Por Arthur Virgílio*
A CPMI do Cachoeira, que terá de ser, cada vez mais, da Delta Construções, acertou ao convocar os governadores Marconi Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. Mas errou gravemente ao dispensar dessa obrigação o governador fluminense Sergio Cabral e seu parceiro de todas as horas, Fernando Cavendish, dono da Delta e evidente sócio do já famoso contraventor goiano.
Mais do que a festança ridícula de Paris, guardanapos na cabeça e funk grotesco, pesa contra Cabral e Cavendish a concentração mais que suspeita de contratos e pagamentos à Delta, na administração fluminense. Se essa empresa havia adquirido status de polvo, ressalte-se que suas performances mais “brilhantes” estão no Rio de Janeiro e, sobretudo, no governo federal: a pequena empreiteira que Cavendish recebeu de seu pai tornou-se a preferida do PAC e, em menos de onze anos de mando petista, a sexta maior do Brasil.
O desgaste pela não-convocação de Cabral e Cavendish foi sensível. O empreiteiro mandou seu recado: “se me chamarem, não ficarei calado. Falarei”.
Senha fortíssima para quem o prefere silente.
Nunca a política e os políticos estiveram tão mal avaliados pela sociedade. Nunca tão perigosamente distantes. Nunca falando linguagens tão diferentes. Nunca utilizando símbolos tão conflitantes entre eles.
Penso no jovem da periferia das cidades brasileiras, frequentador de lan houses. O que significariam para ele a política, os políticos, as próprias instituições que lhes regem a vida?
O que representam hoje os sindicatos e associações congêneres? Não estariam virados para dentro deles mesmos, de costas para os problemas gerais das cidades, do país?
Olhemos o Congresso. O governo Lula desmoralizou um dos principais instrumentos de fiscalização do poder pela minoria, que são as CPIs. Desmontou a praxe de cada partido indicar seus melhores nomes e iniciou a fase das tropas de choque ou, como prefere o deputado Miro Teixeira, de “cheque”, sempre prontas a perseguir adversários e acobertar apadrinhados do poder.
A abertura dos sigilos bancário, telefônico e fiscal da Delta deverão resultar em escândalo dentro do escândalo. Daí o sentimento que tenho de que a maioria aproveitará o período eleitoral para buscar esvaziar a CPMI.
Quem perde com isso é a democracia, para júbilo de quem não se acostuma com ela, não a ama, não a estima, não aceita os limites que ela impõe.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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