Por Arthur Virgílio*
Pertenço a uma família de políticos. Meu pai, Arthur Virgílio Filho, foi Deputado Estadual, líder de governo e de oposição na Assembleia, que presidiu, Secretário de Finanças e de Justiça. Foi Deputado Federal, vice-líder e líder do PTB de João Goulart e Brizola. Foi Senador, líder do seu partido e do governo Jango. Com a ditadura de 1964, virou líder, no Senado, contra a nova ordem. Foi cassado, aos 48 anos, pelo AI-5. Mesmo após a anistia, decidiu não mais disputar eleições.
Meu tio-avô materno, Severiano Nunes, foi Secretário de Justiça e Deputado Federal e Senador pelo Amazonas. Era o maior líder da UDN no estado, adversário de meu pai, embora amigo pessoal. Meu avô materno foi Vereador e Intendente (Prefeito) interino de Manaus. Meu bisavô paterno foi Deputado Estadual. Eu próprio, que sou pai de político, tenho 34 anos de vida pública.
Não enriquecemos. Não usamos a política como gazua para arrombar cofres.
Nos tempos de meu pai, quando um Ministro ia lá em casa, minha mãe avisava a mim e aos meus irmãos: “nada de correria, gritos e brigas hoje” pela casa. O visitante, invariavelmente, era respeitável, impunha respeito por sua biografia e suas atitudes.
Hoje, qualquer um pode ser Ministro. Daí o vexame de tantas demissões, sob acusações de corrupção, como acontece no atual governo. O escândalo foi vulgarizado, sobretudo nessa quase década de gestão petista.
O caso do chamado mensalão precisa ser julgado com presteza, como deseja o Presidente do STF, Ayres de Brito. Os implicados nas trampolinagens de Carlos Cachoeira e da Delta Construções devem ser punidos rigorosamente, mesmo que isso atinja altos escalões estaduais e federais.
O dono da Delta, Fernando Cavendish, declarou que compra políticos a R$6 milhões, no varejo, e R$30 milhões, no atacado. Sua empresa cresceu quase 3.700%, em faturamento de recursos federais, nos últimos nove anos.
Cachoeira, contraventor da área dos caça-níqueis, do videopôquer e de negócios “claros”, que “lavam” dinheiro sujo, grampeou meia República. Seu contador estaria nos EUA, altamente documentado, cobrando do governo federal que proteja seu patrão. A boataria aventa que os astronômicos honorários de Marcio Tomaz Bastos estariam sendo pagos pelo PT, no intuito de ter alguém capaz de “controlar” e “orientar” as declarações do cliente na CPI. São boatos. Mas uma coisa é fato: Cachoeira, que estava em presídio de segurança máxima em Mossoró, já conseguiu transferência para Brasília.
A influência de Cavendish e Cachoeira passa pelos três poderes e por políticos de diversos partidos. Consta que Lula estaria arrependido de ter orientado o PT a “brigar” pela CPI. Teria percebido que ela não impedirá o julgamento do mensalão e será enorme transtorno político-jurídico para companheiros, aliados, quem sabe ele próprio e sua afilhada.
Aguardemos.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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