Por Terezinha Nunes
O PT de Pernambuco, que chegou ao posto de grande partido pegando carona na alta popularidade do ex-presidente Lula, ressuscitou no Recife, há quatro anos, a famosa tese do andor em seu mais alto grau quando o então prefeito João Paulo elegeu seu sucessor, João da Costa, usando o slogan “João é João” e empurrando-o de goela abaixo até mesmo de outras lideranças partidárias.
Nada mais arrogante e atrasado para uma cidade de tradições libertárias como o Recife onde, até a instalação do reinado petista, nunca um governador ou prefeito tinha conseguido eleger seu sucessor.
Se foi bem sucedido na empreitada que enfrentou e venceu em 2008, apesar das seqüelas posteriores, o PT imbuiu-se do mesmo propósito de contrariar os costumes vigentes e desafiar a independência do povo do Recife, ao decidir cassar de João da Costa o direito que lhe é garantido por lei de disputar a reeleição.
É princípio basilar da democracia que cabe ao povo julgar seus governantes. Em se tratando de um país como o Brasil, onde existe o direito à reeleição, é o povo que deve, igualmente, decidir se alguém que ficou quatro anos no poder deve continuar ou não a comandar seus destinos por mais um mandato.
Dificilmente um partido político aceita uma derrota antecipada e está claro que o PT cassou o prefeito por entender que, com ele, perderia a eleição,em função do alto índice de rejeição à sua administração.
Mas, onde fica a população neste caso? Vai aceitar, mais uma vez, as decisões do PT, fazer de conta que João Paulo e Humberto nada têm a ver com a administração atual, e, simplesmente, manter o partido no poder municipal ?
Este parece ser – além da continuidade da tese do andor, agora utilizada também pelo PSB – o principal ponto em discussão na campanha eleitoral da capital este ano que acaba de começar.
Além, evidentemente, dos buracos das ruas, do trânsito parado, da falta de saneamento, dos problemas nas áreas de saúde e educação, do baixo crescimento econômico, o PT será instado a explicar toda a enrascada em que se meteu desde que João Paulo impôs João da Costa, com ele se desentendeu por motivos até hoje desconhecidos, e, segundo agora alega o prefeito, boicotou sua administração.
Só Freud, Maquiavel e outros pensadores do mesmo quilate, mortos ou vivos, podem, quem sabe, explicar tanta confusão junta e a aceitação pacífica da sociedade a tamanhos desmandos e descasos.
Há, porém, alguns sinais no fim do túnel. Um exemplo: a mesma sociedade que rejeita a administração de João da Costa demonstrou de forma clara que não aceitou que o prefeito fosse rifado como foi.
Não seria esse um sinal de rejeição aos métodos do PT? É possível que sim e que por aí o partido corra o risco de sepultar o desejo de, pela quarta vez seguida, gerir os destinos do Recife.
Afinal, se até hoje o PT jogou “na direita” a oposição inteira – usando mais uma vez de arrogância e intolerância com os contrários – agora estão também do outro lado partidos ideológicos de esquerda como o PSB e o PCdoB.
O apelo a Lula pode dar resultado mas também pode não dar. Afinal o andor pode ser forte mas, às vezes, o santo é de barro e se quebra.
CURTAS
Santa Cruz – Com mais de quatro contas rejeitadas pelo TCE e pela Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Capibaribe, o deputado José Augusto Maia, que compôs a lista de candidatos com ficha suja enviada pelo TCE para o TRE, está tentando obter do próprio TCE uma rescisória, o que lhe daria chance de voltar a disputar a prefeitura municipal. O pedido será julgado pelo pleno do Tribunal na próxima quarta-feira.
Cota – O PSDB , que registrou 40 candidatos a prefeito em Pernambuco nestas eleições, tem cinco candidatas mulheres, todas com chance real de se eleger: Judite Botafogo ( candidata à reeleição em Lagoa do Carro), Gisa Simões, em Afogados, Rosineide Barbosa , de Casinhas, Sandra Aragão , de Tacaimbó e Sandra Felix, de Condado.
Musica proibida – A Justiça começou a proibir no interior de Pernambuco a execução de músicas, como as de Michel Teló, que estão sendo usadas como jingle por candidatos a prefeito. O objetivo é impedir a realização de campanha em locais proibidos, como festas pagas com recursos públicos. Se a moda pega, os próprios cantores vão acabar representando judicialmente contra os candidatos que usam seus sucessos.
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