Por Terezinha Nunes
Uma chaga que infelicitava o ensino público foi abolida das escolas estaduais pernambucanas pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos. De uma canetada só, ele pôs fim à nomeação dos diretores das unidades escolares pela classe política, prática tão antiga quanto a República Velha.
Antes, era comum, a cada início de mandato, os governadores nomearem para gerir as escolas pessoas indicadas pelos deputados, de acordo com a área de atuação de cada um. Um absurdo sem tamanho. Muitos se gabavam do número de diretoras que controlavam e lhes rendiam votos na época das eleições. Se uma delas desagradasse o político que tinha como padrinho era afastada para que outra mais fiel ocupasse o lugar.
Ao invés da indicação partidária, esses dirigentes passaram, na administração de Jarbas, a ser escolhidos pelo voto direto de professores, alunos e pais de alunos. Além disso, estavam obrigados a prestar contas de suas atividades, da performance dos alunos e a comandar um orçamento específico para atender ás despesas mais urgentes dos estabelecimentos de ensino.
Esta semana, o governador Eduardo Campos deu um passo à frente nesta prática. Após cinco anos de mandato, anunciou, através da secretaria de educação, que vai manter a escolha dos dirigentes por eleição direta mas submetida a algumas premissas: os potenciais concorrentes às vagas nas mais de 11 mil escolas estaduais terão que se submeter a uma prova seletiva após um curso de capacitação findo o qual, aí sim, passarão pela eleição direta.
Uma particularidade, porém, causou estranheza : agora a comunidade escolar não vai decidir a parada mas formar uma lista tríplice, cabendo ao Governo escolher, entre os três apontados, o seu preferido.
Diante da reação do Sindicato dos Trabalhadores na Educação de Pernambuco que anunciou boicote ao processo adotado, o secretário de educação se apressou a explicar que, apesar da lista tríplice, o Governo vai quase sempre escolher o mais votado, o que não dirimiu as dúvidas pois se for assim para que uma lista tríplice?
A simples menção a esta lista, porém, remete a questão para o imponderável e para a suspeita de que a interferência política pode vir a se dar, não mais da forma escancarada como acontecia no passado, mas através da própria secretaria de educação, uma pasta que é considerada um maná para quem deseja disputar eleições.
Esta suspeita corre o risco de macular a ideia principal do projeto que é da qualificar melhor os dirigentes escolares, exigindo que demonstrem capacidade para gerir os estabelecimentos de ensino.
A realização de eleições diretas em escolas é criticada por entendidos em educação sob a alegação de que nem sempre as comunidades escolares optam pelo mais qualificado mas, às vezes, ficam com o “mais carismático”, o “mais condescendente”, “o mais simpático” etc, o que não é de estranhar em um país como o nosso onde muitas pessoas não votam com a responsabilidade que a prática requer.
Mas está claro que uma eleição direta, por mais distorções que possa produzir, é mais benéfica do que a indicação política que acontecia anteriormente. E se vem com a exigência da qualificação profissional, como vai acontecer agora, melhor ainda.
Por isso mesmo é urgente esclarecer o que quer dizer esta lista tríplice que existe hoje para escolha, pelo governador, de novos desembargadores e agora – não se sabe porquê – está sendo transferida para as escolas. Se tem boi nesta linha o melhor é retirá-lo para não macular o projeto que parece carregado de bons propósitos.
CURTAS
Militância fora
O PT realiza prévia este final de semana sem a militância aguerrida de outrora que tanto animou o partido. Agora no poder, o PT não conta mais com os carregadores de bandeira que, de graça, faziam zoada nas ruas. Só se fala nos votos dos cargos comissionados, dos delegados do Orçamento Participativo – todos remunerados pelo poder público – e de alguns outros que tiveram as contas com o partido colocadas em dia por algum padrinho político cuja identidade é desconhecida.
Jarbas
O senador Jarbas Vasconcelos, que há muito anda afastado da direção nacional do PMDB, está cada vez mais se distanciando das decisões do PMDB estadual. Sempre que é procurado remete o assunto para seus fiéis escudeiros : o atual presidente Dorany Sampaio e o deputado federal Raul Henry. Não dá um pio.
Armando
O senador Armando Monteiro enviou-nos nota negando, ao contrário do que se especula, que poderia vir a se afastar da Frente Popular após as eleições deste ano. Diz no texto “não me assiste nenhuma razão para que considere essa hipótese de distanciamento do governador Eduardo Campos. As razões que motivaram a formação da Frente Popular mantêm-se válidas e dão curso a um projeto que vem operando importantes transformações em Pernambuco”.
Deixe um comentário