O mercado de luxo parece não sentir os efeitos da crise que afetou todos os setores e classes sociais. Mas a diferença do impacto da recessão neste nicho nacionalmente é que ela está amadurecendo o conceito de luxo dos brasileiros. No país, este mercado cresce cada vez mais. Segundo pesquisa da FGV – EAESP, entre 2013 e 2017, período em que a crise econômica se agrava, o segmento deve crescer até 25% no Brasil. E, em Pernambuco, a demanda é crescente.
Em um passado não muito distante, a acumulação de bens era um desejo, ou seja, ter dois relógios era melhor do que ter um. A ostentação era quase regra. Atualmente, o luxo está mais voltado para viver experiências exclusivas e não apenas ter produtos assinados. E foi nesta linha de raciocínio, que, com mais de 45 anos no mercado pernambucano, a imobiliária Paulo Miranda resolveu inaugurar um braço voltado para o mercado de luxo, a Paulo Miranda Exclusive.
Para o diretor da empresa, José Maria Miranda, o fator decisivo para a escolha se baseou na identificação de clientes diferenciados para os quais o mercado não estava preparado. “Percebemos que clientes especiais estavam sendo atendidos como ‘mais um’ na maioria das imobiliárias ou estavam lidando com profissionais autônomos sem boas referências. Este cliente precisa ser ouvido, melhor compreendido. Para nós, ele não é mais um número numa planilha e sim um cliente em potencial para fidelizarmos”, destacou.
José Maria revela que a linha Exclusive focou na iniciativa de especializar e treinar profissionais, para estarem aptos a atender um segmento bem diversificado dentro do próprio nicho de mercado de luxo. “Preparamos nossos profissionais para prestigiar o cliente que procura desde um imóvel na praia a um imóvel de 3 quartos em bairros nobres, bem como apartamentos e casas no valor de R$ 6 milhões. Aqueles que procuram exclusividades dentro das oportunidades”, pontua.
O empresário também ressalta a importância de um tratamento personalizado para um público seleto. “Os nossos corretores falam a mesma linguagem desse cliente, onde o mesmo se sente muito mais confortável em fechar um negócio. Assim como os bancos, percebemos que os clientes precisavam de um espaço exclusivo para eles e com uma série de regalias e serviços que não acontecem com tanta frequência no varejo”, pontua.
Com nova marca, escritório e equipe, o negócio acabou de ser iniciado e já conta com projetos em curso. Para se ter ideia da demanda, o projeto ainda está no formato soft open mas já conta com pelo menos 40 clientes em busca de imóvel na Avenida Boa Viagem., especificamente neste trecho do metro quadrado mais valorizado da Zona Sul do Recife. Não é um produto fácil de encontrar.
Para o mercado de luxo, José Maria Miranda destaca que o atendimento precisa ser direcionado, presencial, humanizado. “Com relação ao produto, o desejo é por algo confortável, com uma riqueza no acabamento, nos detalhes. No caso dos imóveis pernambucanos, outra preocupação é com relação à segurança. Quanto mais itens de proteção o imóvel possua, mais pontos na lista de pontos favoráveis”, revela.
Ele também disse que outro grande desafio do mercado imobiliário é o tempo de negociação. “O cliente de luxo não tem pressa. Muito provavelmente esse não será o primeiro imóvel. O que ele busca é o upgrade”, justifica o empresário que ainda diz que, por isso, essas são negociações que levam mais de seis meses. Às vezes um ano. Mas, no fim, justificam todo o tempo gasto. E, se o atendimento for personalizado, a probabilidade de retorno é enorme.
Construtoras enxergam oportunidade no luxo
A Haut Incorporadora Design é uma das empresas que apostam em práticas diferentes dentro do nicho de mercado de luxo. O fundador da empresa Thiago Monteiro se associou à maior operadora de hotel lifestyle, de acordo com a Revista Forbes, a colombiana Click Clack, que dará o mesmo nome ao empreendimento a ser lançado, em breve, no Recife. Será a primeira operação no Brasil e as obras devem iniciar no primeiro semestre de 2018. E como detentor exclusivo da marca no país, o empresário pretende, também a curto prazo, inaugurar outro hotel da rede em São Paulo.
Com o intuito de aplicar o propósito da construtora chamado de “gentileza urbana”, a fachada do local, na capital pernambucana, será formada por um paredão verde de 11 metros de altura composto por vegetação que se estenderá ao longo de uma área de 700 metros quadrados, contornando o hotel.
“Para viabilizar um projeto que garantisse uma forte relação do edifício com a cidade, optamos por liberar todo o térreo para o espaço público, deslocando o embarque / desembarque de veículos e a recepção para o subsolo, protegidos do ruído, da poeira e da insolação”, explica o sócio fundador da HAUT Thiago Monteiro. O prédio terá 18 pavimentos, com 90 apartamentos e operações de padrão internacional no restaurante de rua e no rooftop. O investimento será de R$ 18,6 milhões.
Com outro projeto já lançado e que fica na Zona Norte do Recife, Thiago Monteiro aponta os diferenciais do mercado de luxo. “O empreendimento fica em Casa Forte e terá o diferencial de que o cliente poderá montar sua própria residência”, frisa. Com apartamentos que variam entre 240 m2 e 510 m2, cada planta será feita de acordo com o gosto do cliente. “O interessado vai passar para a Haut como ele quer o local. Por exemplo, um comprador adquiriu um de mais de 300 metros quadrados e optou por colocar apenas dois quartos”, esclarece Thiago.
Essa modalidade destaca a exclusividade da empresa que também acontece na preservação do espaço público. Ele enquadrou o projeto também no conceito de “gentileza urbana”, uma vez que a fachada do local será formada por um paredão ao redor de toda construção, como explica o próprio diretor. “Preservamos 70% do solo livre, integrado com a rua, reforçando o conceito de uma paisagem urbana mais agradável. Temos o intuito de estimular outras empresas a fazerem isso”, conclui.
O prédio se chamará Burle Max. Serão 12 pavimentos e apenas 9 apartamentos. Porém, os oito primeiros andares serão compostos de duplex, enquanto a cobertura será um triplex. “O terreno é inserido em um polígono de tombamento de Burle Marx, próximo à Praça de Casa Forte, e a ideia foi homenagear o trabalho dele”, explica o empresário que também é arquiteto.