“O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Frase de Euclides da Cunha extraída da sua obra “Os sertões” sintetiza tudo o que o jornalista Magno Martins traz em seu livro “Reféns da Seca”, uma obra de caráter informativo mas principalmente como um verdadeiro grito dos excluídos.
Os excluídos são os mais de 30 milhões de brasileiros que vivem nos mais de 1,4 mil municípios atingidos pela maior seca dos últimos cinquenta anos. Isso é fruto do descaso dos governos, principalmente o federal, que nunca olhou como deveria para o povo e principalmente os problemas da região.
O bolsa-família e o bolsa-estiagem amenizam os efeitos da seca, evitando que nesta estiagem as pessoas morram, como nas anteriores, mas os animais estão morrendo e elas perdendo suas cabeças-de-gado, morrem junto com eles a cada dia de desgosto e de tristeza percorrendo as léguas tiranas atrás de água pra tentar salvar a vida das suas escassas cabeças de gado.
As bolsas amenizam os efeitos mas não resolvem o problema que é estrutural, que só será resolvido através de um pacto entre todas as esferas de poder público, a iniciativa privada e a população. Mas para isso é fundamental gestão e execução.
Existem obras como a transposição do Rio São Francisco que se arrasta há anos, com previsão de terminar apenas em 2015 e deve chegar a um custo de R$ 12 bilhões. A ferrovia transnordestina que melhorará a infra-estrutura do sertão nordestino também está atrasada e só deve ser entregue em 2015, já vai num custo de R$ 8 bilhões. Essas obras custam ao erário R$ 20 bilhões, mas existem coisas mais exequíveis a um custo menor que poderiam ser feitas e igualmente minimizariam os problemas da região.
Um dos grandes entraves ao desenvolvimento econômico dos grandes centros urbanos é a ida dos nordestinos sertanejos para os respectivos, criando bolsões de miséria e consequentemente diminuindo os índices de desenvolvimento humano das capitais, fomentando a favelização.
Isso se dá porque o sertanejo cansado da falta d’água e da falta de oportunidades vai para as capitais achando que a vida irá melhorar, mas são raros os casos em que alguém consegue se sobressair financeiramente, na maioria das vezes os sertanejos vão trabalhar em condições subumanas para dar lucros exorbitantes aos semi-escravizadores do Sul Maravilha.
Se houvesse uma política pública para minimizar os efeitos da seca de forma efetiva e até criar oportunidades de emprego e sobrevivência, nem os sertanejos migrariam para as capitais para serem escravizados e humilhados e muito menos os moradores das capitais teriam de conviver com os problemas que essa migração equivocada causa.
O nordeste brasileiro, com uma ênfase ao sertão, precisa de ações eficazes para evitar esse êxodo rural. A criação de cooperativas de plantações e produção de alimentos fomentadas e fiscalizadas pelo poder público já consolidaria a importância dos pequenos produtores. Sabemos que quando existem segmentos econômicos agrupados a possibilidade de lucro e poder de barganha aumentam consideravelmente.
Outra crítica é ao atual modelo de distribuição da arrecadação tributária. Hoje cerca de 10% ficam para ser distribuídos com os quase seis mil municípios de forma proporcional ao tamanho da população, enquanto 20% ficam com os estados e 70% com o governo federal. Quando o dinheiro vem chegar para a população através de investimentos federais, as necessidades mudaram e só fizeram aumentar.
Precisamos que os nossos governantes, incluindo presidente e ministros, governadores de estados e secretários e os prefeitos, fomentem essa discussão trazendo uma pauta de mudança do pacto federativo para 50% com a União, 30% com os Estados e 20% com os Municípios. E consequentemente a fiscalização seja mais eficaz, incluindo na Lei de Responsabilidade Fiscal a obrigatoriedade de investir um percentual nas ações que minimizem os efeitos da estiagem para os municípios que estão incluídos nesta área seca do Brasil.
Além dessas sugestões, outras foram trazidas no livro de Magno Martins. Casos de sucesso no mundo inteiro conseguiram minimizar os efeitos da estiagem, e que podem ser aplicados ao nosso problema, desde que haja vontade política. A indústria da seca precisa ser veementemente combatida por todos que fazem o nosso Brasil.
No mais, cada José, cada Maria e cada João que mora nas áreas atingidas pela maior seca da história faz a sua súplica sertaneja e pede para deixar de ser refém da seca para ganhar a dignidade perdida pelo descaso das nossas autoridades.
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