A crônica de uma derrota anunciada
Durante o ano de 2017 os senadores Armando Monteiro e Fernando Bezerra Coelho e os deputados federais Mendonça Filho, Bruno Araújo e Fernando Filho, então ministros de Michel Temer, se uniram em Caruaru em um ato conjunto do ministério das Cidades numa entrega de casas do Minha Casa Minha Vida. Ali estava se formando o grupo oposicionista que estava pretendendo disputar o governo de Pernambuco.
Em dezembro ocorreu no Recife o primeiro ato intitulado Pernambuco quer Mudar, numa unidade de deputados federais e estaduais, os dois senadores, os ministros e alguns prefeitos. Era o pontapé inicial para uma coalizão formada por partidos e políticos que haviam sido afastados da Frente Popular. Ainda ocorreram mais três atos, um em Petrolina, um em Caruaru e o final em Ipojuca.
A cada evento, somente críticas ao governo do PSB, dizendo que faltava liderança a Paulo Câmara e que Pernambuco iria mudar, mas não se sabia qual era o projeto de mudança, uma vez que não se viu nenhuma proposta para a segurança pública, para a saúde ou para outros temas que careciam de discussão. Aquele formato de evento se mostrava cansativo e apontava para um caminho que não motivaria os eleitores numa disputa estadual. Era preciso mais do que críticas ao governador se a oposição quisesse mesmo vencer a eleição.
No evento de Caruaru houve o anúncio oficial de que haveria apenas uma candidatura ao governo daquele grupo. Uma estratégia que evidenciou a dificuldade oposicionista para a disputa, pois estava óbvio que a única chance de vitória seria num segundo turno e para isso era fundamental o lançamento de duas candidaturas. Somente em julho que a oposição definiu pela candidatura de Armando Monteiro, um nome que apesar de ter suas qualidades, foi derrotado em 2014 e estava atrás em todas as pesquisas, tendo sido incapaz de capitalizar politicamente a insatisfação que havia com o PSB.
O outro escolhido para a chapa foi Mendonça Filho, que já havia sido três vezes derrotado pela Frente Popular e que por muito pouco não se elegeu deputado federal no pleito anterior. No anúncio das duas candidaturas, somente críticas, nenhuma proposta, e o rumo seguiu até a convenção quando houve a oficialização de Bruno Araújo como segundo senador e Fred Ferreira como vice-governador. Os dois nomes tiveram vetos de Armando Monteiro, que somente foi convencido da aliança quando Bruno Araújo cogitou lançar uma candidatura própria a governador.
Talvez se Bruno Araújo tivesse lançado a candidatura ao governo em vez do Senado, e Armando Monteiro não tivesse vetado Silvio Costa como seu segundo senador, as chances da oposição seriam infinitamente superiores. Bruno pelo seu partido teria tempo de televisão suficiente para apresentar uma candidatura a governador que ajudaria a forçar o segundo turno, Silvio Costa por sua vez, na chapa de Armando serviria de antídoto para refutar a tese de palanque de Temer que o PSB quis aplicar na oposição.
Como se não bastasse, Armando Monteiro já na condição de candidato a governador se apresentou como um candidato sem identidade, uma vez que por onde passava dizia que votava em Lula, desrespeitando seu eleitor em potencial que era aquele que não votava em Lula em hipótese alguma. Até a estrela do PT Armando chegou a usar na sua campanha eleitoral. Durante um ato em Petrolina ao lado de Geraldo Alckmin, Armando não se fez presente, evidenciando uma total falta de sintonia e um desrespeito ao presidenciável.
O tempo passou e ficou latente o erro absoluto da oposição que abdicou de lançar duas candidaturas, abdicou de Silvio Costa que ajudaria muito a narrativa oposicionista e apresentou um candidato que se mostrou incapaz de capitalizar as dificuldades do governo. Com o decorrer da campanha, Paulo Câmara que garantiu o MDB e o PT na sua coligação começou a crescer nas pesquisas distanciando-se de Armando até uma pesquisa Datafolha apontar um empate técnico entre ambos.
Naquele momento era a chance de Armando surfar na onda, criando um fato político que pudesse manter uma tendência de crescimento, mas novamente a oposição subestimou a força do PSB, que se organizou e construiu a narrativa da reforma trabalhista, o que foi o tiro de misericórdia em Armando. Mesmo assim, Armando ainda teve na reta final com o crescimento de Jair Bolsonaro nas pesquisas, uma chance real de diminuir a vantagem do governador e forçar um segundo turno, mas novamente Armando achou que jogando parado iria ao segundo turno, era preciso um pronunciamento dele em favor de Bolsonaro, não precisava ser uma declaração de apoio mas poderia ser de reconhecimento a liderança de Bolsonaro que talvez animasse o eleitor do presidenciável a também votar nele. Muitos fizeram isso pelo Brasil inteiro e lograram êxito, mas o medo de perder tira a vontade de ganhar, e Armando mais uma vez perdeu a oportunidade de capitalizar eleitoralmente com o crescimento de Bolsonaro.
A oposição achou que a junção de políticos tradicionais era suficiente para vencer a eleição, ledo engano, as urnas deram uma vitória numérica apertada a Paulo Câmara, mas uma vantagem elástica em relação ao segundo colocado que foi Armando Monteiro. Na disputa proporcional, os chapões de Armando Monteiro elegeram seis federais e sete estaduais, sendo um dos piores resultados obtidos por uma coligação. No fim, a oposição que sonhou em governar Pernambuco acabou dizimada, com a provável aposentadoria dos seus próceres e permitiu, mesmo diante de tantas dificuldades enfrentadas pelo governo, a manutenção da hegemonia do PSB que agora dura dezesseis anos.
Espólio – A desistência do deputado estadual Julio Cavalcanti em tentar a reeleição possibilitou a vitória de pelo menos três deputados. Seus apoios no sertão do Pajeú deram quase seis mil votos a João Paulo Costa, que sem eles teria sido derrotado na chapa do Avante. Uma vereadora de Arcoverde que garantiu quase 900 votos a Romero Sales Filho permitiu que ele superasse Socorro Pimentel e fosse eleito na chapa do PTB. Por fim, o apoio de Pão com Ovo em Escada dado a Roberta Arraes garantiu 400 votos e evitou que ela perdesse a vaga para Marcantonio Dourado Filho.
Força – Numa eleição atípica onde a maioria dos políticos baixaram a votação ou não se reelegeram, Rodrigo Novaes não só foi reeleito como ampliou seus votos em relação a 2014. O resultado obtido por Rodrigo é fruto da sua atuação na Alepe e da sua proximidade com suas bases. Rodrigo consolidou-se na política conquistando o terceiro mandato e está legitimado a ocupar postos mais relevantes na política estadual.
Jaboatão – Com as fragorosas derrotas sofridas por Neco e Elias Gomes, que poderiam ser nomes para enfrentar o prefeito Anderson Ferreira em 2020 em Jaboatão dos Guararapes, o PSB identificou um nome muito mais palatável ao eleitor e já decidiu que irá lançar para a prefeitura. A deputada estadual eleita Gleide Angelo obteve 66.779 votos somente em Jaboatão e será o nome apresentado pelo Palácio para enfrentar Anderson na próxima eleição.
Petrolina – O cientista político Pablo Fernandes ficou responsável por tocar a campanha de João Campos (PSB) para deputado federal em Petrolina. O deputado federal eleito obteve 2.783 votos na capital do São Francisco praticamente sem pisar na cidade.
Luciano Bivar – O deputado federal eleito Luciano Bivar tornou-se o principal interlocutor de Jair Bolsonaro em Pernambuco. Durante entrevista, ele afirmou que o PSL disputará a presidência da Câmara dos Deputados em caso de vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno. Bivar foi o sétimo deputado federal mais votado de Pernambuco e terá grande poder no provável governo Bolsonaro.
RÁPIDAS
Fim – Ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara Municipal do Recife, Vicente André Gomes foi candidato a deputado estadual e obteve apenas 6.952 votos, dos quais 5.571 foram no Recife. Com essa votação, depois de ter perdido em 2016 a reeleição, Vicente foi varrido da vida pública pelo mesmo eleitor que já lhe conferiu mandatos eletivos em outrora.
Lula Cabral – O prefeito do Cabo de Santo Agostinho, Lula Cabral, deu mais uma demonstração de força no último domingo. Além de ver seus adversários dizimados pelas urnas, Lula garantiu que Paulo Câmara, Eduardo da Fonte, Humberto Costa e Fabiola Cabral saíssem majoritários da cidade. Somente Bruno Araújo não ficou entre os mais votados para o Senado.
Inocente quer saber – O PSL de Jair Bolsonaro terá candidato a prefeito do Recife em 2020?
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