Nascido em 10 de setembro de 1899 em Vitória de Santo Antão, João Cleofas de Oliveira iniciou sua vida acadêmica na Escola Livre de Engenharia de Pernambuco, única opção que existia na época ao curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, transferindo-se para a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, vindo a se graduar em 1920. Nesta época o Rio de Janeiro era o Distrito Federal e a capital do país.
De volta a Pernambuco, apoiado pelo então presidente de Pernambuco, José Bezerra Cavalcanti, foi candidato a prefeito da sua cidade natal, Vitória de Santo Antão. Elegendo-se, ficou no cargo de maio de 1922 a novembro de 1925. Como prefeito, viabilizou a eletrificação da cidade e o abastecimento de água.
Após deixar a prefeitura foi eleito para o seu primeiro mandato de deputado estadual, e no exercício do cargo foi responsável pela elaboração do projeto que regulamentou a profissão de engenheiro no estado, sendo a primeira regulamentação da profissão no país.
Aliado de Manuel Borba e José Cavalcanti, João Cleofas se afastou da política com a chegada do novo presidente de Pernambuco, Estácio Coimbra, por ter divergência com o chefe do estado de Pernambuco. Apesar de não ter mais mandato eletivo, atuou diretamente na revolução de 1930 que levaria Carlos de Lima Cavalcanti ao cargo de interventor de Pernambuco em janeiro de 1931.
Com a ascensão de Carlos de Lima Cavalcanti ao comando do estado, João Cleofas é nomeado secretário de Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas de Pernambuco. Como secretário construiu o tronco rodoviário que liga o Recife ao interior do estado, atualmente é a BR-316, e transferiu o comando do Porto do Recife para o governo de Pernambuco.
Ainda como secretário, João Cleofas criou a Comissão de Melhoramentos Municipais, responsável pela coordenação de investimentos nos municípios e implantar a perfuração de poços e açudes. Em apoio à atividade agrícola criou a Diretoria da Agricultura, o Serviço de Fruticultura e contribuiu efetivamente com os produtores de cana-de-açúcar, algodão e mamona, instalando as três primeiras estações de cultivo do algodão de fibra longa no estado.
Em junho de 1934, Cleofas deixou o cargo de secretário por apoiar uma proposta que pleiteava a inelegibilidade dos interventores para os governos estaduais, que acabara sendo derrotada. Por conta disso, João Cleofas rompeu com Carlos de Lima Cavalcanti, que pretendia continuar no cargo. Rompido com o antigo aliado, Cleofas se articula com um grupo chamado Dissidência Pernambucana e se elege deputado federal. Nas eleições de 1935, de forma indireta, o grupo apoiou João Alberto Lins de Barros contra Carlos de Lima Cavalcanti, que acabou eleito pela Assembleia Legislativa de Pernambuco.
Já como deputado federal, João Cleofas atua na Comissão de Investigação Econômica e Social e integrou a minoria na Câmara, liderada pelos deputados João Neves da Fontoura e Otávio Mangabeira. Apesar de ser oposição, acabou apoiando a candidatura de José Américo de Almeida, apoiada pelo então presidente Getúlio Vargas.
Com a implantação do Estado Novo, o Congresso foi fechado e João Cleofas decidiu dedicar-se ao seu engenho em Vitória de Santo Antão e em 1944 ampliou seus negócios adquirindo uma usina de açúcar. Já no fim do Estado Novo e o processo de abertura democrática participou da criação da União Democrática Nacional (UDN). O grupo apoiou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República, mas o general Eurico Gaspar Dutra foi apoiado por Getúlio Vargas e acabou vitorioso naquele pleito de 1945.
No mesmo ano, Cleofas se elege novamente deputado federal, desta vez pela UDN, representando Pernambuco na Assembleia Nacional Constituinte em 1946, sendo signatário de duas moções, uma de repúdio ao Estado Novo e outra exaltando as Forças Armadas pela deposição de Getúlio Vargas. Dentre suas proposições como deputado, uma delas foi a que garantiu amparo aos produtores de álcool no país.
Nas eleições de 1950 decide tentar pela primeira vez o governo de Pernambuco e enfrenta Agamenon Magalhães, neste pleito Cleofas recebe o apoio de Vargas, mas ao final da disputa, acaba derrotado por Agamenon. Curiosamente neste pleito ele também disputa o mandato de deputado federal e acaba eleito, porém com a vitória de Getúlio Vargas, Cleofas é nomeado ministro da Agricultura.
Investido na condição de ministro da Agricultura, João Cleofas realiza uma série de ações, dentre elas a criação da Comissão Nacional de Política Agrária (CNPA) que estabeleceu diretrizes para a reforma agrária no país. A partir da CNPA criou-se a Lei de Acesso à Terra Própria, a Lei Geral de Imigração e a Lei de Parcelamento Rural. Porém com as denúncias de Carlos Lacerda de que a política agrária era um mecanismo de continuísmo de Vargas através da reivindicação de poderes excepcionais, os projetos não avançaram.
Ainda no ministério, Cleofas possibilitou a ampliação do crédito rural com a criação do Banco Nacional do Crédito Cooperativo, com isso o financiamento em investimentos rurais foram facilitados e consequentemente melhorando a situação no país. Ele tornou efetivo o decreto que criou a Confederação Rural Brasileira, entidade de classe que defendia os produtores rurais, em 1964, ela seria transformada em Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que existe até hoje.
Cleofas também criou o Instituto Brasileiro do Café (IBC) em 1952, em 1953 assinou a Lei que instituiu o monopólio estatal do petróleo, que no ano seguinte resultaria na criação da Petrobras, e criou o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC), responsável por revitalizar os núcleos de colonização no país. Ainda promoveu a produção de trigo através das cooperativas, criou instituições de ensino de práticas agrícolas e a instalação de uma rede nacional de silos e armazéns.
Ao deixar o ministério da Agricultura, João Cleofas volta ao cargo de deputado federal e começa a costurar sua candidatura a governador de Pernambuco pela UDN. Nesta eleição, enfrentaria o general Osvaldo Cordeiro de Farias, candidato do PSD. Apesar de ter vencido no Recife, a força do PSD no interior seria determinante para a vitória de Cordeiro de Farias e João Cleofas amargaria sua segunda derrota para o governo de Pernambuco em 1954.
Nas eleições presidenciais de 1955, o pernambucano Etelvino Lins teve seu nome homologado pela UDN para disputar a presidência da República, porém João Cleofas atuou no sentido de inviabilizar o projeto do conterrâneo com denúncias de que Etelvino permitia diversas modalidades de jogo no estado para fins eleitorais, o que culminou na desistência de sua candidatura e o partido apoiou Juarez Távora, candidato do PDC, contra Juscelino Kubitschek, do PSD, que seria vitorioso naquele pleito.
Como presidente da UDN em Pernambuco, João Cleofas articulou o apoio a Cid Sampaio através da Frente do Recife. Cid enfrentou o candidato do então governador Cordeiro de Farias, já combalido pela adoção de uma política fiscal e o aumento da violência policial no estado. Cordeiro apoiaria Jarbas Maranhão. Cid, que era presidente do Centro de Indústrias de Pernambuco, acabou vitorioso naquele pleito de 1958. João Cleofas, por sua vez, seria eleito deputado federal.
Nas eleições de 1962, João Cleofas articulou-se para ser novamente candidato a governador, seria sua terceira tentativa ao Palácio do Campo das Princesas. Desta vez seria candidato pelo Partido Republicano, contando com o apoio da UDN e do então governador Cid Sampaio. Neste mesmo pleito seriam candidatos Miguel Arraes, candidato do PST, apoiado pelo PTB e pela dissidência do PSD liderada pelo deputado Paulo Guerra e Armando Monteiro Filho, do PRT, que havia sido ministro da Agricultura no gabinete do primeiro-ministro Tancredo Neves.
A eleição foi bastante acirrada entre Miguel Arraes e João Cleofas, enquanto Armando Monteiro Filho constituiu uma terceira via que não se viabilizou, com a abertura das urnas, uma diferença pequena de votos em favor de Miguel Arraes. Nas eleições suplementares de 1965, João Cleofas elege-se novamente deputado federal, e passa dar sustentação ao regime instituído em 1964.
Nas eleições de 1966, com a adoção do bipartidarismo, é candidato pela Aliança Renovadora Nacional para o Senado Federal e derrota Armando Monteiro Filho, candidato do MDB. Eleito em 1966, Cleofas toma posse em 1967 mas é surpreendido com o AI-5 que institui o fechamento do Congresso Nacional pelo presidente Costa e Silva.
Em 1970 já com a reabertura do Congresso Nacional, em março daquele ano, Cleofas é eleito presidente do Senado Federal, ficando no cargo por um ano, mas sua atuação foi ofuscada pelas limitações impostas pelo regime militar. Nas eleições de 1974 é novamente candidato ao Senado Federal, mas acaba derrotado por Marcos Freire, candidato do MDB.
Já sem mandato, nas eleições indiretas de 1975, Cleofas defende a candidatura de Marco Maciel ao governo de Pernambuco, porém acabou José Francisco de Moura Cavalcanti sendo o escolhido para o posto. Cleofas então decide abandonar a política e passa a morar na cidade de Campos, no Rio de Janeiro, em uma fazenda de sua propriedade.
Em 17 de setembro de 1987, veio a óbito dias aos 88 anos de idade. Apesar de ter ficado marcado pelas três derrotas para o governo de Pernambuco, 1950, 1954 e 1962, e pela derrota para o Senado Federal em 1974, João Cleofas construiu páginas importantes na história de Pernambuco como prefeito de Vitória de Santo Antão, deputado estadual, federal, ministro da Agricultura, senador da República e presidente do Senado Federal, sendo um dos mais relevantes homens públicos de Pernambuco e do Brasil.