Por Terezinha Nunes
Em janeiro de 2010, quando estava no Recife inaugurando uma das primeiras UPAS construídas na capital, o então presidente Lula fez piada : “dá até vontade de a gente ficar doente para ser atendido aqui” – afirmou o presidente que depois precisou de cuidados médicos no Recife e teve mesmo que recorrer ao Hospital Português.
O caminho do ex-presidente, da UPA para o Português, foi registrado pela imprensa nacional e acabou servindo de cobrança da população cansada de reclamar da péssima assistência garantida pelo SUS nas milhares de unidades espalhadas pelo país.
O ocorrido com Lula serve de parâmetro para explicar a razão da mais recente pesquisa realizada pelo próprio Governo Federal para medir a excelência do SUS, ter reprovado o sistema. Ouvidos, os brasileiros informaram que dariam, em média, nota 5,4 ao atendimento recebido do sistema de saúde pública brasileiro.
Em todo o país a pesquisa causou constrangimento aos governadores e prefeitos aliados da presidente Dilma e o prefeito do Rio, a cidade com pior média, Eduardo Paes, chegou a criticar abertamente o ministro Alexandre Padilha por sequer tê-lo informado da situação antes de divulgar a pesquisa para a imprensa.
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos não chiou oficialmente mas não deixou de causar perplexidade o fato de o nosso estado ter ficado em um preocupante 16.o lugar no ranking dos 27 estados onde o SUS foi avaliado. Ou seja, mesmo que o governo pernambucano divulgue diariamente que investe muito na saúde, o povo ainda não sentiu de forma significativa a diferença.
Onde estaria o gargalo da situação? Na verdade, é forçoso concordar que o atual governador tem investido bastante na saúde, inclusive testando um sistema criado nas administrações do PSDB em São Paulo e que lá têm dado certo como é o caso da entrega dos hospitais a OS – Organizações Sociais – privatizando o atendimento.
É cedo para avaliar a face pernambucana das OS na saúde mas parece claro que o buraco é muito mais embaixo. Há falta de médicos e de enfermeiros em todo o estado e isso não se resolve só com gestão e com prédios novos. Aqui, por sinal, se optou por construir novos hospitais e deixar os antigos funcionando de forma precária, o que pode estar onerando ainda mais o sistema.
No momento em que os dois sistemas – privado e público – funcionam concomitantemente, a tendência é que os profissionais funcionários públicos que ganham bem menos acabem migrando para o setor privado onde recebem mais, apesar da verba sair do mesmo cofre.
Com isso, como os novos hospitais e Upas não são suficientes para atender a todos, acabam socorrendo apenas uma minoria. A grande massa tem mesmo que penar nas unidades 100% públicas onde a carência é enorme. E, na hora da pesquisa, é o SUS que paga.
Além disso, muitos municípios aproveitaram a presença das UPAS para fechar unidades que antes atendiam a população de forma mais espalhada, chegando mais perto das residências.
Os prefeitos, por sua vez, se queixam de que não estão encontrando médicos para atender a população com os salários que podem oferecer – a nível de serviço público – concorrendo com os que recebem, do estado, a nível de empresa privada, embora servindo também ao setor público.
Ou seja, uma equação difícil de fechar. E enquanto estes impasses não forem contornados é difícil saber se os grandes investimentos feitos na saúde estão dando ou darão, no futuro, o resultado desejado. Esperamos que sim.
CURTAS
Torcida
Pessoas que estiveram recentemente com o senador Jarbas Vasconcelos saíram convencidas de que ele torce para que o deputado federal Raul Henry consiga se viabilizar como candidato a prefeito do Recife. Jarbas já tinha jogado a toalha sobre o assunto afirmando que Henry não estava mostrando disposição mas depois que o deputado conversou com o vice-presidente Michel Temer voltou a Pernambuco com outro ânimo.
Danilo
Já no lado governista se fala cada vez mais que o governador tem outra carta na manga no PSB para colocar na disputa recifense: o secretário das cidades, Danilo Cabral, que dirige a secretária responsável pelas obras de mobilidade da Copa no Recife. No PT, havendo mudança, sua preferência seria pelo também secretário, Maurício Rands.
Emaranhado
A verdade é que, pelo que se observa, a sucessão no Recife ainda não é jogo jogado. Nem mesmo nas preliminares. Na hora em que João da Costa é contestado de todas as formas – dentro e fora da aliança governista – tornando-se um caso raro de prefeito que pode perder o direito de disputar a reeleição, tudo pode acontecer. Inclusive nada. Ou seja, João da Costa ser escolhido com a benção de todos os governistas.