Por Arthur Virgílio*
Lisboa – O ex-Presidente Lula imaginou ter na CPI do Cachoeira a oportunidade ideal de exercitar seu ódio contra o governador de Goiás, Marconi Perillo, usando a maioria parlamentar governista para poupar “amigos” e linchar “inimigos”. Esclareço, aliás, que Perillo procurou a direção tucana e se declarou disposto a depor imediatamente perante o órgão investigativo parlamentar. E o PSDB protocolou requerimento propondo sua convocação, até estranhando a lista morna de depoentes que ocupará as sessões, até o final de maio.
Perillo, Agnelo Queiroz e o debochado Sergio Cabral devem depor. As relações de Carlos Augusto Cachoeira com membros dos três poderes constituídos precisam ser aclaradas. A Delta Construções, “menina dos olhos do PAC”, pequena empreiteira, que o petismo transformou na sexta maior do país, não poderá passar em brancas nuvens.
Lula, no início, estava eufórico com a ilusão de uma CPI que feriria desafetos seus. Pois foi ao evento pelos 60 anos do BNDES e não deu uma só palavra sobre o tema. Parece que se desencantou. Caiu a ficha. Entendeu que o feitiço pode virar contra o feiticeiro.
Numa democracia, regida, obviamente, pela liberdade de imprensa e pelo funcionamento normal das instituições, basta um único Deputado ou Senador, munido de prova irrefutável, para desmontar tropas de choque a serviço de rei ou rainha.
Conto uma história interessante aos caros leitores e leitoras: quando nos preparávamos, no Congresso, para abrir a CPMI dos Correios, que terminou desvendando o mensalão, a partir das denúncias do Deputado Roberto Jefferson, o governo, usou sua maioria para negar à oposição o direito de indicar o Presidente ou o Relator. Quebrava a boa praxe parlamentar porque delirava poder controlar o rumo das investigações e, à míngua de entendimento, lançamos a candidatura do Senador Cesar Borges, que perdeu por um voto para o petista Delcídio Amaral, do Mato Grosso do Sul.
Parecia o melhor dos mundos para o governismo haver indicado tanto o Presidente quanto o Relator da CPMI. Os trabalhos começaram, os fatos foram surgindo, depoimentos bombásticos se sucederam, como o do publicitário Duda Mendonça, que admitiu ter recebido milhões de dólares no exterior, à base de caixa 2, pelo trabalho que desempenhou na primeira vitória de Lula.
A carruagem virou abóbora, o príncipe virou sapo, a “estratégia” do poder desabou feito um dominó. A verdade falou mais alto e se impôs. O resultado aí está: o Procurador-Geral da República de então, Antônio Fernando de Souza, denunciou ao STF o que chamou de “quadrilha chefiada pelo ex-Ministro da Casa Civil, José Dirceu”.
Foi desesperado com inevitabilidade e a proximidade do julgamento dos mensaleiros que Lula sugeriu a CPI que poderá arrastar de roldão o governo de sua afilhada. Não conseguirá empastelar o julgamento do mensalão e nem domar os rumos da CPI.
Quem viver verá.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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