Por Terezinha Nunes
Terra do “sim-sim”, “não-não”, Pernambuco manteve em sua história política a marca do radicalismo. Em alguns momentos, pessoal mas, na maior parte do tempo, o estado foi pautado pelo radicalismo das ideias. Não é à toa que aqui tradicionalmente nasceram alguns dos mais conhecidos radicais de direita e de esquerda que o Brasil conheceu.
Só para citar dois exemplos, um golpe de direita, em 1964, depôs um governador de esquerda, Miguel Arraes, e, no tempo em que a abertura já estava em plena forma, o ex-deputado federal, já falecido, Ricardo Fiúza, foi recebido em grande festa no Clube Internacional como líder do centrão, um grupo de políticos direitistas saudosos do regime militar que se formou na Câmara Federal.
É de estranhar, portanto, que este estado, tão rico na formação de líderes conservadores e progressistas, esteja agora experimentando um momento de limbo político em que o debate de ideias foi substituído pelo pragmatismo, levando a democracia – onde a existência do contraditório é essencial – para o espaço.
Este cenário, que vinha sendo ensaiado na administração Jarbas Vasconcelos, quando apenas o PT sustentou a bandeira oposicionista, se consolidou na administração Eduardo Campos e culminou de vez com a aproximação tornada pública há poucos dias entre o próprio Jarbas e Eduardo.
Uma corrente de pensamento nacional sustenta hoje que a oposição em todo o Brasil se encontra em extinção, fenômeno atribuído ao estatuto da reeleição e à prática do toma-lá-dá-cá aperfeiçoada pelo PT quando loteou ministérios entre os partidos para se manter no poder.
Não se imaginava, porém, que Pernambuco fosse aderir tão cedo a esta prática. Não do toma-lá-dá-cá – aqui há parcimônia – mas da liquidação do campo oposicionista. Hoje, embora partidos como PSDB, DEM, PMDB e PMN não estejam formalmente no poder, as bancadas dos mesmos votam de forma costumeira com o Governo. Algumas vezes sem sequer questionar.
Até quando isso vai permanecer é difícil imaginar mas algumas consequências já se manifestam à vista de todos. Uma delas é a verdadeira salada partidária que vai caracterizar a eleição municipal deste ano.
Nos municípios está difícil separar o Governo da Oposição e vice-versa. No Recife é possível que as coisas ainda se mantenham mais ou menos se o PT conseguir unir a Frente Popular mas, nos demais municípios, com raras exceções, a confusão é geral. Comunistas se preparam para subir no mesmo palanque do DEM, petistas frequentam o mesmo ambiente do PSDB e por aí segue.
Até duas semanas atrás ainda havia algum receio entre legendas do campo governista de se aliar com partidos oposicionistas. O medo era de censura por parte do Palácio das Princesas. Por isso as costuras eram mantidas em sigilo para serem reveladas em cima das convenções partidárias. Agora não se pensa mais nisso.
Todos se colocam como pertencentes a um mesmo grupo para conseguir apoio de onde vier.
Há quem veja nisso um sinal de amadurecimento político de Pernambuco e não dá para negar que muitos candidatos respiram aliviados, imaginando uma campanha mais tranquila. É, pode ser. Mas se teme que ela venha pautada pela acomodação e pela pobreza de ideias, o que é muito ruim para a democracia e para a população pernambucana em particular.
CURTAS
Mulheres em alta
O PSDB de Pernambuco que tem, no momento, uma prefeita, Judite Botafogo, de Lagoa do Carro, planeja chegar a cinco prefeitas em 2012. A própria Judite, que disputará a reeleição, e mais: Gisa Simões, de Afogados; Sandra Aragão, de Tacaimbó; Sandra Felix, de Condado; e Aurora Cristina, de Garanhuns.
Chapinha
Muito já se especulou sobre o caminho que o governador Eduardo Campos trilhará em 2014. Falou-se que se candidataria a presidente, a vice ou ao Senado mas a informação do dia é que, não participando da eleição presidencial, o governador seria mesmo candidato a deputado federal, constituindo uma chapinha para ajudar a eleger quem desejasse, como fez seu avô Miguel Arraes em 1990 quando Jarbas perdeu a eleição de governador para Joaquim Francisco e começou a se distanciar de Arraes.
Jarbinhas
O senador Jarbas Vasconcelos está, aos poucos, inserindo o filho Jarbinhas, candidato a vereador do Recife, nos meios político e social. Como não vai estar no Recife, já o escalou o filho para, em seu nome, receber comenda em solenidade de comemoração dos 50 anos da Federação Pernambucana de Futebol de Salão a ser realizada no Parque Dona Lindu dia 10 deste mês.