Por Terezinha Nunes
Já se escreveu bastante sobre o papa Francisco e sua presença no Brasil. Fora o que aqui falou e tocou fundo em todos, o papa também nos encantou “pelo que não falou”, como chegaram a opinar alguns jornalistas e críticos de todos os matizes.
O certo é que, ao contrário dos que falam muito e não dizem nada, ou falam pouco porque nada têm a dizer, o papa Francisco foi preciso em tudo que fez em menos de uma semana entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Além das lições passadas direta ou indiretamente nas homilias ou nos breves pronunciamentos – procurou sempre fazer discursos curtos – ele mostrou que no Brasil ainda é possível reunir multidões sem fazer festa, quer com recursos privados ou públicos, como tem sido comum.
No Rio, juntou mais gente em Copacabana do que no Reveillon, internacionalmente conhecido, e, no momento em que o país acabara de presenciar cenas de violência nas ruas encabeçadas por vândalos dispostos a pegar carona nas reivindicações populares, não se ouviu falar em qualquer violência praticada pelos mais de 3 milhões de participantes da Jornada Mundial da Juventude, ou contra eles.
O que fez o papa Francisco para conseguir tanto como sair ileso de um engarrafamento imprevisto nas ruas do Rio ou ser saudado como um quase santo por onde passou?
– “Não trago ouro, nem prata… trago Jesus Cristo” cuidou de alertar na frente da presidente Dilma que acabara de, imprudentemente, fazer diante dele um discurso político defendendo as administrações petistas e propondo uma parceria entre o Vaticano e seu Governo, coisa que Francisco tomou cuidado de sepultar.
Na verdade, como São Francisco de Assis. O papa venceu pelo exemplo. Dispensou regalias, carregou sua própria pasta, condenou os que procuram ideologizar a Igreja – seja à direita, seja è esquerda – e ensinou que o correto é ser simples.
Pregou a união entre os cristãos, censurou os que cultivam qualquer tipo de apego ao dinheiro e, para a sociedade, ensinou que os jovens que vivem do consumismo e que sucumbem diante dos prazeres a todo custo, são infelizes e acabam se entregando ao que parece ser o maior problema enfrentado hoje pela humanidade: o alto consumo de drogas.
O que, porém, mais tocou de tudo que se viu em torno da presença do papa entre nós parece ter sido a questão da misericórdia, coisa que ele, sabidamente, deixou para o final de sua visita, mais precisamente para as entrevistas que concedeu ao jornalista pernambucano Gerson Camarotti ou aos vaticanistas ( jornalistas que fazem a cobertura do Vaticano) na viagem de volta a Roma.
Sempre deixando claro que o amor de Deus é incomensurável, o papa tratou de assuntos delicadíssimos sem chocar ninguém pelo simples fato de analisa-los sob a ótica do perdão. “Quem sou eu para julgá-los?” – afirmou referindo-se aos gays que procuram a Igreja, no que foi considerada a declaração mais corajosa de todas as que fez no Brasil ou quando voltava a Roma e que terá enorme repercussão internacional.
Por fim, Francisco pediu que todos rezassem por ele. E vai precisar disso. Num tempo de intolerância, discriminação, violência, é até perigoso pregar a paz, a misericórdia, a simplicidade e a ética.
Mas o papa cuidou de afastar a possibilidade de se preocupar com reações às medidas que vem tomando, ou ao que vem pregando pelo mundo, quando afirmou a Camarotti: “não tenho medo”.
CURTAS
Lá e cá
Enquanto no Brasil as mulheres de classe média estão marcando antecipadamente cesáreas e tendo seus filhos de forma bem mais cara e perigosa, a princesa inglesa Kate Middleton passou 16 horas em trabalho de parto para ter seu filho normalmente. Deu exemplo.
SUS
Há mais de 20 anos o Brasil criou o SUS, programa elogiado e destinado a oferecer uma medicina pública de qualidade. Hoje, além da carência de infra-estrutura, o SUS não conta com médicos suficientes para atender sua clientela principal que são as famílias assistidas pelos PSFs. Razão: as Faculdades de Medicina não adaptaram currículos para formar médicos generalistas. Todo mundo só quer ser especialista.
Revisão
Depois da passagem do papa Francisco por aqui muitos padres já começaram a rever a prática de evangelização e começam a reunir os paroquianos para dar força às pastorais e às novas comunidades, tão elogiadas pelo Papa por serem expressão da renovação da Igreja Católica.
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