Daniel Coelho, o candidato de si próprio
Não é de hoje que o deputado federal Daniel Coelho alimenta o sonho de ser prefeito do Recife. Nas eleições de 2012 obteve um resultado bastante expressivo na disputa pela prefeitura, quando atingiu 245.120 votos, desbancando Humberto Costa e Mendonça Filho, e por muito pouco não chegou ao segundo turno contra o atual prefeito Geraldo Julio.
Naquela eleição, graças a Sergio Guerra, Daniel conseguiu ser candidato e atraiu para o seu palanque o PPS e o PTdoB. Sem ganhar a eleição, mas com um excelente resultado, Daniel virou o alvo de Geraldo Julio, que há muito tempo fomenta a ideia de não tê-lo como adversário em 2016. E recentemente essa tese voltou a ganhar força, sobretudo após o anúncio da sua chapa tendo o empresário Sérgio Bivar (PSL) como candidato a vice-prefeito.
Abordamos o anúncio como um contra-senso, pois ainda faltava muito tempo para Daniel tomar essa decisão, naturalmente estaria fechando portas para a construção de uma aliança mais ampla, com partidos pequenos e médios que pudessem lhe apoiar. Porém, o buraco era muito mais embaixo. O anúncio foi esvaziado pela cúpula do PSDB. Nem Elias Gomes, nem Bruno Araújo, nem Betinho Gomes, nem Evandro Avelar, nem o próprio presidente da sigla Antonio Moraes se fizeram presentes no evento.
A atitude dos cardeais tucanos só tinha um caminho: não consideravam a candidatura de Daniel como um projeto do PSDB, mas sim dele próprio e de mais alguns nomes que dependem diretamente da sua vitória, como por exemplo André Régis, que em 2012 fez corpo mole na disputa pela prefeitura por parte de Daniel, mas ficou ressentido porque não foi convidado para a secretaria de Educação de Geraldo Julio e por isso decidiu fazer oposição ao socialista. Ou seja, o apoio de Régis é muito mais uma vingança a Geraldo do que propriamente por acreditar no projeto de Daniel.
O jogo do Recife traz consequências nas disputas por prefeituras importantes da RMR, mas também desdobramentos na conjuntura estadual e nacional. Por isso ninguém está disposto a bancar a candidatura de Daniel, muito pelo contrário, no PSDB ele é uma espécie de alguém que está com a cabeça a prêmio, pois há articulação entre PSDB e PSB além do Recife como em Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e outras cidades importantes. A rifada de Daniel pode beneficiar a candidatura de Evandro Avelar em Jaboatão dos Guararapes com o apoio do PSB, pode permitir um isolamento partidário ao deputado Lula Cabral, bem como a ausência dos grandes medalhões da Frente Popular na cidade a fim de deixá-lo mais enfraquecido para enfrentar Betinho Gomes, etc.
No âmbito nacional, a construção do governo Temer pode configurar num fortalecimento do PMDB, que ficará com a vice na chapa de Geraldo Julio, bem como na ascensão de políticos do PSB para a Esplanda dos Ministérios cujo nome preferencial é Beto Albuquerque. Além disso o próprio PSDB acredita que sua chance de chegar ao Planalto em 2018 é grande, e pra isso precisaria do PSB ao seu lado. Alinhando o apoio ao PSB na principal cidade do partido é uma senhora contrapartida visando 2018.
O fato é que não houve precipitação de Daniel em antecipar a chapa, mas sim uma vã tentativa de dar ares de fato consumado à sua candidatura, o que na prática não existe. Daniel segue com inúmeras chances de ficar de fora da disputa pela prefeitura do Recife, porque ele é candidato apenas de si próprio. Como não há vitória na política do “eu sozinho”, Daniel já pode se preparar para o anúncio oficial da sua cabeça a prêmio.
Eduardo Cunha – Após conduzir com mãos de ferro o impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o presidente Eduardo Cunha (PMDB) virou o alvo do establishment. Todos sabem que não há mais a menor condição política de Cunha continuar no cargo e a sua saída é questão de tempo. Resta saber se apenas perderá o o cargo de presidente ou se também ficará sem mandato sendo cassado pelos seus pares.
Revisão – Ainda há tempo para o governador Paulo Câmara rever a decisão de parcelar o salário dos servidores estaduais. A medida é bastante drástica e pode carbonizar a imagem do governador perante a sociedade. É aconselhável que o governador corte alguns custeios da máquina e espere pelo menos mais três meses após Michel Temer assumir a presidência da República. Caso o cenário continue negativo, o governador avalia a hipótese de parcelar salários.
Fernando Holanda – Pré-candidato a vereador do Recife pela Rede Sustentabiliade, o ativista Fernando Holanda lançará sua pré-candidatura na próxima quarta-feira. Holanda acredita que é possível integrar a cidade através das redes sociais e com práticas diferenciadas nas políticas públicas voltadas para um novo conceito de cidade. O evento acontece no Nós Coworking no Marco Zero a partir das 19 horas.
Oportunismo – O PSDB teve papel fundamental na reestruturação do país durante o governo Itamar Franco, quando através de Fernando Henrique Cardoso implementou o Plano Real que venceu a hiperfinflação. Em 2016 o partido não pode se furtar novamente de contribuir com o país através do governo Michel Temer. Não aceitar participar do governo indicando ministros cheira a oportunismo e pode não terminar bem para os planos dos tucanos em voltar a comandar o país um dia.
RÁPIDAS
Senado – O Palácio do Planalto já entregou os pontos sobre a disputa pelo impeachment no Senado Federal. Devem votar pelo impeachment entre 54 a 60 senadores, para Dilma ser afastada é necessário maioria simples, ou seja, metade mais um dos presentes na sessão, que se tiver todos os senadores presentes, são 41 votos.
Recuo – A presidente Dilma Rousseff desistiu de denunciar o “golpe que está sofrendo” na ONU ontem nos Estados Unidos. Após vários ministros do Supremo Tribunal Federal se posicionarem contrários ao que Dilma iria falar, o Planalto avaliou que seria um tremendo tiro no pé abordar o tema. Seria uma desmoralização ainda maior para a figura de Dilma.
Inocente quer saber – Quem será o marqueteiro de Geraldo Julio na busca pela reeleição?