Por Arthur Virgílio*
O governo federal agiu como se tivesse o direito de supor que uma CPI, para investigar o caso Carlos Cachoeira se iria restringir ao Senador Demóstenes Torres e a mais figuras da oposição, em Goiás. Ledo engano!
Logo surgiu um grupo de Deputados, a maioria deles da base governista e, de poucos dias para cá, caiu na rede das gravações telefônicas o próprio autor do pedido de investigação parlamentar, Protógenes Queiroz (PCdoB–SP), eleito com sobras de votos do palhaço Tiririca. Que ironia: Protógenes pediu a CPI, visando atingir adversários e é flagrado em conversas promíscuas e íntimas com Idalberto Matias Araújo, vulgo “Dadá”, braço direito de Cachoeira e “detentor” de vocabulário quase sempre chulo e impublicável. Protógenes não apenas está impedido moralmente de integrar a CPI, como terá de ser convocado a nela depor, assim como deverá responder a processo no Conselho de Ética da Câmara.
Lula vislumbrou a possibilidade, que não creio realizável, de atingir o governador de Goiás, Marconi Perillo e, de concreto mesmo, temos a ligação do esquema de Cachoeira com o governo inapetente e apodrecido de Agnelo Queiroz, petista do Distrito Federal. Lula, dado a rancores pessoais, não perdoa Perillo por este lhe ter avisado que havia um esquema de compra de Deputados dentro do governo federal. O então Presidente, que sabia de tudo, passou a guardar ira eterna contra quem pensou que lhe estava oferecendo meios de adotar medidas saneadoras.
O comprometimento da empresa Delta Construções, menina dos olhos do PAC (recebeu, entre 2007 e 2012, R$4,13 bilhões dos cofres federais, apenas num CNPJ) com o escândalo, coloca o Planalto de orelhas em pé. E ainda traz à baila o governador peemedebista Sergio Cabral, que se relaciona de modo obscuro com a Delta.
A preocupação palaciana com essa empresa é certamente maior do que com o mandato do Deputado Rubens Otoni (PT-GO), que foi exibido em horário nobre admitindo ter recebido R$100 mil de Cachoeira e combinando outra leva de igual montante. O Deputado é peixe pequeno.
O caso Cachoeira começa e termina no Planalto: Waldomiro Diniz, assessor prestigioso de José Dirceu na Casa Civil foi, no início do primeiro governo Lula, exibido pelas televisões, sendo subornado por Cachoeira. E, agora, presenciamos o envolvimento de tantos petistas e de empresa que financiou “generosamente” parte da última campanha eleitoral.
Espero que a CPI apure tudo, de quem quer que seja, com seriedade. Que um dos postos de mando fique com a maioria e o outro com a oposição. Que se respeite o povo brasileiro, enfim.
O governo já não deseja a investigação, porém não sabe como sair da sinuca em que se meteu. Sabe, por exemplo, que não poderá fazê-la “seletivamente”, mirando apenas em adversários.
Estaremos de olho.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
Deixe um comentário