Por Arthur Virgílio*
Está para ser julgado o escândalo do mensalão. Confio muito nos homens e mulheres ilustres que integram o Supremo Tribunal Federal.
Com essa gente impune, de nada terá adiantado a lei da ficha limpa. Temos de ter absoluta ciência disso. Chegou a hora dos peixes graúdos, se queremos, de fato, moralizar e limpar a vida pública do país.
O mensalão se constitui no maior escândalo de nossa história republicana. Abriu as portas para uma campanha sistemática e oficial de desmoralização das instituições brasileiras. Todas, sem exceção, perderam densidade nos últimos nove anos.
A corrupção se tornou endêmica. Vai dos pequenos aos grandes escalões, estimulada por estes últimos, que dão o péssimo exemplo que se espraia pelo tecido nacional, corroendo-o perversamente.
Um Ministro atrás do outro é denunciado por corrupção. A imprensa vem forçando as demissões que a Presidente Dilma Rousseff não gostaria de assinar. Tanto assim que insiste em manter, sem autoridade e legitimidade, Fernando Bezerra, da Integração, por reverência ao governador de Pernambuco, e Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, por meros laços de amizade pessoal e lembranças dos tempos da luta armada. Até mesmo Guido Mantega, da Fazenda, vive situação precária, a partir das nebulosas nomeação e demissão do Presidente do Banco Central, que teria recebido fortuna de fornecedores do órgão, em paraíso fiscal.
Oito outros membros do primeiro escalão do governo foram defenestrados, sob acusação de pesadas irregularidades. Apenas o nono, Nelson Jobim, da Defesa, saiu por discordar da orientação administrativa de Dilma Rousseff.
Nem adianta áulicos argumentarem que Dilma, a “durona”, demitiu os que cometeram “malfeitos”, porque ela fez tudo para mantê-los, elogiou cada travesso na hora da despedida e permitiu que os partidos de cada um indicassem os substitutos. Ou seja: a democracia brasileira expeliu essa turma. Dilma, se tivesse a protegê-la o silêncio de uma ditadura (como a de Fidel Castro, por exemplo), não os teria “punido”. Ou seja de novo: nomeando substitutos dos mesmos partidos dos “demitidos”, garantiu a não-investigação dos delitos e, portanto, a impunidade de seus aliados
Há nove anos anunciam obras que não saem do papel ou são superfaturadas. Quase uma década de gastos irresponsáveis, disfarçados pelo aumento constante da insuportável carga tributária que nos asfixia. Tempos de demagogia, de populismo, de atraso na educação, na saúde, na segurança pública. De desleixo em relação à infraestrutura falida, que nos ameaça com caos logístico.
Quando vi aquele personagem desqualificado “melar” a apuração das escolas de samba de São Paulo, indaguei aos meus botões se tal atitude já não seria reflexo do quadro que vivenciamos no país. Parece anarquia, anomia, desordem. Parece com o Brasil que não queremos para nossos filhos e netos.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
Rent Ferrai diz
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