Uma terça-feira, que parecia ser mais uma terça-feira, dia simples, sem tantas expectativas, sem muitas esperanças, sem maiores problemas. Terça-feira, dez de setembro de 2013. Foi na terça-feira que Washington Marques da Silva anunciou uma decisão bombástica que até hoje ainda não foi digerida por este que vos escreve.
Washington Marques da Silva, para os que não conhecem por este nome, é Bell Marques, vocalista do Chiclete com Banana. Banda que há 33 anos faz sucesso por todo o Brasil. Foram 27 discos, dois DVDs, caminhando pro terceiro que já foi gravado em Salvador e Fortaleza, e muitos e muitos admiradores desta lenda urbana chamada Chiclete com Banana.
O Chiclete com Banana influenciou gerações, da criança ao idoso não há como ficar parado quando o Chiclete passa. Duvido você não sentir um pingo de emoção quanto passa aquele caminhão pelas ruas e avenidas da Bahia e dos quatro cantos do Brasil.
É natural que existam críticas a esta banda. Respeito todos que não entendem o que é ser Chicleteiro. Não vamos mudar a mentalidade de ninguém, mesmo justificando as inúmeras músicas do Chiclete com Banana que não se restringem apenas àquelas de refrão fácil e letras repetitivas, como já ouvi por parte de alguns que desconhecem a história da banda.
Aprendi a gostar do Chiclete com Banana ainda quando criança, de lá pra cá foram inúmeros shows em Recife, Natal, João Pessoa, Caruaru, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Bonito, Tamandaré e muitas e muitas cidades, além da maior delas e do maior evento de todos, Salvador e o seu carnaval.
Bell Marques é um patrimônio brasileiro, rompeu as fronteiras da Bahia e do Nordeste, conquistando cariocas, paulistas, catarinenses, mineiros, pernambucanos, gaúchos, candangos e muitos e muitos brasileiros.
A música do Chiclete é diferente, a mistura de Chiclete com Banana sacode Recife e balança Copacabana. É nessa mistura de ritmos, respeitando o forró, o rock, o baião, a MPB, que o Chiclete se tornou essa referência para muita gente.
Eles foram profissionais ao extremo. Não só Bell Marques que é a pessoa que quase todos se referem quando ouvem falar do Chiclete com Banana. Wado Marques e Wilson Marques, seus irmãos, têm papel fundamental nisso tudo, assim como Deny, Lelo Lobão, Walmar Paim, Rey Gramacho, Walter Cruz e os que já não fazem mais parte da banda Missinho e Cacik Jonny.
Você fazer 130 shows por ano não é para qualquer um. É o sonho de qualquer artista chegar num palco ou num trio elétrico e ver 50 mil, 100 mil, 500 mil, 1 milhão, 2 milhões de pessoas te esperando cantar. Nunca senti isso, afinal não sou cantor, mas Bell Marques e os demais integrantes da banda com certeza sabem o que significa.
A saída de Bell Marques do Chiclete com Banana é algo muito mais emblemático do que se possa imaginar. Não vou me ater a esses detalhes idiotas de bastidores porque em nada ajudam, pouco acrescentam e só machucam quem faz o Chiclete e quem gosta do Chiclete.
Não vou pedir a Bell Marques para rever sua decisão, que me parece irrevogável. Apenas direi o quanto ele e os demais são importantes para mim. E tenho certeza que iguais a mim existem milhares, que tinham medo desse dia acontecer, e mesmo sabendo que um dia ele aconteceria não imaginaria que seria no dia 10 de setembro de 2013, cinco dias depois do aniversário de 61 anos de Bell Marques. Numa terça-feira, idêntico ao dia que termina o carnaval de Salvador no Camaleão.
Por sorte, a decisão de Bell não é um adeus, e sim um novo jeito de caminhar. A mudança é sempre difícil de aceitar, todos nós temos medo do incerto e do inseguro. Imagina quem gosta de algo tão importante pra gente?
Alguns dirão que acompanhar uma banda e gostar das músicas dela parece ser futilidade. Que seja, mas precisamos de certas futilidades para viver. Quem nunca provou e gostou de uma futilidade que atire a primeira pedra.
O que posso dizer é que, como chicleteiro, fui feliz e vivenciei momentos incríveis que poucas coisas já me trouxeram. Ser chicleteiro é algo transcendental. Tem gente que é roqueiro, tem outros que são flamenguistas, alguns corintianos, sim, comparo o Chiclete a uma torcida. Somos torcedores do primeiro acorde da guitarra de Bell, do ronco do Rex, da qualidade do som gerida por Wilson, na expectativa da fala de Wadinho: “Chicleteiros do Brasil, bem-vindos ao mundo mágico do Chiclete com Banana onde toda alegria será permitida, vamos fazer dessa noite mais uma noite inesquecível, com a energia de vocês, com a alegria de vocês e o som do Chiclete com Banana.” Quem nunca quis advinhar a próxima música que Bell Marques iria cantar? Quem nunca pediu Broto, Quiribamba, Aririô, Savassi, Selva Branca, Sorria, e muitas outras relíquias do Chiclete com Banana?
“Foi tudo tão intenso, tão maravilhoso, cada segundo e a vida nos revela a cada dia uma nova cena do outro mundo, se chega, me beija, me olha nos olhos e me diz então: valeu, foi bom, adeus!”
“Vem, o amor é um vício que a vida tem, onde nasce e se rompe no choro de alguém, sem eco no fundo desse amor, olhe o que eu sou pra você, oh meu bem, só me dê alegrias pra eu viver, meu amor, meu amor, não me deixe sozinho, pois a vida é uma só, nossa vida é uma só…”
“Choro, mas deixo um sorriso no ar, nada pode me assustar, donos do mundo querem sangrar a beleza de amar…”
“Viver, cantar, olhar a estrela, parece até que é brincadeira, viver, cantar, brincar de roda, imaginar poder voar…”
“Jogue a vida arrisque tudo e curta esse amor, se livre dessa cara amarrada e saia como entrou…”
“Então diga que valeu, o nosso amor valeu demais, foi lindo, ficou pra trás…”
“Sempre me lembro de você, com esse jeito tão estranho, no segredo desse amor, seja ele como for, amar você não dói, um pedaço de você alucina o meu juízo, você é meu paraíso, é só sonhar…”
“Pode ser mais um capricho, pode ser uma paixão, pode ser coisa do bicho, pode até ser ilusão…”
As músicas já faltam, mas esses oito trechos fazem a gente refletir o que é o Chiclete com Banana, que é amor, é paixão, é respeito, é admiração, é carinho, é viver, é chorar, é sorrir, enfim, é acreditar na vida sempre.
Que o Chiclete com Banana seja eterno enquanto dure. Vida longa a Bell Marques. Obrigado por tudo!
Não vou dizer um #FicaBell porque você nunca foi embora. O que posso dizer é #ObrigadoBell e #EstamosJuntos.