Por Terezinha Nunes
No jargão popular, costuma-se dizer que quando alguém é espirituoso, tem respostas “na ponta da língua”. Trocando em miúdos: é uma pessoa que, com reações prontas e inesperadas, consegue surpreender o interlocutor, deixando-o, momentaneamente, sem reação.
Na política, nem sempre esta é a conduta correta. Muitas vezes opta-se por não enfrentar determinado assunto de pronto, para não dar ao mesmo mais dimensão do que realmente tem.
Com o governador Eduardo Campos a situação tem sido diferente. Não se sabe se porque já enfrentou momentos difíceis na sua vida pública, se recebe orientação de marqueteiros ou se age assim por decisão própria mas a verdade é que o governador tem tentado, de imediato, reduzir a dimensão ou enfrentar no nascedouro qualquer assunto ou notícia capaz de manchar a reputação do governo,
Tem conseguido? Não se sabe ao certo. Uma coisa, porém, não se pode negar: qualquer rastilho de pólvora que surja envolvendo órgãos ou pessoas da administração só dura o exato tempo de esclarecimento dos fatos. Depois cai no esquecimento.
Outro governador com menos poder ou determinação de exercê-lo a pleno vapor, talvez não se arriscasse a tanto. Mas não é caso, evidentemente.
Desta forma, Eduardo vai conseguindo enfrentar uma a uma as dificuldades sem, aparentemente, sofrer grandes abalos em sua popularidade.
Foi assim no caso das denúncias sobre shows fantasmas na Empetur e na Fundarpe. Ao invés de negar o ocorrido, pelo menos para ganhar tempo, o Palácio afastou os dirigentes dos órgãos quase imediatamente e enviou á Assembléia projetos corrigindo falhas na legislação ou nos controles. Ganhou manchetes e hoje quase não se fala mais no assunto, embora ele permaneça em análise no TCE, MP e Procuradoria Geral da União, no caso Empetur que envolveu verbas federais.
Mais recentemente, outros dois casos tiveram a mesma reação célere da administração.
O primeiro envolveu os gastos com helicópteros e jatinhos no total de quase R$ 6 milhões em apenas 18 meses. Tão logo divulgado pelo Jornal do Commércio e questionado pela bancada de oposição, o governador baixou decreto determinando controle sobre os voos e que cada um que fosse feito tivesse divulgado no Portal da Transparência a destinação, o objetivo e os nomes dos ocupantes das aeronaves.
O segundo aconteceu no final da semana passada quando a Folha de São Paulo divulgou que a Fliporto estava recebendo R$ 3,5 milhões de patrocínio da Empetur e sugeriu que isso estava se dando pelo fato de ser comandada por um irmão do governador.
Quase na mesma hora em que a notícia chegava a Pernambuco pelas redes sociais, a direção da Fliporto enviou nota à imprensa anunciando que não iria mais receber o patrocínio – ao contrário do que aconteceu em 2011 e 2012 – e que a feira iria ser bancada apenas com recursos privados.
Todos esses episódios figuram na história do atual governo. Não vão poder ser apagados mas poderiam ter tido muito mais repercussão se a conduta fosse negá-los, tentar escondê-los, ou simplesmente jogá-los para debaixo do tapete.
Dirceu
Não são de hoje os desentendimentos entre o PT e o governador Eduardo Campos. No best-seller“Dirceu”que escreveu sobre o ex-ministro de Lula, o jornalista Otávio Cabral relata que, no auge do mensalão, Eduardo, deputado federal, discutiu com Zé Dirceu e ouviu dele que o PT não o apoiaria na campanha para o governo de Pernambuco, aliando-se ao então governador Jarbas Vasconcelos.
Realidade
Na verdade, isto não ocorreu, o que demonstra que Dirceu poderia estar blefando mas o PT realmente não apoiou Eduardo no primeiro turno. Preferiu lançar a candidatura do hoje senador Humberto Costa que, se não fossem as denúncias no decorrer da campanha, teria ido ao segundo turno para enfrentar Mendonça Filho. Derrotados, os petistas tiveram que subir no palanque do PSB levados por Lula.
Amor antigo
Dirceu, certamente, sabia que Lula, hoje um desafeto de Jarbas, e vice-versa, tentou por duas vezes, em 1990, quando Jarbas era candidato a governador, e em 1992, quando candidatou-se a prefeito do Recife, levar o PT para o palanque do pemedebista. Encontros aconteceram e não foram poucos mas a aliança não se deu vetada pelos radicais petistas do estado nas duas ocasiões.
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