Maurício Costa Romão
As pesquisas têm mostrado que a presidente Dilma Rousseff continua liderando a corrida presidencial em intenções de voto e com uma confortável diferença para o segundo colocado.
Nos cinco levantamentos nacionais deste mês de junho, por exemplo, a presidente teve, em média, 37% de intenção de votos contra 21% do senador Aécio Neves, uma diferença de 16 pontos de percentagem.
Entretanto, quando aos números do senador se acrescem os percentuais do ex-governador Eduardo Campos (9% em média) e, ainda, os dos demais candidatos de menor expressão eleitoral (8% em média), o conjunto dos adversários da presidente soma 38% de intenção de votos, caracterizando empate técnico. Neste contexto, se a eleição fosse hoje, haveria segundo turno.
Quais as dificuldades para a candidatura petista na hipótese cada vez mais provável de o pleito ir para a segunda etapa?
Fala-se muito de um aspecto meramente quantitativo: a grande possibilidade de união de todos os concorrentes contra a presidente, o que poderia redundar em vitória de um candidato oposicionista.
A julgar pelos números da pesquisa do Ibope, de 13 a 15 de junho, a vitória de um postulante oposicionista não aconteceria neste momento. De fato, Dilma abre 13 pontos de diferença contra Aécio Neves (43% a 30%) e 16 pontos contra Eduardo Campos (43% a 27%), em simulações de segundo turno, se esta etapa acontecesse agora.
Naturalmente que essa situação numérica tende a se alterar na medida em que apenas um dos concorrentes da oposição vai para a disputa final e pode se beneficiar de parte da migração de votos derivada da união mencionada no parágrafo anterior.
Há que se considerar, também, uma fonte importante de garimpo de votos, disponível para os dois campos que atravessarem a barreira do segundo turno: o contingente dos que manifestaram desejo de votar em branco ou anular o voto, ou simplesmente se declararam indecisos (entre 27% e 30%, no total, na pesquisa do Ibope).
Então, o ponto de vista numérico, apenas de conjugação de forças, não é suficiente para explicar uma eventual vitória de um candidato oposicionista no segundo turno.
A transferência de votos nunca é total, o que significa que parte dos votos da oposição vai para a situação, e o não-voto pode ser conquistado pelos dois lados.
O argumento convincente de que são grandes as chances da oposição ganhar este pleito no segundo turno reside num aspecto emocional: o sentimento de mudança.
Este aspecto pavimenta o caminho para uma maior migração de votos em direção ao candidato opositor e lhe abre, também, maior espaço de conquista do não-voto.
Com efeito, desde as insurgências de junho do ano passado as pesquisas detectam que os brasileiros (algo no entorno de 2/3) querem que as ações do próximo presidente sejam diferentes das ações praticadas atualmente.
Destes que querem mudanças, a maior parte prefere que o agente transformador seja alguém que não a própria mandatária nacional.
A variável que mais expressa esse vontade de mudança é a avaliação de governo (ou popularidade do governante). Na média de junho, a avaliação positiva do governo Dilma (soma de ótimo e bom) foi de apenas 32%, contra 33% de avaliação negativa (soma de ruim e péssimo).
A população brasileira, portanto, não está satisfeita com o governo atual e verbaliza isso nas pesquisas, caixa de ressonância do seu pensamento, penalizando o executivo com uma baixa aprovação.
Aqui cabe lembrar que antes das manifestações de 2013 a popularidade da presidente alcançou 64%, enquanto a avaliação negativa do governo foi de apenas 7% (médias de Ibope e Datafolha).
Observando os dados da última pesquisa do Ibope, já aludida, desagregados por variáveis socioeconômicas e geográficas, é possível verificar onde residem os maiores núcleos de resistência a uma melhor avaliação da gestão da presidente.
As tabelas que acompanham o texto desfilam, para algumas variáveis selecionadas, números da avaliação do governo e da maneira de governar da presidente.
Nota-se que o contingente de brasileiros que confere avaliação negativa ao governo, maior que a avaliação positiva, e que manifestou desaprovação maior que aprovação à maneira da presidente governar, concentra-se entre:
Os mais jóvens, os de educação superior, os de renda familiar acima de 10 salários mínimos, os que vivem nas regiões sul e sudeste, nas capitais de estado e nos municípios de mais de 100 mil habitantes.
Os números mais adversos para Dilma estão nos núcleos dos que têm educação superior e nos de renda mais alta. Com efeito, tanto os percentuais de avaliação negativa do governo, quanto os de desaprovação à maneira de governar da presidente são mais que o dobro dos seus opostos positivos.
Embora não mostrados nas tabelas, por questões de espaço, os percentuais mais favoráveis à presidente são detectados entre os eleitores de mais idade, com menor escolaridade, de renda mais baixa, residentes no Nordeste, fora das capitais e em cidades pequenas.
No cômputo geral do país, quando se toma a média ponderada dos redutos mais e menos favoráveis à Dilma, a representante petista leva pequena desvantagem na avaliação do governo (ótimo e bom = 31% e ruim e péssimo = 33%) e na maneira de governar (aprovação de 44% e desaprovação de 50%).
Admita-se, por fim, que esteja correto o diagnóstico de que o sentimento de mudança, fruto das insatisfações com o governo e do mau humor da população com a situação atual, seja o vetor que balize as eleições deste ano.
Se assim for, então, é lícito depreender-se, com a ajuda dos dados apresentados, que a presidente, pela sua condição de incumbente, terá muita dificuldade de elaborar um discurso político-eleitoral que a conecte a esse sentimento.
Como convencer o contrariado eleitor que ela própria estaria capacitada para promover as mudanças requeridas se não as fez no tempo que passou no governo?
A oposição, que obviamente não é o alvo das demandas insatisfeitas da população, tem tudo para capitalizar esse sentimento a seu favor, ainda que até o momento não tenha exibido argumentos consistentes e estratégias claras de como fazê-lo.
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