O relator da CPI da Máfia do Futebol na Câmara dos Deputados, Fernando Monteiro (PP-PE), adiantou ao Panorama Esportivo que vai sugerir em seu relatório o rompimento do contrato de patrocínio da Nike à seleção.
A Nike é investigada nos Estados Unidos por suspeita de pagamento de propina durante acordo de patrocínio de US$ 160 milhões assinado em 1996 com a CBF, na gestão Ricardo Teixeira. A empresa seria citada na acusação do Departamento de Justiça dos EUA contra dirigentes da Fifa por pagamento paralelo de parte do valor do contrato, que, em novo aditivo, foi prorrogado até 2017. O parlamentar aguarda o recebimento dos documentos americanos para identificar legalmente como fazer a proposta de ruptura.
– Vou sugerir no relatório o rompimento da Nike com a seleção brasileira para começar, como um marco anticorrupção – declarou Monteiro:
– De US$ 160 milhões, entraram US$ 120 milhões. Onde foi parar o restante? De todo o problema de corrupção verificado na CPI, a maior ocorrência é na entrada do dinheiro, e não na saída.
CORRUPÇÃO PRIVADA COMO CRIME
Além de propor o rompimento, o parlamentar vai sugerir a tipificação do crime de corrupção privada; a publicação de balanço anual da CBF auditado; o fim das agências de marketing como intermediários de patrocínio a empresas e campeonatos de futebol; e a fiscalização sobre o que o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, expôs durante a sua participação na CPI.
– Toda a investigação sobre corrupção na Fifa desencadeada pelo FBI e pela Justiça americana só foi possível porque o dinheiro passou pela Suíça e pelos Estados Unidos, onde a corrupção no ente privado é crime. Vou sugerir a tipificação da corrupção privada – disse o relator, que irá pedir prorrogação de 30 dias para o fim da CPI, com prazo final previsto para 5 de agosto.
As empresas de marketing também estarão no relatório, que vai propor o fim da participação dessas agências. Segundo Monteiro, a ideia é acabar com os intermediários do investimento.
– Se uma empresa quer patrocinar um campeonato de futebol, ela deposita o dinheiro direto na conta da confederação. Pronto, acabou. Digo isso porque o maior volume de denúncias recentes diz respeito à Traffic (agência de José. Hawilla, preso nos EUA) – disse Monteiro.
PIVÔ DO ESCÂNDALO
José Hawilla é pivô do escândalo. Ele afirmou ter pago suborno por mais de 20 anos à CBF em depoimento à Justiça americana. Em acordo, foi obrigado a devolver R$ 575 milhões. Além de citar os ex-presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Marin, e o atual, Marco Polo del Nero, o empresário afirmou que a Klefer, empresa de Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo, também teria participado do esquema de propinas para organizar a Copa do Brasil.
Kleber já depôs na CPI, que, agora, segundo o deputado, estuda o seu indiciamento, sugestão que poderá constar no relatório de Fernando Monteiro.
– Eu duvido. Sabe por quê? Porque não há provas. Eu fui lá, falei por horas, abri meu coração, falei o que podia e o que não podia, contrariando meus advogados. Como pode haver indiciamento sem nada? Com base em um depoimento sem um pingo de sanidade, um ato de vingança (de Hawilla). Eu estou tranquilo. Não perco o sono com isso – disse Kleber Leite.
Walter Feldman preferiu comentar sobre a sua ida à CPI e a sugestão de Monteiro, que pretende monitorar o que foi relatado pelo superintendente da CBF.
– Eu acho ótimo. Isso é bom. Colocamos todo um trabalho de ética que estamos desenvolvendo e, especificamente sobre isso, é bom que seja acompanhado. Quanto aos demais pontos, tratamos com muito cuidado, porque a CPI é do futebol, sobre os fatos de Zurique (sede da Fifa), e não da CBF – afirmou Feldman.
Jornal O Globo
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