Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
A cena se repete há duas décadas. Ao se deparar com um gravador ligado, o político do PMDB declara, em tom grave, que o partido terá candidato à Presidência nas próximas eleições. O balão da vez é o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Na sexta passada, coube ao governador Luiz Fernando Pezão inflar as pretensões do aliado. “O PMDB tem que ter candidato próprio em 2018”, disse. “Acredito muito no nome do Eduardo Paes, principalmente com a projeção nacional e internacional que ele terá com a Olimpíada.”
A última vez em que o PMDB lançou candidato ao Planalto foi em 1994, com Orestes Quércia. O ex-governador paulista teve 4% dos votos. Ficou em quarto lugar, atrás do folclórico Enéas Carneiro.
Desde então, a sigla optou por ser sócia do partido dominante. Esteve ao lado de todos os presidentes, do tucano Fernando Henrique Cardoso aos petistas Lula e Dilma Rousseff. A escolha de não ter projeto próprio se mostrou mais lucrativa que o risco de perder e ficar longe da distribuição de vantagens e ministérios.
O poder do PMDB no Congresso aumentou, mas não há ninguém no partido, hoje, com força para fazer frente a PT, PSDB e Marina Silva numa disputa presidencial.
Paes, um ex-tucano que agora se apresenta como lulista desde criancinha, tem problemas mais urgentes para resolver em casa. Sua rejeição aumentou com obras que transformaram em um inferno a vida de quem trabalha no centro do Rio.
Por ora, o desafio do prefeito é evitar grandes atrasos na Olimpíada e eleger o sucessor na eleição municipal do ano que vem. Para 2018, o plano mais provável é uma candidatura ao governo do Estado, já que Pezão não poderá concorrer.
Se levar o sonho presidencial a sério, Paes não deve contar com boa vontade do Planalto, que financiou boa parte de seus investimentos nos últimos anos. Mas o maior adversário será o próprio PMDB, viciado em apostar no cavalo vencedor.
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