Nascido em 1936 na cidade de Belo Jardim, José Mendonça Bezerra formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife no ano de 1963, e após sua formação, decidiu ingressar na vida pública participando da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) em 1966 quando decidiu disputar seu primeiro mandato eletivo, o de deputado estadual. Mendonção, como ficou conhecido, exerceu três mandatos na Assembleia Legislativa de Pernambuco, até que em 1978 disputou seu primeiro mandato na Câmara Federal ficando até 2010, quando deixou Brasília pensando em ser prefeito de Belo Jardim, sua terra natal, na eleição seguinte.
Na bela trajetória de 44 anos de mandatos eletivos ininterruptos, Mendonção construiu uma imagem de brilhante articulador político, sua família conseguiu por duas vezes, sob sua liderança, a façanha de eleger dois deputados federais. Foi assim em 1994, quando ele e Mendonça Filho foram eleitos juntos para a Câmara Federal e em 2010, quando emplacou o próprio Mendonça Filho e o seu genro Augusto Coutinho para mandatos em Brasília.
Uma característica marcante de Mendonção foi o seu posicionamento político, nos mais de quarenta anos de vida pública nunca trocou de lado, ficando na ARENA, PDS, PFL e Democratas até seu falecimento. Foi dele a articulação que viabilizou a União por Pernambuco que em 1998 derrotaria Miguel Arraes sob a liderança de Jarbas Vasconcelos. As costuras do cacique pefelista possibilitaram que Mendonça Filho fosse vice-governador e José Jorge se elegesse senador naquele pleito.
Nunca afeito a holofotes, Mendonção sempre atuou em defesa dos interesses de Pernambuco, sua cidade Belo Jardim recebeu importantes empreendimentos que lhe diferenciaram dos demais municípios graças a sagacidade de Mendonção, que notabilizou-se como um grande construtor do futuro do agreste. Baraúna é uma árvore frondosa, que protege seu entorno, Mendonção agiu como uma árvore que trouxe muitos frutos para a política, para sua cidade e para Pernambuco.
Torcedor apaixonado do Santa Cruz, Mendonção aceitou ser presidente do seu clube do coração, e foi lá que ele teve uma dura experiência que costumava contar aos próximos. Acostumado com as demandas dos vereadores, mais duras em época de eleição, ele pôde diagnosticar que existia uma categoria mais complicada do que vereador, o tal do jogador de futebol. Durante sua passagem pela presidência do clube no biênio 2001/2002, Mendonção não conseguiu títulos, porém foi ele quem trouxe o desconhecido Grafite que depois tornara-se um dos maiores ídolos do clube tricolor.
Voltando para a política, na eleição de 2006, Mendonção fez de tudo para que Inocêncio Oliveira, que chegou a ser seu desafeto por um tempo, pudesse continuar na União por Pernambuco, chegando a conversar com o cacique de Serra Talhada e colega de bancada na Câmara Federal para continuar na coligação. O espaço que Inocêncio queria eram duas secretarias, que acabaram negadas pelos governistas, o que culminou na saída de Inocêncio da União por Pernambuco e no seu consequente apoio a Eduardo Campos, que viria a ser governador naquele pleito derrotando Mendonça Filho.
Noveleiro de mão cheia, sempre que podia, Mendonção gostava de acompanhar as novelas da Globo, e em 2006 durante a campanha eleitoral para o governo de Pernambuco, ele chamava Eduardo Campos de Renato Mendes, personagem vivido pelo ator Fábio Assunção na novela Celebridade, que era um vilão e que assim como Eduardo, tinha os olhos azuis. Isso mostra a faceta inteligente e perspicaz de Mendonção, capaz de unir a realidade com a ficção.
Durante seus oito mandatos em Brasília, o apartamento funcional de Mendonção virou ponto de encontro dos colegas não só da bancada pernambucana como de outros estados. Nas conversas de Brasília, Mendonção viabilizava não só projetos legislativos como também políticos, era um construtor de pontes e artífice do entendimento. Apesar dessa característica conciliatória, era implacável com adversários quando necessário, habilidade fundamental para quem precisa se manter na política.
Motorista de Mendonção em boa parte do período em que ele esteve em Brasília, Clóvis que era do Recife e até hoje mora na capital federal, relembra com saudade do período em que acompanhava Mendonção e Dona Fana, ficando com os olhos marejados ao lembrar da figura de Mendonção, que o levou para Brasília. Hoje Clóvis trabalha com o genro de Mendonção, Augusto Coutinho, um de seus herdeiros políticos.
Chefe de gabinete do senador Jarbas Vasconcelos, Aristeu Plácido também relembra com alegria a forma em que Mendonção tratava as pessoas, em especial as mais próximas, e sublinha a falta que a baraúna faz à política pernambucana.
Falecido em abril de 2011, Mendonção não conseguiu realizar seu sonho, que era ser prefeito de Belo Jardim em 2012, mas sua trajetória ficou marcada na política pernambucana como um dos grandes personagens da nossa história. A baraúna deixou frutos, o filho Mendonça Filho, que teve exitosa passagem pelo ministério da Educação, considerado por muitos um dos melhores que passaram pela pasta, o genro Augusto Coutinho, que virou seu sexto filho, e assim como o sogro, um grande construtor de pontes na política pernambucana e o seu neto Rodrigo Coutinho que está no seu primeiro mandato como vereador do Recife e assim como o avô e o pai, também é muito querido pelos seus pares.