Em discurso proferido na tarde desta terça-feira (18.06) na Assembleia Legislativa, o deputado Álvaro Porto (PTB) afirmou que uma chapa majoritária que eventualmente reúna o deputado federal Jarbas Vasconcelos (MDB) e o senador Humberto Costa (PT) será a junção da contradição com a incoerência. Adversários de longa data em Pernambuco e protagonistas de ácidos embates, os dois são cotados para compor a chapa de reeleição do governador Paulo Câmara, que é do PSB, partido que tem fustigado o PT estadual e com quem Jarbas travou duelos truculentos.
Para Porto, as afirmações de Jarbas de que não vê dificuldade em pedir votos para Humberto Costa e que tem respeito e admiração pelo ex-presidente Lula são de um oportunismo espantoso. “Para quem, assim como eu, acreditou e votou em Jarbas todas as vezes que ele disputou o governo do estado, acompanhar os lances dessa arrumação é ver que as conveniências são mais fortes que convicções e opiniões defendidas ao longo de toda uma vida”, disse. “Na eleição de 2010, quando Eduardo Campos foi reeleito governador, garantimos em Canhotinho a única vitória de Jarbas em todo o estado. Asseguramos também votação expressiva aos dois senadores da chapa de oposição”, completou.
De acordo com o deputado, após se acompanhar a adesão de Jarbas ao grupo de Eduardo e de ver como ele tem se posicionado agora, pode se concluir que a coerência política não tem resistido às contas eleitoreiras. “Há que se destacar que Jarbas foi crítico ferrenho, adversário e desafeto de Eduardo Campos. Para quem não se lembra, Jarbas definia o socialista como autor de práticas coronelistas. Dizia até mesmo que o coronelismo de Eduardo não tinha limites e superava o coronelismo do ex-governador Miguel Arraes, a quem também atacou após rompimento nos anos 90”, disse.
Na avaliação do petebista, os eleitores veem, estarrecidos, Jarbas demonstrar simpatia por petistas, depois de ter se consolidado e sobressaído como oponente e crítico contumaz do PT, da ex-presidente Dilma Rousseff e de Lula. “Jarbas, está escrito em jornais e blogs, classificou o PT de uma quadrilha comandada por Lula e adjetivou Humberto de recalcado, petulante, cínico, sem integridade, perdedor nato e maior perdedor de Pernambuco. Em entrevistas, Jarbas disse que o ex-presidente se achava Deus, que agia com soberba, que usava e abusava da popularidade, que demonstrava sua pequenez como presidente. E que, após oito anos de governo, o seu legado como gestor era um zero à esquerda”. O deputado lembrou ainda que o emedebista foi partidário do impeachment e defensor, em discursos inclusive, da prisão de Lula.
“Em 2015, Jarbas chegou a afirmar que seria uma cena bonita ver Lula preso”, afirmou.
Em contrapartida, observou Porto, os petistas, também formularam uma extensa lista de ataques ao deputado do MDB ao longo de disputas eleitorais. Lembrou que em 2010, Humberto Costa acusou Jarbas de ser “useiro e vezeiro em tentar desmoralizar as pessoas, procurando ganhar eleições por meio da agressão e mentira, só se construindo na política pela destruição dos outros”. “Em 2012, na campanha municipal no Recife, Humberto, então candidato a prefeito, declarou que a aliança dos socialistas feita com o então senador Jarbas naquela época, era um escárnio”, disse.
O petebista ressaltou que no processo de afundamento do PT os socialistas passaram a desconhecer até mesmo o legado de Lula a Pernambuco. Frisou ainda que o PSB se mobilizou pelo impeachment, orientando os deputados federais a votar contra a ex-presidente. “Em dezembro de 2017, em Brasília, o próprio Humberto recordou que o PSB foi padrinho da derrubada de Dilma. Em discurso, destacou que, sendo defensor de primeira hora do golpe, o PSB de Pernambuco quer se desvincular de Temer, mesmo tendo indicado um ministro para compor o governo usurpador”, disse. Porto destacou ainda que, na época, o senador declarou que os socialistas deveriam assumir suas escolhas. “Inclusive, que quem pariu Mateus que o embalasse”, salientou.
DENÚNCIAS NA JUSTIÇA – Ainda no discurso, o deputado petebista afirmou que, se não bastassem as sequelas da deslealdade do PSB ao PT, a Dilma e a Lula; da cortante oposição de Jarbas ao petismo e ao ex-presidente; e dos históricos embates entre Jarbas e socialistas, a aliança palaciana tem o fantasma de denúncias de corrupção sobre si. “Os postulantes ventilados para a majoritária palaciana têm seus nomes citados em denúncias relacionadas à corrupção. As gestões socialistas têm sido alvo de Operações da Polícia Federal que investigam esquemas de desvios de recursos públicos”, assinalou.
Ele lembrou que o governador Paulo Câmara e o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, por exemplo, já tiveram nomes citados em delações como beneficiários de esquema de repasse de propinas de empreiteiras a dirigentes do PSB. E frisou que, segundo já se veiculou na imprensa, três inquéritos da Lava Jato investigam, em sigilo, o governador e o prefeito no Superior Tribunal de Justiça.
Já no que diz respeito a Jarbas, ressaltou que o emedebista foi investigado sob a acusação de ter recebido R$ 700 mil da Odebrecht, mas teve o seu processo arquivado em 2017 por conta da prescrição compulsória que beneficia parlamentares com mais de 70 anos. Em relação a Humberto, disse que o petista teve o nome citado pelo menos quatro vezes como beneficiário de esquemas de desvio em depoimentos de delatores à Lava-Jato, sendo, inclusive, investigado em inquérito no STF por suspeita de ter se recebido dinheiro da Petrobras na campanha para o Senado de 2010. “O Palácio, como se constata, se articula com um olho no contrassenso e outro na Justiça. Se vingar, a frente que vem sendo articulada na base da incongruência terá a sombra das investigações judiciais pairando sobre seus integrantes”, disse.
Deixe um comentário