Impeachment, eu já escuto os teus sinais
A semana começou com um viés de crescimento do impeachment da presidente Dilma Rousseff, e se agravou após a confirmação dos votos da comissão que analisava a admissibilidade do impedimento da presidente. Após debates acalorados, o resultado final confirmou o que o próprio Planalto já considerava: a derrota. Foram 38 votos a favor do relatório do deputado Jovair Arantes e 27 contra.
No meio da discussão da admissibilidade do impeachment surgiu um áudio do vice-presidente Michel Temer falando como se o impedimento já tivesse sido aprovado no plenário da Câmara. Em que pese o timing da fala do vice, que poderia ser divulgada apenas na segunda-feira caso o impeachment fosse aprovado, o seu conteúdo pareceu uma sinalização para o mercado, para o congresso e principalmente para a sociedade.
A questão é estratégica. De acordo com o Datafolha, o vice é rejeitado por 58% dos entrevistados, que dizem ser favoráveis a sua saída, apenas 3% a menos que os que querem a saída de Dilma. Portanto, o vice, e eventual futuro presidente, precisa estabelecer um canal de diálogo com os mais variados setores da sociedade. Quando Temer afirma que manterá os programas sociais, fala para os beneficiários do Bolsa-Familia que temem a saída do PT. O mesmo se diz para o Congresso quando Temer considera a importância do diálogo com o Poder Legislativo, bem como para o empresariado, quando diz que precisa fazer a retomada da economia.
Apesar das falas um pouco genéricas, Temer tem ao seu favor o benefício da dúvida e uma trégua que Dilma é incapaz de conseguir caso reverta o impeachment no Congresso. A sua fala é uma sinalização sintética do que seria o seu governo. O momento agora para Temer é descolar sua imagem de Dilma e apontar as suas diferenças em relação a atual presidente com o objetivo de diminuir a rejeição que existe ao seu eventual governo. O Planalto avaliou como tiro no pé do vice, mas fazendo um exercício de raciocínio, ficou evidente que a fala de Temer sendo divulgada acabou sendo benéfica para o próprio vice, uma vez que naturalmente, de forma legítima, ele está se preparando para assumir o cargo, e cada vez mais está em vias disto ocorrer. Qualquer um no lugar dele já estaria esboçando como seria a estratégia do seu governo.
No âmbito do plenário da Câmara dos Deputados, fontes fidedignas apontam que nem a oposição tem os 342 votos necessários para aprovar, nem o governo tem para rejeitar. Porém a conta que circula em Brasília é que temos 334 deputados favoráveis ao impedimento de Dilma e 140 contrários. 39 estão indecisos a essa altura do campeonato. O efeito manada fará com que esses indecisos sejam fundamentais para o desfecho. É provável que esses indecisos nem estejam mais na expectativa de ganhar emendas do Planalto, mas sim seguir a tendência e acompanhar o lado vitorioso.
Como faltariam nessas contas apenas oito votos num universo de 39, após a aprovação do relatório na comissão por uma folga de 11 votos, é muito provável que o impedimento de Dilma seja aprovado com mais votos que os 342 necessários. O impeachment está chegando, já podemos escutar os seus sinais.
Rogério Rosso – Presidente da Comissão do Impeachment, o deputado Rogério Rosso (PSD/DF) conseguiu agradar a gregos e troianos. Com uma semelhança física incrivel com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, Rosso também aparentou saber exercer o cargo com maestria. Se já tem um vitorioso neste processo, esse alguém é o deputado Rosso.
Eduardo Cunha – Não entrando no mérito dos seus problemas com a justiça, que são muitos, o presidente da Câmara deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ) mais uma vez mostrou ser um profundo conhecedor da Câmara dos Deputados, quando cravou o placar da Comissão do Impeachment. Se não fosse a sua conduta moral que é absolutamente questionável, Cunha seria o presidente ideal para a Câmara dos Deputados, pois conhece a Casa como a palma da sua mão.
Ney Maranhão – A política pernambucana perdeu ontem aos 88 anos de idade o ex-senador Ney Maranhão, que foi prefeito de Moreno e deputado federal por quatro mandatos. Ney foi um dos membros da tropa de choque do presidente Fernando Collor de Mello, ao lado de Renan Calheiros e Roberto Jefferson. Ney desceu a rampa do Planalto ao lado de Collor após o seu impeachment.
Homenagem – O prefeito Geraldo Julio anunciou ontem duas homenagens que serão prestadas pela Prefeitura do Recife ao ex-vereador Liberato Costa Júnior. O “Velho Liba”, como era carinhosamente conhecido o parlamentar, completaria 98 anos ontem. O Conjunto Habitacional H08, que está em fase final de conclusão no bairro de Campo Grande receberá o nome do vereador. A Praça do Hipódromo, bairro em que residiu por parte de sua vida, receberá um busto do ex-vereador.
RÁPIDAS
Arena – Antes defensor do rompimento do contrato da Arena Pernambuco, o líder da oposição deputado Sílvio Costa Filho (PRB), após o governo do estado optar pelo rompimento, afirma que a recisão unilateral do contrato trará prejuízos aos cofres públicos estaduais.
Palestra – Realizei ontem na Faculdade Joaquim Nabuco uma palestra sobre o impeachment de Dilma Rousseff. A conversa durou duas horas e pudemos discutir o contexto histórico da política brasileira, as semelhanças e diferenças entre o impeachment de Dilma e o de Collor, o pós-impeachment em qualquer que seja o seu desfecho e a expectativa para o cenário eleitoral de 2018. Foi uma ótima oportunidade de discutir política.
Inocente quer saber – O PT sobreviverá ao impeachment de Dilma Rousseff?