Fundada em 1952 sob a inspiração do arcebispo Dom Hélder Câmara, atualmente em processo de beatificação e batizado pelo Papa Francisco de “apóstolo da América Latina”, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil engajou-se, desde o início, na luta por uma sociedade mais humana e mais justa.
Em algumas ocasiões ganhou proeminente destaque. Em 1956, ao reuniu os bispos do Nordeste em Campina Grande, na Paraíba, na presença do então presidente Juscelino Kubitschek quando fez uma denúncia pública sobre a situação de pobreza e miséria da região, obrigando o presidente a tomar diversas medidas, culminando com a criação da Sudene em 1959.
Durante o regime autoritário, a CNBB atuou, na surdina ou de forma pública, engrossando o movimento de resistência à ditadura. Dom Hélder, o crítico mais forte ao poderio dos militares, passou a denunciar a nível internacional a tortura de presos políticos e acabou proibido de falar no país, teve sua casa metralhada e seu principal auxiliar, o Padre Henrique, torturado e morto no Recife.
Alguns outros bispos manifestaram-se fortemente em defesa da abertura política como fizeram, entre outros, Dom Aloísio e Dom Ivo Lorscheider e Dom Luciano Mendes. Dom Aloísio e Dom Eugênio Sales, o primeiro como arcebispo de São Paulo e o segundo como arcebispo do Rio de Janeiro, salvaram a vida de vários perseguidos políticos, como se sabe hoje, abrigando-os em locais seguros ou ajudando-os a sair do país.
Depois desse período mais negro da nossa história, a CNBB dedicou-se também a denunciar as injustiças mas de forma mais branda, uma vez que o país atravessava a calmaria proporcionada pela democracia. Não deixou, porém, de se manifestar contra a corrupção e pela reforma política.
Conseguiu um milhão de assinaturas para forçar o Congresso a aprovar a Lei da Ficha Limpa e, recentemente, junto com a OAB, passou a defender um projeto de reforma política.
Mais recentemente, sob a inspiração do papa Francisco, que defende uma Igreja mais engajada na luta do dia a dia e diz que a política “é forma mais sublime de se praticar a caridade”, a CNBB vem retomando o período dos grandes embates em favor da justiça e da ética.
Isso ficou patente na semana passada com a Assembléia dos bispos em Aparecida que decidiu escolher para novo presidente da Conferência o arcebispo de Brasília Dom Sérgio Rocha e que aprovou um texto duro sobre a crise que está instalada no país, informando que ela “ coloca em risco a ordem democrática”e que os poderes constituídos “têm o dever irrenunciável do diálogo aberto, franco e verdadeiro na busca de uma solução”.
A CNBB deixou claro ainda que não se deve esperar dela condescendência com malfeitos: “ninguém pode exigir de nós – diz o texto – que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social “e conclamou, reagindo à redução da maioridade penal à terceirização em todos os setores e ao ajuste fiscal entre outros temas – “é inadmissível que a preservação dos direitos sociais venha a ser sacrificada para justificar a superação da crise “.
Dom Sérgio Rocha, agora falando em nome de mais de 300 bispos, arcebispos e cardeais brasileiros, não deixou por menos, incorporando a postura dos mais combatentes bispos de outrora. Defendeu uma Igreja “efetiva e relevante” na vida da sociedade e uma CNBB “de postura ativa que continuará a denunciar o que vai contra o reino de Deus”.
O recado foi dado.
—