Por Arthur Virgílio*
O governo Dilma perdeu, em apenas treze meses, nove Ministros: sete sob pesadas suspeitas de corrupção; um, Nelson Jobim, por discordância da orientação oficial, e a Ministra das Mulheres, cujo nome não decorei, por incompetência. Recorde mundial, se falamos de país sério. Números “normais”, se nos referirmos a ditaduras ou a países sem nenhuma estabilidade política.
Diz o ingênuo: “Mas a Presidente demitiu quem errou”. Responde o realista: “ela fez tudo para não demitir nenhum dos acusados de malversar a coisa pública. Terminou, isto sim, capitulando diante da pressão da imprensa e da sociedade. E ainda insiste em manter os dois Fernandos: Bezerra, por temer o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e Pimentel, amigo que mantém desde os tempos da luta armada contra a ditadura de 1964.
Na verdade, o placar será bem mais elástico, quando ela não mais tiver condições de “segurar” Fernando Bezerra e Fernando Pimentel, o amigão do peito. Serão então nove os demitidos por corrupção.
O Conselho de Ética da República resolveu deliberar sobre a conduta de Fernando Pimentel, que recebeu dinheiro por consultorias que não prestou, inclusive no tempo em que já era coordenador da campanha presidencial de Dilma. Trocando em miúdos: tráfico de influência, nos moldes praticados por seu correligionário Antonio Palocci. Mais em miúdos ainda: sua posição no governo é insustentável, derrubando de vez a “persona” da “faxineira” que a Presidente quis teatralizar perante a nação. Em miúdos mais uma vez: Pimentel deve ser demitido (seria profilático) ou Antonio Palocci teria de ser readmitido – e isso seria o fim da picada.
Descontente com a decisão do Conselho, Dilma simplesmente ameaça substituir alguns dos seus integrantes por pessoas de “confiança”. Paga qualquer preço para conservar ao seu lado o “consultor” Fernando Pimentel.
Se ela realmente consumar a nefasta intenção o Conselho passará a ser mera instância homologatória das delinquências palacianas. Rebaixar-se-á a instrumento que Fidel Castro aprovaria para vigorar em Cuba. Não mais servirá de proteção e exigência a padrões de decência na vida pública brasileira.
No desejo de desfigurar o Conselho, vejo, a um tempo, terrível manifestação de autoritarismo e cumplicidade com atitudes não-republicanas de membros do governo. Na ilusão de que pode tudo, a Presidente confunde as prerrogativas que ganhou das urnas – e que são limitadas pela Constituição Federal – com o poder dos monarcas absolutistas do passado ou dos ditadores ainda remanescentes, que o Brasil, faz nove anos, corteja tão insensatamente pelo mundo afora.
Desapreço à democracia junto com desapego à ética dá em coquetel perigoso e explosivo demais para o tolerarmos sem reação firme e obstinada.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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