Por Terezinha Nunes
Integrantes de um dos partidos da Frente Popular revelaram, a deputados estaduais, que, quando foram procurados pelo governador Eduardo Campos para discutir a possibilidade de lançamento da candidatura a prefeito do ex-secretário Geraldo Júlio e tentaram argumentar que ele era um nome novo, e, por isso, difícil de ser imediatamente assimilado pelos eleitores, ouviram do governador uma frase lapidar: “o candidato sou eu”.
Como um dos políticos mais inteligentes e articulados da safra atual, o governador naturalmente não imagina que os eleitores vão ver seu rosto na urna quando forem votar e sim o do secretário escolhido – o que é coisa bem diferente – mas demonstrou, com esta argumentação, e foi entendido muito bem pelos interlocutores, que fará o que for possível para fazer de Júlio o futuro prefeito recifense.
Portanto, não é de estranhar que Eduardo esteja tratando o PT, agora seu principal adversário – pelo menos no Recife – sem a menor consideração. Em primeiro lugar, aliou-se ao PMDB do senador Jarbas Vasconcelos que Lula e o PT vêm como maior opositor do petismo a nível nacional. Em segundo lugar, tem imposto aos petistas seguidas perdas de apoio e sustentação como é o caso mais recente do deputado federal Maurício Rands que entregou seu mandato de volta ao PT, deixou o partido e declarou apoio ao candidato do governador.
A reação do PT a estes gestos não tem sido diferente, o que leva a eleição do Recife a se configurar como um embate nacional entre petistas e socialistas de conseqüências imprevisíveis, como antecipa o debate sobre a eleição de 2014 em que os petistas acreditavam ter o apoio incondicional do governador pernambucano e agora descobrem que ele pode ser, ao contrário, o principal entrave à hegemonia petista no leque de forças criado pelo ex-presidente Lula e mantido pela atual presidente Dilma Rousseff.
Amigo de Eduardo nos dois mandatos de Lula, o ex-ministro José Dirceu foi o primeiro a acusar o golpe, tendo utilizado o seu blog para mandar seguidos “recados” a Eduardo acusando-o de ter rompido a aliança no Recife. O presidente do PT, Rui Falcão, citado pelos simpatizantes de João da Costa como “Rui Facão”, chegou a conclamar a militância petista do Recife a ir às ruas em favor de Humberto e, naturalmente, contra o candidato socialista.
Esta quinta-feira, um dos maiores amigos de Lula e articulador do PT no Nordeste, Francisco Rocha, o Rochinha, foi claro ao falar da saída de Rands. Não só apontou que o ex-petista não teria sido fiel aos fatos em seu documento como ironizou que a carta teria sido redigida “a quatro mãos, num escritório de Nova Iorque”. As outras duas, além das de Rands, naturalmente, foram, para Rochinha, as mãos do governador que esteve com Rands naquela metrópole norte-americana, onde o ex-secretário e deputado federal se refugiou após a escolha de Humberto Costa como candidato.
Eduardo, mais comedido que os petistas na troca de acusações nesta fase da pré-campanha eleitoral, tem escalado seu líder na Assembléia, Waldemar Borges, para responder aos ataques. O deputado disse que os petistas foi que fracionaram a Frente Popular tendo, inclusive, “levado o micróbio da divisão para dentro deles”.
O que se houve, de um lado e do outro, é que, mantidos os atuais níveis de temperatura e pressão, a coisa vai pegar fogo no horário eleitoral gratuito, onde os petistas mostrariam que foi Lula e não Eduardo o responsável pelo bom momento vivido por Pernambuco.
Qual será a reação do governador? Impossível saber mas, considerando a sua frase acima, há de se prever que nada ficará sem resposta. Quem viver, verá.
CURTAS
Punhalada – “Fui apunhalado pelas costas”. Petistas juram que foi essa a frase dita por Lula ao saber que o deputado federal Maurício Rands saiu do PT e apoiou a candidatura de Geraldo Júlio (PSB), a prefeito. Até então Lula estava insatisfeito com a situação em Pernambuco mas teria chegado ao limite nas últimas horas, segundo as mesmas fontes.
Nos EUA – Esta coluna antecipou, há duas semanas, que o deputado federal Maurício Rands, em retiro nos Estados Unidos, estava mais descontente com Humberto Costa do que com o prefeito João da Costa, com o qual andou às turras durante e depois da prévia do PT no Recife. Os últimos acontecimentos mostram que estávamos com a razão.
Pragmatismo – Depois destas eleições em Pernambuco, onde o pragmatismo rompeu a ideologia e está sendo praticado por todos os lados em disputa, vai ser difícil alguém ainda condenar o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB), acusando-o de pragmático, como aconteceu em eleições anteriores.