Todo ano é a mesma ladainha. As pessoas gostam de ficar alimentando uma rixa entre Pernambuco e a Bahia, e um dos grandes combustíveis dessa rixa se chama o carnaval.
Os pernambucanos vivem alardeando que o carnaval daqui é melhor que o carnaval de lá. Que o daqui é democrático, o de lá segregacionista. E por aí vai.
O combustível do ódio contra o carnaval da Bahia foi iniciado quando proibiram eventos com música baiana em Recife. Vide semana-pré, Bloco da Parceria, Recifolia, dentre outros.
No carnaval não se pode tocar axé da Bahia em Pernambuco, mas pode tocar o rock do Rio de Janeiro de Lulu Santos por exemplo.
Os trios elétricos, invenção de uma parceria de um baiano com um pernambucano, só podem circular pelo Galo da Madrugada. Em outros lugares é proibido.
Falam que na Bahia há o segregacionismo. Já fui duas vezes pra Salvador, saí em bloco e saí na pipoca. Nunca me senti humilhado nem desmerecido por isso. Afinal, alguém tem que pagar a conta para todos se divertirem. Garanto que se o cidadão não tiver dinheiro para sair nos blocos, se diverte do mesmo jeito fora da corda. Porque não é todo dia que artistas que cobram cachê de mais de R$ 300 mil estão disponíveis e de graça para o grande público.
O carnaval daqui, por falta de apoio institucional e até mesmo por comodismo dos artistas, não é composto por artistas que cobram R$ 300 mil de cachê. Porque os artistas não estão nem aí para inovarem, criarem novas músicas, estourarem nas rádios. Se preocupam apenas com a boquinha institucional que a prefeitura do Recife e o governo de Pernambuco dão. Pra quê lançar músicas novas? Pra quê se preocupar em emplacar novos hits pro Brasil? Se todo ano a boquinha do governo vai estar lá firme e forte.
Não bastasse essa conversa fiada de artistas e autoridades, ainda há uma clara segregação em Pernambuco, tão forte quanto a que propagam que existe na Bahia. Trata-se dos camarotes pagos com dinheiro público no Galo da Madrugada e no Recife Antigo. Não bastasse isso, ainda temos os cercadinhos na frente dos palcos que não são comercializados, mas só entram os ligadíssimos aos mandatários da prefeitura do Recife.
Aqui em Pernambuco, o povo paga e a elite se diverte dentro dos camarotes regados a whisky importado, melhor buffet da cidade, etc.
Está mais do que na hora de acabar com essa hipocrisia pernambucana. O carnaval daqui é tão segregacionista quanto o baiano. A diferença é que um fica na Bahia e o outro fica em Pernambuco. No mais, é tudo igual!