A reta final do impeachment
Faltando menos de 48 horas para a votação que definirá o futuro de Dilma Rousseff, as negociações seguem a todo vapor em Brasília. A oposição diz ter pelo menos 370 votos pelo afastamento da presidente, enquanto o Planalto diz ter os números suficientes para barrar o impeachment, porém não aponta números. A guerra dos números era esperada nesta reta final, e a essa altura do campeonato ninguém dará o braço a torcer.
O fato é que o Planalto pode ter conseguido, haja vista que existem rumores que estaria oferecendo R$ 2 milhões em dinheiro vivo para o deputado votar contra o impedimento de Dilma, quebrar uma tendência que caminhava para os votos pró-impeachment beirar os 400. Mas dificilmente conseguiria reverter trinta votos para dar uma margem segura e inviabilizar o impedimento. Numa conta rápida seriam por baixo R$ 60 milhões em espécie para reverter o impeachment. É uma logística complexa de ser feita e bastante arriscada nos dias de hoje, porque qualquer vídeo feito por um celular poderia implodir o Planalto e a carreira do deputado que se submetesse a esse tipo de expediente.
Há uma guerra psicológica dos números, sobretudo após as fragorosas derrotas que o Planalto sofreu na última quinta-feira no Supremo Tribunal Federal na tentativa inócua de modificar a ordem de votação do impeachment ou pior, tentar barrar a votação. Isso fez com que o Advogado Geral da União José Eduardo Cardozo saísse desmoralizado do plenário do STF.
Lula, por sua vez, sabe que a situação é preta, primeiro porque a sua liberdade depende exclusivamente da continuidade de Dilma no governo. Ele sabe que as chances de virar presa fácil nas mãos de Sérgio Moro são gigantes com a provável saída de Dilma. Além disso existe o jogo futuro da imagem do próprio Lula e do PT. Com Dilma sofrendo o impeachment a falácia de golpe cairá por terra e a situação de Lula se agravará ainda mais, pois a sua criatura teria fracassado no governo de tal modo que foi capaz de sofrer o impeachment. Isso será letal para Lula, que ainda sonhava com a hipótese de dar a volta por cima e chegar ao Planalto em 2018.
Por fim o jogo contrário. A oposição capitaneada por Michel Temer já precisa trabalhar com o day after, ou seja, a construção do eventual governo que deverá ser efetivado apenas em 12 de maio, quando deverá ser votado no Senado o impeachment de Dilma Rousseff. Isso já é feito nos bastidores, mas com a vitória na Câmara será intensificado para o governo Temer já começar pronto do ponto de vista da estrutura ministerial e dos nomes que ocuparão os postos. Além disso já será possível elaborar os eixos do governo a fim de ganhar o mercado, o congresso e a sociedade nos primeiros meses.
Chegamos na véspera da votação com uma forte tendência de impeachment, que precisa ser confirmada no plenário, mas não podemos menosprezar o poder do dinheiro. Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada. Veremos as cenas deste capítulo importante da nossa história, falta pouco.
Gilberto Kassab – Presidente de um dos maiores partidos do Brasil, o PSD, Gilberto Kassab ocupava o ministério das Cidades, pasta importante da Esplanada que tem ligação direta com os municípios através de obras estruturantes e de mobilidade. Ontem anunciou a saída do cargo, o que pode ter um sinal claro de que o governo não tem chances de reverter o quadro. Fora do governo Kassab agora pode trabalhar irrestritamente pelo impeachment e pela construção do governo Temer.
Aliança – Insatisfeito com o tratamento dispensado pelo Palácio do Campo das Princesas, o presidente nacional do PSL e primeiro suplente de deputado federal Luciano Bivar decidiu levar o seu partido para a coligação capitaneada por Daniel Coelho na disputa pela prefeitura do Recife. O vice na chapa será Sergio Bivar, filho do ex-presidente do Sport Recife.
Negociação – Além de negociar com o PSB para a convocação de Kaio Maniçoba em troca de Bivar assumir o mandato e dar o apoio do PSL a Geraldo Julio, Bivar também negociou com Priscila Krause, porém como a democrata não aceitou que o PSL indicasse o vice na sua chapa, acabou perdendo um importante apoio ao seu projeto para Daniel Coelho.
Eduardo da Fonte – Conhecedor do jogo de Brasília, o deputado Eduardo da Fonte (PP) se mantém ao lado de Dilma Rousseff com o objetivo de garantir pleitos solicitados ao Planalto, mas principalmente para valorizar o seu passe no governo Michel Temer. Isso porque Dudu seria melhor cortejado depois do que dando seu apoio agora. Essa é a leitura de um deputado da Alepe.
RÁPIDAS
Segurança – Há quem defenda o “impeachment” do secretário de Defesa Social Alessandro Carvalho. Na visão de um deputado da bancada governista na Alepe, Carvalho está com o prazo de validade vencido e sua saída do cargo seria o melhor caminho para tentar recuperar o Pacto Pela Vida, pois a segurança pública do governo Paulo Câmara ganharia sobrevida a partir de então.
Anderson Ferreira – O deputado Anderson Ferreira, que não decolou nas pesquisas para prefeito de Jaboatão, está em vias de retirar a sua candidatura para apoiar um nome de consenso da Frente Popular. Anderson teria avaliado que não valeria a pena entrar numa disputa onde não tem sequer dois dígitos nas pesquisas e nem o apoio de estruturas de governo para viabilizar o projeto.
Inocente quer saber – Evandro Avelar será o candidato do PSB a prefeito de Jaboatão dos Guararapes?