Por Terezinha Nunes
Com 77% de aprovação na última pesquisa CNI-Ibope, a presidente Dilma anda causando perplexidade nos meios políticos. Não só pelo alto percentual de popularidade como por ter batido os índices do seu antecessor e padrinho, o ex-presidente Lula.
Mas há outras leituras a serem feitas do novo levantamento CNI-Ibope, além dos índices de aprovação da presidente em si. Ao analisar a questão da segurança pública , da educação e da saúde no Governo Dilma, os brasileiros se mostraram insatisfeitos com o desempenho nesses três segmentos, com o percentual de desaprovação superior ao de aprovação.
A nível internacional e nacional, porém, os especialistas analisaram a popularidade da presidente como decorrente da crise econômica mundial que tem sido desastrosa para os países desenvolvidos mas não tem castigado no mesmo patamar os emergentes, como o Brasil.
Como o que mais incomoda a população é a situação do seu próprio bolso, antes mesmo de olhar para a educação, a saúde e a segurança, as pessoas tendem a analisar o acesso ao dinheiro e, embora não se encontrem no melhor dos mundos, os brasileiros, ao verem na TV desempregados ganharem as ruas dos grandes centros europeus e o mesmo não acontecer no Brasil, consideram-se privilegiados neste aspecto e acabam agradecendo à presidente, embora sabendo que sua administração deixa muito a desejar.
O mesmo fenômeno que acontece com Dilma também aconteceu com Lula. O seu Governo, analisado por setores, era sempre avaliado negativamente nas pesquisas, embora a popularidade do chefe da Nação estivesse alta. Lula resistiu até ao mensalão e Dilma, igualmente, à queda de mais de seis ministros por ela nomeados e envolvidos com denúncias de corrupção.
Embora a boa situação atualmente vivida pelo Brasil seja decorrente da política econômica de Fernando Henrique, os brasileiros tendem a reconhecer em Lula, e agora em Dilma, o protagonismo neste aspecto.
Mas será que se o contrário tivesse acontecido, os brasileiros garantiriam a FHC a alta popularidade que hoje conferem à presidente?
Difícil prever mas, embora isso nunca tenha sido analisado em pesquisas, parece patente na população uma certa condescendência com Lula e Dilma, como se a maioria achasse que ambos devem ser perdoados por alguns erros cometidos, inclusive no que se refere à corrupção.
A população parece satisfeita com o fato de ter eleito um operário como presidente e em seguida uma mulher – ambas situações impensáveis alguns anos atrás – sem que nada de grave tivesse acontecido do ponto de vista econômico.
Isto é tão real que se as eleições da era PT tivessem acontecido apenas nos estados mais desenvolvidos, onde a população tem maior nível de ensino e informação, nem Lula e nem Dilma teriam sido eleitos. Nesses, o povo é mais exigente e crítico.
Em São Paulo, por exemplo, o berço operário do PT, o partido teve que recorrer a três representantes da elite – Eduardo e Marta Suplicy e Aloísio Mercadante – para poder vencer eleições majoritárias para o senado e a prefeitura da capital e agora escolheu Fernando Haddad, com origem semelhante, para disputar novamente a prefeitura paulistana. Não correu risco de indicar um operário. Nem mesmo Lula.
Alguns poderão argumentar que, neste aspecto, embora não seja quatrocentona, Dilma também faz parte da elite brasileira. É certo que Dilma perdeu a eleição nos estados mais populosos e desenvolvidos mas aí contou com outro aspecto para beneficiá-la, o de ser mulher. Uma novidade em um país onde a classe política está cada vez mais desgastada e cujo desgaste é, normalmente, debitado na conta dos homens, sexo de nove entre dez políticos brasileiros em atividade.
CURTAS
Alternativos – Nesta eleição, os políticos estão com tanto medo de desagradar o governador Eduardo Campos que os candidatos a prefeito da Frente Popular não gerados diretamente no Palácio estão se colocando como “alternativos” em suas cidades e não como oposicionistas. Assim se intitula o candidato a prefeito de Olinda, Ricardo Costa, do PTC e agora surgiu no Cabo a “Frente Popular Alternativa” comandada pelos partidos que não rezam pela cartilha do prefeito Lula Cabral, do PSB.
Palanques demais – Como a oposição está em extinção em Pernambuco, vai ser difícil o governador Eduardo Campos subir em algum palanque na eleição municipal. Motivo: ele só estaria disposto a fazer campanha onde a Frente Popular estiver unida. O único município onde isso pode vir a acontecer até agora é o Recife. Mesmo assim a união ainda depende do resultado da prévia do PT marcada para 20 de maio.
Fogo Amigo – O prefeito de Caruaru, José Queiroz, não vai precisar enfrentar prévias porque seu o partido o apóia, mas está sendo vítima de fogo amigo semelhante ao que acontece com o prefeito do Recife, João da Costa. E quem diz claramente que ele está atrapalhado para disputar o pleito por conta do alto índice de rejeição não é nenhum neófito. É o próprio vice-governador João Lyra, o que demonstra que a Frente Popular em Caruaru pode rachar.