Por Evaldo Costa
Quase todo mundo já viu o filme “Tubarão”, de Steven Spielberg. Foi lançado em 1975 e fez história como recordista de bilheteria. Passa toda hora na televisão. Se tenho tempo, vejo. E recomendo.
Desatentos acham que é um filme sobre a fera do mar. Engano. É, na verdade, um ensaio sobre o medo e sobre como as pessoas reagem quando são testadas em sua coragem, responsabilidade e sentido de missão.
Na trama se destacam cinco personagens: o chefe de polícia, representado por Roy Scheider; o prefeito, vivido por Murray Hamilton; o caçador de tubarões, papel de Robert Shall; o cientista defendido por Richard Dreyfuss e, claro, o próprio tubarão.
O chefe de polícia não sabe nadar e odeia o mar. Mas vive ali na minúscula ilha de Amity; aquele é o emprego dele e tem que conviver com isso. Quando aparecem as primeiras vítimas do tubarão ele procura o prefeito, acompanhado pelo cientista, e pede pra fechar a praia e alertar as pessoas.
“Você ficou louco? Se fecharmos as praias vamos espantar os turistas e quebrar a economia da ilha”, diz o prefeito. Só depois que aparecem mais e mais mortos ele concorda em contratar o pescador de tubarões para tentar matar o bicho. No final, o caçador morre e é o chefe de polícia que, vencendo o medo e honrando as calças, consegue matar a fera.
Rever e pensar sobre a trama de “Tubarão” pode ser um exercício útil nestes tempos de pandemia e quarentena. Sugiro, por exemplo, que imaginemos um roteiro no qual a ação se passa não na pequena ilha de Amity, mas em um país continental chamado Brasil. E que, em vez do tubarão, nossa fera seja um vírus, o tal Covid19, muito mais assassino apesar de invisível.
Avancemos um pouco mais na adaptação do roteiro. Agora, o chefe de polícia se tornou o ministro da saúde. E o cientista vira representante da OMS ou de uma dessas inúmeras instituições que pesquisam e recomendam o isolamento social como estratégia para reduzir o impacto da pandemia de coronavírus.
O exercício agora ficou mais radical porque o chefe de polícia / ministro da saúde acaba de ser demitido em plena ação. Do substituto se espera que tenha melhor sorte ou que vire o placar de um jogo que já passou do intervalo.
Isto é possível? Em tese. Situações desafiadoras, dramáticas, revelam quem somos e que tipo de escolhas fazemos. É claro que temos que levar em conta a economia de Amity e do Brasil.
Mas a economia não é instância apartada da vida. A economia são pessoas que produzem e consomem. Na vida real, só se produz se há pelo menos a perspectiva de que alguém queira comprar. E, como sabemos, mortos não compram nada.
Antes de sermos consumidores, somos seres humanos, vidas que precisam ser preservadas. E a vida é um bem e um valor acima de qualquer outro. Estando vivos e saudáveis – nossas mães nos ensinam – todo o resto se resolve com fé e disposição para trabalhar.
De minha parte, me sinto gratificado de viver em um estado e em uma cidade onde há um governador e um prefeito em nada parecidos com o governante de Amity – ou com outros que dizem se preocupar com a economia e mostram, na verdade, desprezo pela humanidade.
Ao tomar conhecimento da ameaça do corona, Paulo e Geraldo agiram com decisão e coragem, empregando todos os meios para reduzir ao mínimo as vidas perdidas. Construíram hospitais, contrataram pessoal médico e, sim, fecharam o comércio e mandaram as pessoas ficar em casa, porque colocam em primeiro lugar a vida.
Ainda temos um longo caminho a percorrer e muito esforço pra fazer até vencemos este vírus. Mas estamos confiantes por fazermos a travessia guiados por timoneiros corajosos, determinados e solidários com o povo que lideram.
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Jornalista formado pela Unicap.
Foi secretário de Imprensa de Miguel Arraes e Eduardo Campos, secretário de Comunicação de Paulo Câmara. Foi presidente da CEPE, Diretor do Arquivo Público, editor no Correio Braziliense e Diário de Pernambuco, Editor Executivo do Jornal do Commecio. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de PE.
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