Por Terezinha Nunes
Em entrevista recente à Revista Isto é, o jurista Miguel Reale Junior se mostrou preocupado com o desgaste da classe política brasileira em um momento de crise como o que estamos vivendo. Advertiu que “alguém precisa exercer o poder, organizar os anseios da sociedade “ e que cabe aos políticos este papel. “Se isso não ocorrer, gera-se um processo anárquico” – concluiu.
Muito antes disso, na época da Nova República, o grande líder do PMDB, Ulisses Guimarães, respeitadíssimo por todos, respondeu aos que se admiravam com o baixo nível de grande parte do Congresso Nacional : “ é porque vocês ainda não conhecem o próximo”. Ulisses já antevia que, a continuar como estava a política brasileira, cada vez se teria menos gente comprometida com os bons costumes, a ética e a seriedade entre os eleitos pelo povo.
Na verdade, embora existam as exceções e são muitas – O Brasil conta com excelentes políticos em todas as esferas de poder – em momento de caça às bruxas a tendência é encarar a todos como farinha do mesmo saco. Nivelar por baixo. Gerando o perigo de que fala Reale Junior.
Estaria a população brasileira atenta a este fato? Os que vão às urnas estão separando o joio do trigo ou os políticos que temos hoje – para o bem e para o mal – representam o que a população traz verdadeiramente no seu íntimo ? Reproduzimos um país dos “querem levar vantagem em tudo”, como falava Gerson?
Não são perguntas fáceis de responder sem um estudo acurado, o que não se fez até agora. Parece claro, porém, que a população, em que pesem as artimanhas criadas pelos próprios políticos para se locupletar do poder, como os partidos nanicos que vendem solenemente seu tempo de TV, também tem lá sua culpa no cartório.
O xis da questão é que está cada vez mais difícil a eleição de pessoas que dependem do “voto de opinião”, ou seja, dos que são eleitos muito mais pelas posições que adotam, pelo que defendem, pelos compromissos assumidos e honrados. A maioria só consegue chegar lá através de campanhas caríssimas cujos recursos – vê-se claramente agora – acabam saindo, em grande parte, da prática da corrupção ou da troca de interesses.
Cidade tida historicamente como politizada, Recife é um exemplo do que ocorre hoje. Para falar no período mais recente, nas décadas de 70 e 80 a classe média – os chamados formadores de opinião – se mobilizava um mês antes da eleição em torno de candidatos sérios – era o período de combate à ditadura – e, embora numericamente pequena, saia à cata de votos para seus escolhidos. Convencia os mais pobres, entrava nas favelas e fazia valer o poder do voto gratuito.
Hoje isso não ocorre mais. A classe média se calou e os currais eleitorais que antes eram característica do interior se implantaram na capital. Os coronéis do asfalto passaram a ditar as regras não só por favores feitos como pelo dinheiro pago na véspera do pleito aos eleitores, a chamada “boca-de-urna”.
O resultado é que minguou de forma dramática o voto gratuito e quem não tiver recursos morre na praia. A oposição que era forte no voto de opinião está cada vez menor. Não poderia dar em coisa diferente: o povo, mesmo cometendo erros e vendendo o voto – como ocorre sobretudo entre os mais pobres – acabou também não respeitando os políticos como acontecia no passado.
As estatísticas estão na cara. Qualquer pesquisa hoje aponta os políticos como os menos admirados pela população. Só que eles, como afirma Reale, são fundamentais para a vida de uma sociedade. Ou se corrige o próprio rumo ou hoje ou mais adiante vamos todos para o imponderável.
Terezinha Nunes é presidente da Junta Comercial de Pernambuco e membro da Executiva Nacional do PSDB.