Por Terezinha Nunes
É comum, na política brasileira, se denominar de “casamento de jacaré com cobra d água” alianças em que os dois grupos que se juntam são, em geral, adversários ou mesmo inimigos políticos. Recentemente, assim foi batizado, por comentaristas políticos, o acordo do deputado federal Paulo Maluf com o ex-presidente Lula em torno do candidato do PT a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
Tais “casamentos”, causam perplexidade em grandes centros, eram, até pouco tempo, abominados no interior de Pernambuco, onde a política é tão radicalizada que, na época da ditadura militar, a Arena, o partido oficial e para o qual convergiam quase todos os políticos interioranos, precisou usar do artifício da sublegenda para abrigar todos os contendores no seu entorno. Assim foram criadas as Arena -1, Arena -2 e Arena -3, de triste memória.
Hoje, tal como acontecia no tempo da Arena, quase todos os grupos interioranos são governistas a nível estadual e federal. Poucos se arvoram a se colocar na oposição. Mesmo assim, conservam, em geral, o acirramento entre si, beneficiados pelo pluripartidarismo o que permite que, nos municípios, o debate se dê de forma clara e a luta pelo poder coloque em lugares díspares as forças governistas e oposicionistas.
Neste ano de 2012, porém, onde têm acontecido “ coisas que até Deus duvida”, como afirmou dia desses um taxista do Recife, tanto a nível local como nacional, a política interiorana aderiu ao pragmatismo puro e simples e sem desfaçatez.
Há municípios onde os casamentos de jacarés com cobras d`água se deram de tal forma que a eleição já está definida antes mesmo de começar a campanha porque não há oposição ou ela ficou tão frágil que não põe em risco o grupo reinante.
Embora quem entende da política interiorana jure que muito ainda vai acontecer, já estão nesta relação municípios como Terezinha (agreste) e Casinhas ( mata norte)e municípios médios como Tamandaré, na Mata Sul.
Em Terezinha, o prefeito Alexandre Martins (PR) reuniu todos em torno de si e é praticamente candidato único. Em Casinhas, a ex-prefeita Rosineide Barbosa (PSDB) , líder da oposição, virou candidata única depois que ganhou o apoio do prefeito João Camelo (PTB) que indicou o vice Vital Pedro (PSD) na sua chapa.
Em Tamandaré, o candidato a prefeito Hildo Hacker Filho, candidato à reeleição, conquistou o apoio de quase todos os grupos de oposição e é apontado desde já como favorito.
Esta semana o município de Catende, na Mata Sul, foi surpreendido com rumores sobre a possibilidade de uma fusão entre os grupos rivais de Otacílio Cordeiro (PSB), candidato à reeleição, e do deputado estadual Rildo Braz. Isto acontecendo, a oposição ficaria restrita ao candidato do PSDB a prefeito, o empresário Romero Pinheiro, que está debutando na política.
O que estaria levando a esta situação? Embora ninguém queira assumir oficialmente, nos bastidores o comentário é de que as campanhas estão muito caras e grupos de oposição preferem se juntar a um prefeito e dividir depois o poder, com os cargos evidentemente, a custear uma campanha e arriscar-se a perder.
Da mesma forma, prefeitos já reeleitos e mal avaliados estão preferindo apoiar a oposição, oficialmente ou não, com a promessa de continuar com espaço na prefeitura. Mesmo em locais onde a oposição não foi dizimada esta tendência de união dos contrários reduziu-a a uma preocupante situação de inoperância e certeza antecipada da derrota.
CURTAS
Perigo ao lado – A proximidade entre os comitês eleitorais de candidatos adversários na disputa deste ano no interior já começou a gerar vítimas. No último final de semana oito pessoas ficaram feridas em Santa Cruz do Capibaribe, num confronto entre militantes do PSDB e PTB cujos candidatos têm comitês na mesma rua. Agora a preocupação é com Caruaru onde os candidatos José Queiroz e Miriam Lacerda inauguraram comitês na mesma avenida e um de frente para o outro.
Raiva – Quem esteve recentemente com o ex-deputado federal José Dirceu diz que a raiva que ele acumula em relação ao governador Eduardo Campos se transferiu também para o ministro Fernando Bezerra Coelho, indicado pelo governador. Desta forma estaria decidido a defender o candidato do PT a prefeito de Petrolina, Odacy Amorim, dentro do PT, tanto quanto defendeu a candidatura do senador Humberto Costa a prefeito do Recife.
Avaliação – Embora tenha sua administração aprovada por 63% da população de Petrolina, como mostrou esta semana a pesquisa do Blog do Magno, o prefeito Júlio Lóssio tem apenas 36% das intenções de voto. A diferença entre as intenções de votos de hoje e o índice de aprovação demonstra que Júlio tende a crescer durante a campanha. Mesmo enfrentando dois fortes adversários: o deputado federal Fernando Filho (PSB) e o petista Odacy Amorim, ambos empatados com 21%.