Governo perde a primeira batalha na luta contra o impeachment
O governo Dilma Rousseff vem acumulando uma série de derrotas ao longo de 2015, que nos últimos meses foram se agravando com a rejeição das contas de 2014 por unanimidade pelo TCU e recentemente com a tramitação do impeachment na Câmara dos Deputados. No final da segunda-feira o quadro se agravou com o vazamento de uma carta direcionada a Dilma escrita pelodo vice-presidente Michel Temer.
Ontem na escolha da comissão que iria avaliar a admissibilidade do impeachment, o governo em vez de negociar com os parlamentares a composição da chapa responsável pelo impeachment, quis empurrar goela a baixo um grupo de deputados reconhecidamente ligados ao Planalto e terminantemente contrários ao impeachment. A oposição se deu conta dessa situação e junto com dissidentes dos partidos lançou uma chapa avulsa para enfrentar a chapa apresentada pelo Planalto.
Apesar do PT tentar a todo custo inviabilizar a votação, inclusive quebrando algumas urnas, o processo acabou acontecendo e nele ficou evidenciada uma derrota acachapante da presidente Dilma Rousseff, com 272 votos a favor da chapa apresentada pela a oposição. Com isso a comissão do impeachment já começa com pelo menos 39 votos favoráveis ao processo. Em breve poderá ser votada a complementação da comissão que analisará o impeachment. Existem 26 vagas para membros titulares em aberto e 65 suplentes.
Numa simples votação, secreta, diga-se de passagem, o governo teve apenas 199 votos. Foi uma prévia de como seria a sessão que poderá tirar de uma vez por todas Dilma Rousseff do cargo. São necessários 342 votos para que o impeachment seja consumado. Fazendo um paralelo com a votação de ontem faltariam apenas setenta votos para que Dilma saia do cargo. Vale ressaltar que a sessão do impeachment além de ter votação aberta, será nominal. Dependendo do nível de pressão das ruas, deputado que hoje está com o governo tende a mudar de lado pra não pagar uma fatura alta nas eleições de 2018. Foi assim com Collor e deve se repetir com Dilma.
Até a consumação do impeachment teremos muito tempo pela frente, sobretudo com a judicialização que o governo pretende criar no processo, mas uma coisa ficou evidente no dia de ontem: se o governo acreditava que seria fácil sepultar o impeachment, é bom refazer as contas.
Adiou – O ministro do STF Luiz Fachin decidiu na noite de ontem que o processo do impeachment na Câmara dos Deputados ficará paralisado até o plenário do Supremo Tribunal Federal decidir no próximo dia 16 se é constitucional o rito determinado por Eduardo Cunha para o impeachment. Apesar do adiamento, todos os procedimentos realizados até agora, inclusive a eleição de ontem, estão mantidos. Fachin foi indicado por Dilma para ocupar a vaga de Joaquim Barbosa no STF.
Dúvidas – O Palácio do Planalto conseguiu uma vitória ontem aos 45 do segundo tempo com o adiamento da instalação da comissão que avaliará o impeachment para o próximo dia 16, mas isso não necessariamente significa uma vitória, poderá fustigar ainda mais os defensores do impedimento da presidente que estão se juntando para irem às ruas no próximo domingo. A sensação de impunidade após essa decisão poderá levar o povo para as ruas em números inimagináveis.
Referência – O governo de Pernambuco virou referência no combate à microcefalia. Na reunião com os governadores, Paulo Câmara foi muito requisitado para compartilhar com os colegas as ações realizadas no estado. Acompanharam o governador o secretário de Saúde Iran Costa e o prefeito de Cumaru Eduardo Tabosa, que é secretário-geral da Confederação Nacional dos Municípios.
Hostilizado – Após assinar o manifesto de dezesseis governadores em defesa da presidente Dilma Rousseff, o governador Paulo Câmara foi hostilizado nas redes sociais. Muitos chegaram a dizer que nunca mais votariam no socialista por causa da atitude tomada ontem. Na ótica de alguns políticos, o governador poderia ter evitado o desgaste se não tivesse tomado tal posição.
RÁPIDAS
PMDB – Após a desastrosa articulação para indicar somente deputados alinhados com o Planalto na comissão que avaliará o impeachment, o líder do PMDB na Câmara Leonardo Picciani (RJ) deverá perder o posto para o também deputado Leonardo Quintão (MG).
Severino Cavalcanti – Após ter suas contas de 2010 rejeitadas pela Câmara de Vereadores em 2013, o ex-prefeito de João Alfredo Severino Cavalcanti (PP), assessorado pelo advogado Tito Moraes, especialista em direito eleitoral, conseguiu anular o julgamento, sendo marcada uma novo nova sessão para apreciar suas contas em breve. Com uma Câmara menos hostil, o ex-presidente da Câmara dos Deputados poderá ter suas contas aprovadas e ficar apto para as eleições de 2016.
Inocente quer saber – O governador Paulo Câmara não calculou o risco político de apoiar Dilma Rousseff ontem?