Na teoria do copo meio cheio ou meio vazio, podemos ver a realidade política do Brasil igualmente com otimismo ou pessimismo. Mas olhando a política e as instituições de um ponto de vista menos apaixonado, temos razões, sim, para acreditar no Brasil, seja qual for a crítica que tenhamos ao atual governo.
O fato é que saímos de uma eleição extremamente polarizada, que dividiu o país, e ainda assim a transição de poder se fez de acordo com todos os ritos. Não é pouca coisa. É um sinal maiúsculo de maturidade institucional e de segurança jurídica e social do país, ativo valiosíssimo na emergência de uma nova geopolítica mundial que induzirá a realocação de capitais dos destinos antes “seguros” para novos polos de atração.
O Brasil não pode desperdiçar essa janela de oportunidade. E, nesse sentido, é importante esclarecer o papel da oposição a um governo de esquerda, levando em conta o interesse nacional, o povo brasileiro e a inserção internacional do Brasil. Ser direita não é ser antiesquerda.
Ou seja, não somos conservadores contra ninguém, mas a favor das convicções que temos de que a experiência histórica mostra que o centralismo estatal, o excesso de burocracia, o desestímulo e sobrecarga à livre iniciativa já se comprovaram saídas que levaram à estagnação e à pobreza, enquanto um capitalismo sob controle de regras de um Estado regulador forte é a experiência humana que produziu o melhor resultado para as sociedades em que foi adotado.
Durante muito tempo, a esquerda tentou capturar ideias conservadoras como se fossem dela. O maior exemplo é o “imposto de renda negativo”, chamado de Auxílio Brasil ou Bolsa Família. Uma ideia do capitalismo liberal, esquerdizada pela propaganda. Não à toa o maior programa social de todos os tempos do Brasil foi feito num governo conservador, de Bolsonaro, durante a maior pandemia da humanidade. Aceitem que dói menos.
É por isso que tenho levantado uma reflexão sobre o que é ser conservador e oposição hoje. Não somos o PT e não temos que imitar um dos piores aspectos da esquerda: mudar de opinião de acordo com sua posição de poder. O PT teria ficado contra as mesmas reformas que propôs, se Bolsonaro tivesse ganhado a eleição: tributária, arcabouço.
Temos de colocar em prática nossas ideias, de preferência no governo. Mas temos de demonstrar que não praticamos a mesquinhez da esquerda, de sabotar governos apenas pela sede de poder. Essa deve ser a nossa diferença. O nome disso não é ingenuidade, nem adesismo (vamos aderir a nós mesmos? Ou será que são eles que estão, na realidade, aderindo a nós?).
O nome disso é coerência. O governo Lula está aí. E há toda uma série de pontos que não merecem respaldo, como o apoio a ditaduras e ditadores, uma política externa que se pretende altiva, mas parece mais concentrada em retóricas antiquadas e tentativas de retrocessos.
Ninguém pode dizer como o governo Lula irá terminar. Mas ninguém, do mesmo modo, poderá culpar a oposição por tê-lo sabotado ou inviabilizado. Todas as propostas corretas do governo serão, em princípio, avaliadas com isenção.
Ser oposição não é tirar uma licença para ser irresponsável. Temos compromissos com o país e errar de propósito, como a esquerda já fez quando oposição, não é a oposição de que o Brasil precisa. Não fazemos política porque somos contra. Mas porque somos a favor daquilo em que acreditamos.
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