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Li com muita atenção a matéria “REVISÃO IDEOLÓGICA”, do jornalista Ricardo Chapola, na Revista Veja, que apresenta uma possibilidade ou um desejo de novas lideranças do antigo Partido Socialista Brasileiro de que ele sofra uma guinada ideológica à direita e, por que não dizer, programática, no âmbito interno da agremiação. A matéria fala até mesmo na supressão do nome “Socialista” da legenda, o que de fato refletiria a verdade.
Segundo a matéria, essas mudanças estariam sendo patrocinadas pelo grupo jovem formado pelo prefeito João Campos e pelos deputados Caio França (filho do ministro Márcio França) e Tabata Amaral. Todavia, tal mudança sofre restrições da chamada “velha guarda”, como o atual e futuro ex-presidente Carlos Siqueira, que pretende que o partido se mantenha à esquerda do campo político nacional.
Fui filiado ao PSB desde 1993 até o ano de 2016 e posso dizer que tal iniciativa não é nova, mas, a meu ver, é bem-vinda. Recordo-me de quando fui presidente estadual da JSB – Juventude Socialista Brasileira – e da realização do Congresso Nacional do Partido, em 1995, quando, finalmente, Miguel Arraes tomou a presidência do partido, inclusive com nossa ajuda, pois o presidente anterior da JSB era ligado a Roberto Amaral. Conseguimos maioria da executiva quando indicamos para a executiva o representante da JSB, o atual deputado Felipe Carreras. Naquela época, Arraes já tendia a afastar o partido dos radicalismos e extremismos de uma esquerda histérica. Aqui em Pernambuco, o resultado foi a saída de socialistas históricos da legenda, como o professor Valteir Silva e Jader Menezes. A vitória de Arraes não foi fácil: tivemos que derrotar no voto pessoas como Beto Albuquerque e Jamil Haddad, que, como prêmio de consolação, virou presidente emérito do partido.
Aliás, Arraes se elegeu três vezes governador, sempre com candidatos ao Senado, sendo um do campo da esquerda e outro da direita. Em 1962, seu vice era Paulo Guerra, usineiro, e os senadores foram José Ermirio de Moraes, fundador do grupo Votorantim, e Pessoa de Queiroz, empresário, advogado e embaixador. Em 1986, com Monsueto de Lavor, ex-padre e atuante dos movimentos sociais, e Antônio Farias, usineiro. Em 1994, teve como candidatos Roberto Freire, do antigo PCB (que virou PPS e depois Cidadania), e Armando Monteiro Filho, empresário e usineiro, sendo que este acabou não se elegendo, pois perdeu para Carlos Wilson, que também nunca foi de esquerda.
Como a reportagem da VEJA revela, o PSB tentou por diversas vezes lançar candidato à presidência da República, como o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. Arraes era extremamente pragmático, mas cometia erros, como essa candidatura sem pé nem cabeça. Fui oficial de Gabinete de Arraes entre janeiro de 1995 até julho de 1996, quando pedi minha exoneração para me dedicar ao meu curso de direito. Durante esse tempo, os deputados que ele mais recebia no Palácio dos Campos das Princesas para “trocar ideias” eram de direita, do antigo PFL (PêFêLê), como Eduardo Araújo (pai do ex-deputado Bruno Araújo), Sebastião Rufino e Severino Estelita, também conhecido por Sérgio Guerra. Foi no terceiro governo de Arraes que o Estado se livrou do Bandepe e que a privatização da Celpe começou a ser gestada, tendo sido concluída no governo Jarbas Vasconcelos.
Com o passar dos anos, o PSB passou a ser presidido por seu neto Eduardo Campos, que também de socialista não tinha nada. Formado em Economia, era um liberal por essência, acreditava que o Estado deveria intervir apenas no necessário, pregando o seu enxugamento. O primeiro governo do presidente Lula, que tinha como vice José Alencar e presidente do Banco Central Henrique Meirelles, ambos do espectro de direita, teve esse viés, e o PSB participou do ministério com o retrógrado Roberto Amaral. Em seguida, com o próprio Eduardo Campos, que, após sua passagem pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, se elegeu governador de Pernambuco — o melhor de todos até a presente data.
Ao assumir o governo, Eduardo Campos construiu, de imediato, com o governo Lula, uma alteração legislativa no Congresso Nacional que permitiu o aumento do limite de endividamento dos estados de 1% para 5% do PIB, para formalização das Parcerias Público-Privadas, a fim de aumentar a possibilidade de utilizar esse instituto para incrementar os incentivos privados no Estado. Sob o antigo teto, o Estado já havia se comprometido com a construção da Ponte do Paiva; com o aumento, foi possível formalizar outras PPPs, como o inacabado complexo prisional de Itaquitinga, a obsoleta Arena de Pernambuco e a obscura PPP do saneamento com a Braskem, braço da antiga Odebrecht. Embora os resultados não tenham sido os esperados, foi um movimento que a esquerda jamais admitiria.
Outro movimento à direita realizado por Eduardo foi a criação do PSD, com Raimundo Colombo, então governador de Santa Catarina, e depois com Gilberto Kassab. Aqui em Pernambuco, ele colocou Adilson Gomes para auxiliar André de Paula na montagem dos diretórios estadual e municipais. Por fim, rompeu com o governo Dilma e, em 2014, lançou-se candidato à Presidência, tendo como um de seus mentores na área econômica o Dr. Eduardo Gianetti, árduo defensor de um novo pacto federativo e da ideia de “menos Brasília (governo central) e mais Brasil (descentralização de poder)”.
Naquele mesmo ano, tivemos a sua trágica morte, e o PSB, ainda desnorteado, manteve a candidatura de Marina Silva, que foi outra tragédia. No segundo turno, contrariando a posição do presidente em exercício, Roberto Amaral, o partido apoiou Aécio Neves contra Dilma, inclusive com a gravação de um vídeo da viúva Renata Campos pedindo voto em Aécio.
Com esse movimento externado na reportagem acima citada, o PSB volta ao caminho que tentou trilhar antes: deixar de ser satélite do PT e seus aliados, afastar-se da esquerda burra e extremista nesse desastrado e trágico governo Lula 3 e, enfim, revelar a esfinge que tem sido João Campos até o momento.
Agora, com o PSB voltando a ser comandado pelos Campos, onde João será o presidente da executiva e Pedrinho o líder da agremiação na Câmara, veremos como ele se portará em 2026. Quem sabe, a tão esperada via moderada entre a polarização Bolsonaro e Lula?
Se realmente deseja seguir esse caminho, João Campos precisará moderar o discurso e as ações, afastar-se dos extremismos prejudiciais ao Brasil e, sobretudo, do peleguismo petista. Deve voltar-se para valores que sempre foram defendidos por seus pais, Renata e Eduardo: família, igreja e honra. E, finalmente, provar que é muito mais além que um produto das redes sociais.
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