Menos de uma semana após deixar o cargo de Ministro da Justiça do governo Bolsonaro, o ex-juiz Sérgio Moro já pontua entre 16 e 21 por cento de intenção de votos para Presidente da República em 2022. Os dados são da primeira pesquisa divulgada pela Travessia Estratégia em parceria com a Renascença DTVM, a maior corretora de títulos públicos do Brasil. A pesquisa avaliou seis cenários hipotéticos para a próxima eleição presidencial, além da rejeição dos possíveis candidatos e da avaliação do governo do Presidente Jair Bolsonaro.
No primeiro cenário pesquisado chama a atenção o empate técnico entre os possíveis candidatos Jair Bolsonaro, Lula e Sérgio Moro, que aparecem respectivamente com 22%, 21% e 16% de intenção de voto. Logo em seguida estão Ciro Gomes com 9% e Luciano Huck com 7% de citações. Mais abaixo, João Amoêdo e João Dória com 4% cada. Completando a lista temos Wilson Witzel com 2% e Guilherme Boulos com 1% de intenção de voto.
Um empate técnico se repete no segundo cenário onde o nome do ex-presidente Lula é substituído por Fernando Haddad, mas há um leve distanciamento do presidente Jair Bolsonaro, deixando o empate no extremo da margem de erro. Bolsonaro lidera com os mesmos 22% de intenção de voto, seguido por Haddad com 17% e Moro com os mesmos 16% de citações. Ciro Gomes cresce e vai a 11%, enquanto Luciano Huck sobe para 8%. João Amoêdo e João Dória se mantém estáveis com 4% de citações. Wilson Witzel mantém os 2% do cenário anterior e Guilherme Boulos cresce para 2% de intenção de voto.
Já no terceiro cenário com a saída de Sérgio Moro, Bolsonaro lidera com folga e obtém 25% de intenção de voto, abrindo uma vantagem de 8% sobre Haddad que pontua 17%. Ciro Gomes e Luciano Huck pontuam com dois dígitos, 11% e 10%, respectivamente. O nome novo no cenário é Henrique Mandetta que, com 8% de intenção de voto, supera Dória (5%), Amoêdo (4%), Witzel (2%) e Boulos (2%).
O quarto cenário, também sem Sérgio Moro, substitui Fernando Haddad pelo governador do Maranhão Flávio Dino que aparece com apenas 5% de citações. Ciro Gomes, com 16%, e Luciano Huck, com 13%, aparecem empatados tecnicamente em segundo lugar, a uma distancia considerável de Jair Bolsonaro que lidera isolado com 26% de intenção de voto. Amoêdo, Dória, Witzel e Boulos têm resultados semelhantes aos dos cenários anteriores, pontuando com 5%, 4%, 3% e 2%, respectivamente.
No quinto cenário, quando o candidato do Partido dos Trabalhadores é o governador da Bahia Rui Costa, cenário também sem Sérgio Moro, o governador baiano performa um pouco melhor que o maranhense chegando a 7%, mas a tônica permanece a mesma, com Ciro e Huck empatados na segunda posição com 15% e 12% respectivamente. Bolsonaro mantém os 26% de intenção de voto do cenário anterior.
No sexto e último cenário a Travessia faz uma projeção reduzida, com apenas quatro concorrentes. Jair Bolsonaro (25%), Lula (22%) e Sérgio Moro (21%) empatam tecnicamente e Ciro Gomes fica no distante quarto lugar com apenas 12% de citações.
Avaliados em conjunto os cenários mostram que Jair Bolsonaro, apesar de liderar em todos os quadros, sempre se mantém em empate técnico quando o ex-ministro Sérgio Moro é testado. Em um pelotão abaixo, Ciro Gomes e Luciano Huck se movimentam positivamente quando são retirados os nomes mais fortes do PT, Lula e Fernando Haddad. João Doria e João Amoêdo revezam-se sempre na mesma faixa entre quatro e cinco por cento de intenção de voto. Wilson Witzel e Guilherme Boulos se alternam nas últimas posições.
O desempenho de Moro surpreende, sobretudo porque o ex-ministro quando perguntado sobre 2022 nega a intenção de concorrer à Presidência da República. Mas esse não é o único destaque da pesquisa. Segundo Bruno Soller, estrategista e sócio da empresa Travessia Estratégia, “apesar de Ciro Gomes sair na frente de Luciano Huck, o apresentador global tem mais tendência de crescimento no eleitorado lulista ao longo do tempo. A maior dificuldade de Ciro é dialogar com as classes mais baixas, onde o PT ainda é dominante. Huck se destaca justamente nesse nicho”.
A avaliação da rejeição dos potenciais candidatos à Presidente em 2022 também refletiu no cenário eleitoral. Segundo Renato Dorgan, estrategista e também sócio da Travessia, “a possível candidatura de Sérgio Moro cria muitas dificuldades para Bolsonaro. Moro dialoga com o mesmo público do presidente e tem uma rejeição 12 pontos mais baixa”. Na pesquisa, aparecem com o maior percentual de rejeição Guilherme Boulos, Lula e Flávio Dino com 58%, 53% e 51% respectivamente. Em seguida, com rejeição entre 40 e 50 pontos percentuais vêm Jair Bolsonaro (50%), João Doria (49%), Fernando Haddad (47%), Rui Costa (44%), Luciano Huck (41%) e Wilson Witzel (40%). Os nomes com rejeição abaixo de 40% são Sérgio Moro (38%), Ciro Gomes (38%), João Amoêdo (36%) e Henrique Mandetta (26%).
Na realização da pesquisa, a Travessia Estratégia entrevistou 1.503 pessoas por telefone, nos dias 29 e 30 de abril, em 115 municípios de todas as regiões do país. O levantamento atende ao critério estatístico de cotas censitárias de gênero, faixa etária e concentração populacional. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.
Raio-X dos possíveis candidatos à Presidente em 2022
Jair Bolsonaro – O atual presidente tem intenção de voto preferencial entre o público masculino, com um desequilíbrio grande em relação voto feminino. Quanto maior a renda e a faixa etária, maior é a intenção de voto no presidente. Bolsonaro também apresenta bons índices entre os evangélicos. 50% rejeitam votar no presidente.
Em relação à avaliação de governo, o presidente encontra-se em um patamar de regular para ruim. 31% avaliam como ótimo e bom e 28% como regular, sendo que destes, 10% consideram de regular para ruim. Já para 37% dos entrevistados a avaliação da gestão do Presidente é considerada ruim ou péssima. A aprovação segue o mesmo perfil de quem quer reeleger Bolsonaro. No comparativo com a gestão do ex-presidente Michel Temer, a sensação é de que o país está estagnado. Para 26% o país está melhor, para 33% está igual e para 28% está pior.
Lula – O ex-presidente Lula tem um comportamento eleitoral diametralmente oposto ao de Jair Bolsonaro. Concentração de intenção de votos entre mulheres, mais pobres, católicos ou de outras religiões, que não evangélicos. Mais equilibrado entre as diferentes faixas etárias, Lula é também o preferido entre os que rejeitam Jair Bolsonaro. 52% rejeitam votar no ex-presidente.
Sérgio Moro – Com um voto muito parecido com o de Bolsonaro e com uma parcela de votos entre os que aprovam a gestão do presidente, Moro lidera entre os que avaliam como regular a administração. Sua concentração de votos está no mesmo corredor de Bolsonaro. Tem rejeição de 36% dos eleitores.
Ciro Gomes – É quem mais cresce com a saída de Lula do jogo e sem a presença de um candidato forte do PT. Sua maior dificuldade está nas classes mais baixas, o que não o faz herdeiro direto do voto do lulismo.
Luciano Huck – Com penetração popular, na faixa de até dois salários mínimos, cresce com a saída de Lula e de um candidato petista forte do cenário. Tem maior dificuldade na renda intermediária. Volta a crescer entre os acima de 10 salários.
Fernando Haddad – É o principal substituto de Lula dentre os avaliados nos diversos cenários. Alcança empate técnico com Bolsonaro no cenário em que Sérgio Moro também é testado. Sua votação acompanha a lógica do lulismo e se diferencia um pouco com boa penetração entre os mais jovens.
Henrique Mandetta – Possui um comportamento eleitoral próprio, fora do bolsonarismo. Tem mais voto entre as mulheres, no público de meia idade e equilibrado por renda. Obteve a menor taxa de rejeição entre os nomes pesquisados, devido à grande exposição na mídia nas últimas semanas, projeção que tende a ser minimizada com sua saída do Ministério da Saúde.
João Doria, João Amoedo e Wilson Witzel – Doria e Amoêdo disputam na mesma raia e o que os diferencia é basicamente o voto por faixa etária. Enquanto Amoêdo tem melhor desempenho entre os mais jovens, Doria cresce entre os mais velhos. De resto, ambos performam melhor conforme cresce a renda do eleitor. Witzel tem um voto de classe intermediária, evangélico e de idade mais baixa.
Guilherme Boulos – Candidato mais rejeitado e com menor intenção de votos. Tem seu eleitorado na juventude de classe mais baixa.
Rui Costa e Flávio Dino – Os dois governadores ocupam uma faixa de votos sintonizada com o lulismo. Entretanto, Rui Costa tem uma rejeição mais baixa e uma concentração maior nas faixas de idade adulta e avançada. Flávio Dino se sai melhor entre os mais jovens, porém ultrapassa os 50% de rejeição.
Sobre os votos nulos e brancos e os eleitores indecisos – Jovens, mulheres, mais pobres e evangélicos compõem o perfil mais indeciso e insatisfeito dentre os entrevistados.