Por Terezinha Nunes
Não consigo entender como deixamos que se jogue em cima de nós o episódio da Petrobrás”, afirmou esta semana ao jornal Folha de São Paulo o assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, preocupado com o desgaste do PT diante da maré de escândalos que eclode em todo o país.
Ele próprio acrescentou “não estou de acordo, não me considero criminoso” e concluiu “uma coisa é dizer que pessoas do PT se envolveram em malfeitos, outra é tentar qualificar o PT como uma organização criminosa”.
É natural a perplexidade de Garcia, certamente envergonhado com a postura de alguns companheiros de baixo e alto coturno que se envolveram diretamente nos desvios de recursos e com o fato de estar ele próprio – como demonstrou na entrevista – tendo que ouvir impropérios nos restaurantes que frequenta ou nas ruas por onde anda.
O difícil, pelo visto, vai ser recuperar a imagem do partido desgastada até entre os beneficiários do Bolsa Família como está demonstrado em todas as pesquisas realizadas recentemente para medir a popularidade da presidente Dilma.
Estaria a imprensa exagerando ao noticiar a cada dia novas facetas desse intrincado novelo de irregularidades que não para de crescer ? Certamente que não. Afinal – para tristeza do PT – quem primeiro usou o termo “formação de quadrilha”, que incomoda Marco Aurélio, não foram os jornalistas mas a própria justiça através do seu órgão máximo, o Supremo Tribunal Federal.
Referia-se, o STF, ao mensalão que levou para a cadeia alguns líderes proeminentes do Partido dos Trabalhadores e que, pelo que se observa agora, era de pequena dimensão pelo volume de recursos desviados – R$ 141 milhões. A cada escândalo que surge, infelizmente, os desvios só tendem a aumentar.
O Petrolão, por exemplo, teria provocado um rombo de R$ 2,1 bilhões aos cofres públicos e, mais recentemente, a operação Zelotes, que apura irregularidades na Receita Federal, já teria comprovado o desvio de R$ 19 bilhões.
O jornal inglês The Economist afirmou esta semana que a corrupção no Brasil vem demonstrando ser cada vez maior. Exemplifica, informando aos seus leitores, que a Operação Zelotes “ é oito vezes maior “ que o Petrolão pelo volume de recursos envolvidos.
E ainda não estamos no final. Em delação premiada no ano passado o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa relatou que as irregularidades tinham se estendido “ por hidrelétricas, obras rodoviárias, portos e aeroportos”.
Esta semana outro delator demonstrou que Paulo Roberto tinha razão. Dalton Avancini, diretor-presidente da Camargo Correia, afirmou à Justiça Federal ter pago R$ 100 milhões de propina – quase um mensalão – para obter o contrato de construção da hidrelétrica de Belo Monte, trazendo para o centro do ringue outra grande empresa estatal, a Eletrobrás.
Apesar dos números cada vez maiores serem de complicado entendimento para a maioria da população que, no corrido dia-a-dia, vai acabar se acostumando com eles, à medida em que novos escândalos vão aparecendo a sensação é de que todo o aparelho de estado está contaminado, o que não é verdade.
Esta percepção de problemas generalizados que não foi inventada pela imprensa e nem pela justiça mas pela própria dimensão dos malfeitos, é o maior obstáculo para a recuperação da imagem do Partido dos Trabalhadores. Marco Aurélio em sua entrevista chega estranhar que outros partidos envolvidos em escândalos pontuais não estejam sofrendo tanto.
Na verdade, problemas existem em todos os partidos, pessoas boas e más são comuns a qualquer agremiação mas, usando a frase do ex-presidente Lula , nunca, na história desse país, um partido político se envolveu em tantos escândalos como o PT nesses últimos dez anos.