As credenciais de Michel Temer
Já faz muito tempo que falamos nesta coluna sobre a hipótese de Michel Temer ser o caminho natural para a situação política do país. Sabíamos que a tese defendida pelo PSDB na época de convocar novas eleições era estapafúrdia e praticamente inexequível por uma questão básica, a falta de viabilidade, ora pela situação política do país que não comportaria uma nova eleição sem deixar sequelas insanáveis dado o acirramento que existe entre os dois lados da moeda, ora pela questão prática da demora da justiça, que é comum no país. A ação que tramita no TSE que pede a cassação da chapa por abuso de poder econômico deve demorar significativamente, podendo causar uma eleição indireta se perdurar até dezembro de 2016.
A saída Michel Temer é o mesmo caminho que foi percorrido na ocasião do impeachment de Fernando Collor quando Itamar Franco assumiu o governo, com aspectos favoráveis a Temer porque a hiperinflação que Itamar herdou de Collor foi controlada pelo Plano Real, a desvalorização da nossa moeda que hoje é significativa, dá sinais que apenas com a saída de Dilma Rousseff o quadro pode se inverter e o real voltar a ganhar força em relação ao dólar.
Hoje o maior problema que enseja o governo federal é a falta de credibilidade da figura da presidente. Ela é incapaz de falar aos brasileiros e falar ao mercado. Ultimamente ela adotou o samba de uma nota só de que “não vai ter golpe”, e perdeu toda e qualquer condição de conquistar uma governabilidade mínima, uma vez que em mais de cinco anos apenas nos dois primeiros vivenciou uma pseudogovernabilidade, que posteriormente caiu por terra com as manifestações de junho de 2013.
A mudança de presidente não será como um passe de mágica para solucionar o problema da economia, que vivencia uma estagnação, com forte incidência de inflação e que tem como resultados imediatos o aumento do desemprego, a escassez de crédito, o endividamento das pessoas e o fechamento das empresas. Porém, a saída de Dilma e entrada de Temer quebra o ciclo negativo de falta de credibilidade do governo federal e dá uma margem de três a quatro meses para que as ações do novo governo, sobretudo na economia, possam apresentar um novo sentido para o país.
As credenciais de Temer são majoritariamente do fato de ter sido um exímio congressista. Deputado federal por 24 anos e presidente da Câmara dos Deputados por três oportunidades, o vice-presidente, diferentemente de Dilma Rousseff, conhece o Congresso Nacional como a palma da sua mão. A retomada do diálogo do Planalto com o Senado e a Câmara será peça-chave na recuperação do país. Hoje o que temos é um executivo que não tem outro argumento senão a distribuição de emendas, de cargos e de ministérios. Governo fraco é sinal de congresso chantagista, presidente forte é sinal de legislativo parceiro capaz de contribuir com a retomada dos pilares macroeconômicos e sobretudo os pilares políticos que norteiam um governo.
Michel Temer, num paralelo com Itamar Franco, tem credenciais ainda melhores para assumir o cargo, pois além de ter sido Congressista e presidente da Câmara por três oportunidades, ele foi também por diversas vezes escolhido como um dos parlamentares mais influentes do país. Se tem uma coisa que Temer entende é de Congresso Nacional, e entre uma presidente que não dialoga com deputado e senador, e um presidente que não só fala como também ouve os parlamentares, é óbvio que deputados e senadores ficarão com o segundo.
Debandada – Com a saída de partidos importantes como PR, PP, PRB e provavelmente PSD da base de Dilma Rousseff, já há em Brasília uma conta que atinge 380 votos favoráveis ao impedimento da presidente. Se já havia um forte indicativo de que o impeachment seria aprovado, os acontecimentos desta semana e sobretudo a postura arrogante e prepotente do Planalto contribuíram para que o governo perdesse qualquer condição de recuperação.
Toalha – Setores ligados a Dilma Rousseff já admitem reservadamente que não tem mais condição nenhuma do impeachment ser revertido domingo. O Planalto não dirá publicamente mas já está havendo uma jogada de toalha. A tentativa agora é fazer com que a saída de Dilma não seja de forma tão acachapante. Os fatos atropelaram o governo como um rolo compressor.
Enfraquecimento – Com a situação do PT se agravando de forma abrupta, nomes que apoiam Dilma Rousseff no plano nacional e pretendem disputar a prefeitura do Recife em outubro como Silvio Costa Filho (PRB) e João Paulo (PT) já admitem que terão sérias dificuldades de carregar o fardo do apoio à presidente, e isso pode trazer desdobramentos negativos para as suas respectivas campanhas a prefeito.
Ministeriável – Com a provável aprovação do impeachment no próximo domingo, a partir de segunda-feira começarão as articulações visando a composição do novo governo Michel Temer. De Pernambuco há quem aposte fortemente que o deputado Mendonça Filho (DEM) figura numa lista de ministeriáveis. Caso se confirme, Temer seguiria uma lógica dos últimos presidentes de terem ao menos um político pernambucano na esplanada dos ministérios.
RÁPIDAS
Armando Monteiro – Aliado inseparável de Dilma Rousseff, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Armando Monteiro confidenciou a interlocutores que descerá a rampa do Planalto ao lado de Dilma. Com isso Armando voltará ao Senado para cumprir os dois anos e meio de mandato que ainda lhe restam.
José Serra – Um dos maiores interlocutores do vice-presidente Michel Temer é o senador José Serra (PSDB/SP), que já foi duas vezes candidato a presidente da República e ministro do Planejamento e da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. Serra está cotado para assumir uma pasta importante no governo Temer que pode ser Planejamento, Fazenda ou Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Inocente quer saber – Jarbas Vasconcelos voltou a ganhar força para presidir a Câmara dos Deputados no provável governo Temer?