Por Arthur Virgílio*
Lisboa – Parte do PT, instigada por Lula, pretende transformar a CPI do Cachoeira, que terá de investigar a Delta Construções também, em tribunal de exceção contra a imprensa. Refiro-me, claro, à imprensa livre, que ousa criticar os poderosos, denunciar os escândalos. E não aos blogs amestrados e custeados com dinheiro público.
Temo que a CPI se transforme em biombo para proteger corruptos “amigos” da maioria parlamentar. Já falam em blindar o governador fluminense, Sergio Cabral, que mantém relações incestuosas com a Delta e seu proprietário, Fernando Cavendish. Com isso, pretendem fazer um gesto na direção do PMDB, evitando que esse partido empreste seus votos para a convocação de pessoas capazes de causar danos ao governo petista.
Pensam em não investigar a Delta, que é a maior empreiteira do PAC. Era pequena, antes da posse de Lula, em 2003, e virou a sexta maior do país. Mais do que atingir Sergio Cabral, o bacante de Paris, um mergulho nas entranhas da construtora certamente desnudará parte substancial das irregularidades que povoam a gestão petista.
Insistem na tentativa espúria de desqualificar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, convocando-o para depor na CPI, por três razões básicas: a) impedi-lo de continuar a investigar o escândalo que começa no contraventor Cachoeira e em Cavendish e poderá abalar os alicerces da “república do rabo preso”; b) desmoralizar o homem que sustentará, no plenário do STF, a acusação aos réus do mensalão; c) enfraquecer a instituição que ele representa e tanta dor de cabeça causa a quem desrespeita a coisa pública.
Lula, que odeia intransitivamente, pensa na CPI como meio de investir contra adversários políticos, a exemplo do governador de Goiás, Marconi Perillo. Parece que sua alma atormentada já percebeu que o aconselhou mal: arrisca a pele de aliados e companheiros, ameaça paralisar o governo Dilma e ele próprio poderá sair bem arranhado. Afinal, na CPI dos Bingos, patrocinada pelo Senado durante seu segundo mandato, surgiu com força a acusação de que Carlos Cachoeira teria contribuído financeiramente com sua eleição.
A primeira vez, por sinal, que Cachoeira “brilhou”, no horário nobre das televisões, foi subornando Waldomiro Diniz, que trabalhara no quarto andar do Palácio do Planalto sob as ordens de José Dirceu. O mesmo Dirceu que, como “consultor” de empresas que trabalham com o governo petista, serviu à Delta. A partir daí a pequena empreiteira começou a se agigantar, abocanhando fatias cada vez maiores dos recursos federais para investimentos.
É hora de defender a imprensa livre das tentativas de amordaça-la que não saem da cabeça dos aprendizes de Hugo Chávez que mandam no Brasil de hoje. Eles querem diminuir e até extinguir a democracia.
São totalitários.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.