O papel da comunicação pública junto à sociedade civil foi tema do III Seminário Comunicação Legislativa e Cidadania, organizado pela Assembleia Legislativa de Pernambuco na sexta-feira (18). O evento é direcionado a profissionais da área, estudantes, pesquisadores e demais interessados. O encontro aconteceu no auditório da Alepe, localizado no Edifício Governador Miguel Arraes de Alencar.
O encontro promoveu três mesas de debate. A primeira delas recebeu o apresentador da TV Brasil e ex-ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Laurindo Leal Filho, que refletiu sobre o que chamou de “destruição” da estatal de comunicação, considerada a principal experiência nacional do setor.
Leal Filho considerou que a emissora perdeu o “caráter público”, ao ver extintos mecanismos institucionais de participação popular, como seu conselho curador – que pretendia garantir espaço para que cidadãos influenciassem o conteúdo do canal. “Sem o oxigênio da sociedade, perde-se a característica fundamental da comunicação pública. O que restou do desmanche, depois do afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, foi uma televisão estatal nos velhos moldes”, lamentou.
O pesquisador analisou que, assim como existem demandas da população por transporte ou por escolas, há demandas sociais simbólicas ”que não são supridas pela mídia comercial e que, na medida do possível, devem ser atendidas pela comunicação pública”. Para Leal Filho, as televisões públicas precisam aprender com as experiências negativas para evitar novos recuos. “A comunicação pública voltará a prosperar, porque a democracia ainda vai voltar ao nosso País”, disse.
O presidente da Empresa Pernambuco de Comunicação (EPC), Gustavo Almeida, e a jornalista da Câmara dos Deputados Cláudia Lemos também compuseram a mesa.
Lemos evidenciou as disputas que cruzam o campo da comunicação pública, com enfoque na produção dos veículos institucionais do Poder Legislativo. Para a especialista, os interesses, vindos de diferentes setores, de oferecer transparência às instituições, de melhorar a imagem dos agentes políticos e de fomentar a participação popular podem eventualmente resultar em conflitos. “São embates muito ricos, mas muito difíceis”, avaliou. “Os veículos ou assessorias de órgãos públicos sempre terão uma dimensão democrática e outra política. É inevitável”.
Debate – A segunda mesa de debates abordou o jornalismo do futuro. A editora-executiva do Jornal do Commercio, Maria Luiza Borges, falou sobre a adaptação das empresas tradicionais de mídia à era digital. Na opinião dela, as plataformas online demandam novos formatos de conteúdo. O representante do grupo Jornalistas Livres, Rodrigo Pires, observou que ainda se desconhece o melhor formato para a internet, e que o cenário é de descoberta.
A chamada mídia ambiente foi apresentada pelo consultor de tendências do Porto Digital, Jacques Barcia, que explicou o conceito. “A gente passa por um novo paradigma em que coisas, objetos, entre aspas, ‘inanimados’, também são produtores e receptores de mídia”, disse.
A comunicação comunitária esteve em foco na terceira e última mesa do Seminário. Coordenadora da Rádio Alternativa FM, de Nazaré da Mata, na Mata Norte, Eliane Rodrigues destacou como desafios a falta de recursos e a pressão política. Eduardo Amorim, da organização Coletivo Intervozes, lamentou que temas ligados a segmentos minoritários da sociedade sejam pouco evidenciados pela mídia. A representante do Centro das Mulheres do Cabo, Manina Aguiar, enfatizou que a comunicação pode contribuir, de forma concreta, para a ocupação dos espaços de poder pela mulher.
O participante do movimento comunitário Caranguejo Uçá, Edson Fly, chamou a atenção para a comunicação que se expressa por meio do teatro, da música e da literatura populares.
Comunicação – O Seminário Comunicação Legislativa e Cidadania, que chega à terceira edição, propõe reflexões sobre a comunicação social produzida no setor público. O evento é realizado pela Superintendência de Comunicação da Alepe, e conta com apoio do Sindicato dos Servidores no Poder Legislativo de Pernambuco (Sindilegis-PE).
Além de atualizar profissionais e interessados sobre o panorama da comunicação pública e legislativa, o seminário contribui para a reformulação dos produtos de comunicação social da Alepe. Atualmente, o setor conta com agência de rádio, site de notícias especiais, cobertura diária, jornal mensal, Diario Oficial e redes sociais. O material produzido é público e pode ser utilizado gratuitamente, desde que seja dado o crédito.
Em junho, a Alepe assinou um Acordo de Cooperação Técnica com a Empresa Pernambucana de Comunicação (EPC) que prevê a retransmissão da TV Pernambuco pelo canal digital da TV Alepe (28.2, na Região Metropolitana). Em contrapartida, a grade da TVPE incluirá uma hora por dia, de segunda a sexta, de programação do Poder Legislativo em toda a rede da emissora no Estado.
A superintendente de Comunicação da Alepe, Margot Dourado, fez um balanço do evento. “Acho importante o Seminário porque mantém esse laço de diálogo com vários segmentos da sociedade. A gente teve professores, acadêmicos, profissionais da grande imprensa, representantes das associações e das comunidades”. Margot ainda acrescentou que a realização do Seminário reflete o compromisso da Alepe com a comunicação social.
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