PT . André não confirma oficialmente esta versão.
Bobo da corte
O secretário estadual Maurício Rands foi chamado pelos partidários de João da Costa de “ bobo da corte”, pelo fato de ter dito que teria o apoio de Lula, Dilma, e de todos os partidos da frente popular em sua campanha para as prévias, sem que isso tenha sido confirmado. Agora, pelo resultado da reunião que anulou as prévias sem que ficasse constatada qualquer fraude, ficou claro que mais gente importante do que se pensa estava do lado de Rands.
Independência
Embora ainda escute bastante o senador Jarbas Vasconcelos, o deputado federal Raul Henry está cuidando de abrir caminhos para consolidar sua candidatura a prefeito do Recife de forma independente do seu principal padrinho político. Vai, aos poucos, demonstrando que deseja alcançar um outro patamar na política: o de condutor do processo.
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