Por Arthur Virgílio*
Lisboa – O professor Maurício Dias David enviou-me excelente trabalho sobre o boom internacional das commodities. Que explica, aliás, parte do “êxito” econômico do governo Lula, que prossegue na gestão Dilma Rousseff. Digo parte, porque tal “êxito” também se deve ao país reformado e modernizado que Fernando Henrique legou ao sucessor.
Em 2002, o café se cotava a US$964 a tonelada. Em 2011, foi a US$4.463, com a previsão para este exercício ficando em US$4.600. A soja, que em 2001 era vendida a US$173 a tonelada, atingiu US$495 no ano passado. O açúcar saiu de US$197 em 2001 para US$573 em 2011, devendo seguir para US$530 em 2012.
A tonelada da carne bovina estava em US$2006, em 2001, subindo para US$5.077 dez anos após, podendo ficar em US$5.000 em 2012. O minério de ferro pulou de US18 em 2001 para, vejam só!, US$126 no ano recém-findo.
Foi de fato uma explosão, capaz de garantir popularidade até mesmo a gestores incompetentes. A receita de exportação do café saltou de US$1,2 bilhão para US$8 bilhões, entre 2001 e 2011. A da soja ascendeu de US$2,7 bilhões em 2001, para US$16,3 bilhões em 2011. A do açúcar e do açúcar refinado foi de meros US$2,7 bilhões em 2001, para US$5,8 bilhões no ano que passou. A do minério de ferro, voou de apenas US$2,9 bilhões em 2001, para US$41,8 bilhões em 2011: 14 vezes mais.
O “milagre” é a fome chinesa por commodities que, se minguar, acarretará sérios problemas para nossa economia de perfil basicamente agroexportador. Continuamos, tanto quanto em 1985, representando apenas 1,4% das exportações mundiais. Somos o 22º do mundo em exportação.
Olhemos agora o futuro: a maior parte da exportação da Índia é de produtos industrializados. Conosco, à exceção honrosa de uma notável Embraer, mantemos, repito, o perfil agroexportador de sempre. Poderíamos ter mudado de patamar, nos anos da bonança, mas perdemos o trem lamentavelmente.
Em 1970, a China era o 29º exportador.; passou para o primeiro lugar. A pequena Coréia (do Sul, claro) era o 49º; agora é o sexto. Na comparação com essas economias, o Brasil ficou marcando passo, com a nuance de a propaganda lulista ter alimentado em largos setores da população a ideia de que sua “política econômica” havia gerado um fogoso tigre.
Essa mistificação não é “privilégio” do governo brasileiro. Na Argentina, país que igualmente se beneficiou por esse boom das commodities, há quem acredite que o populista Nestor Kirchner teria sabido mexer com competência as cordinhas da economia.
Entre nós, Dilma se elegeu Presidente, sem nunca ter sido candidata a nenhum cargo eletivo anteriormente, porque a maioria dos eleitores embarcou no conto da competência de Lula, sua equipe econômica e sua “gerentona” de obras inconclusas ou superfaturadas.
Está mais que na hora de sairmos do “berço esplêndido”.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado, colaborador do Blog de Edmar Lyra.