Por Arthur Virgílio*
Lisboa – É o ultimo artigo que escrevo desta doce cidade. Foi um ano inteiro de “exílio” e, como era “exílio”, claro que ele me ofertou momentos de angústia, sofrimento, dor.
Afinal, fui arrancado da minha vida, da minha vocação, do meu trabalho pelo Amazonas e pelo Brasil. Senti, ao longo do processo eleitoral, o peso abusivo do poder econômico e das fraudes mais grosseiras, tudo isso bem comprovado pelo Ministério Público Eleitoral e pela Polícia Federal.
Senti na pele, diretamente, um pouco do que padeceu meu pai, Arthur Virgílio Filho, que foi arrancado da tribuna do Senado pela violência do Ato Institucional número 5, o AI-5 da ditadura. Ele não fez concessão nenhuma aos seus algozes. Permaneceu impávido na sua dignidade e no seu compromisso com a democracia, com as liberdades.
Sentirei saudades de Lisboa, de Portugal como um todo, dos colegas tão queridos da embaixada, de cada cidade que visitei, de cada aldeia, da gente simples e brava que experimenta momentos difíceis no econômico e no social. Saudades antecipadas, sobretudo, de Lisboa. Passei a vê-la não com os olhos apressados do turista, mas com a sensação deliciosa de que amanhã, depois e depois, poderia revisitar os sítios que minha alma pedisse.
Portugal haverá de vencer as imensas dificuldades atuais. Sua história determina que seja assim. Terá de praticar dura austeridade, cortar na carne, investir em inovação, preparar-se para ganhar fôlego exportador. Haverá de conquistar a tranquilidade que seu povo exige e merece.
Esta é a civilização que descobriu o caminho marítimo para as Índias, que descobriu o Brasil. E que nos legou dois imperadores sábios, responsáveis pela unidade linguística e territorial do nosso país.
Os portugueses sofreram a dominação romana por três séculos. Diferentemente dos países que giravam em torno da Rússia na antiga União Soviética (apenas 71 anos de domínio russo e todos eles passaram a falar a língua do império), aqui se falou português o tempo inteiro.
Sofreram dominação moura por oito séculos, em parte do seu território. Decerto que incorporaram palavras árabes ao seu vocabulário, como o vice deve ter sido versa, porém nunca abriram mão de falar o seu próprio idioma. O nome disso é bravura, resistência, caráter indomável.
Volto para o meu país e para o meu Amazonas. Isso me deixa com o coração pulsando de muita alegria. Minhas lutas estão lá. Minha história também.
Acrescentei esta experiência aos meus afetos. Mas está na hora de voltar e exercitar a forma que conheço de amar o Brasil, o Amazonas, os brasileiros, os amazonenses: lutando por uma sociedade justa e digna. Produtiva, redistributiva e limpa.
Momentos de dor, sim. De amargura, também. De rancor, jamais. O ódio, dizem pessoas sábias, é como água salgada. Quanto mais se bebe, mais sede se tem.
Ele não cabe no meu coração.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
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