Devido o grande sucesso de audiência da última entrevista com o advogado Antonio Campos, decidimos realizar uma nova entrevista, desta vez com assuntos mais amplos, enfatizando o cenário nacional sem deixar de lado as questões locais. Leia abaixo na íntegra:
EDMAR LYRA – A democracia está em crise? Como ver os últimos acontecimentos e a radicalização nas redes sociais?
ANTONIO CAMPOS – O brasileiro vive um momento de grande descrença na política e até mesmo na democracia, mas não há saída fora dela. Esse fenômeno não é só brasileiro. Vivemos a era de líderes fortes, que o diga a Rússia, a China e os Estados Unidos, entre outros. Tivemos agressões a caravanas, ameaças a ministros, operações com pessoas ligadas ao Presidente, que podem gerar uma terceira denúncia, o radicalismo cresce nas redes sociais, se não pensa igual ao outro é inimigo, caracterizando tempos de intolerância. Para crise de democracia mais democracia. Que 2018 seja uma grande festa da democracia, livre e soberana, em que os brasileiros saibam escolher bem o seu destino e haja um reencontro entre o Brasil oficial e o Brasil real. A verdadeira política é um exercício de esperança.
Esse ano celebramos 30 anos da Constituição Cidadã e que ela seja uma bússola perene para vencermos a crise e que cumpramos o compromisso de respeitá-la. O compromisso com a democracia e a convivência com o contrário é um princípio básico.
EL – O Brasil terá esse ano uma eleição fragmentada ou polarizada?
AC – Inicialmente, teremos uma eleição fragmentada, já tendo cerca de 15 pré-candidatos. A partir de junho, começará a polarização entre as forças que orbitam perante o PT e as forças que irão liderar o centro democrático. Aposto que o pré-candidato Álvaro Dias, que tem crescido no centro sul terá um papel importante no 1º ou no 2º turno e apostei em seu nome desde o início. Ele é o vice que o PSDB e Fernando Henrique gostariam nas circunstâncias atuais. Contudo, Álvaro vai tentar crescer até julho e consolidar a sua candidatura, uma vez que as convenções devem ser na primeira semana de agosto.
EL – Como vê o cenário da sucessão em Pernambuco?
AC – Uma eleição ainda em aberto, mas que as oposições têm vantagem se souberem fazer o dever de casa. Paulo tem uma alta rejeição e um índice baixo para um governador de intenção de voto para reeleição, mas tem a máquina na mão. Temos a possibilidade da candidatura de Marília Arraes pelo PT, que é uma candidatura competitiva e uma ou duas candidaturas pelo G4. FBC pode ser candidato, se o PMDB vier a ter candidatura nacional ou não, mas acho improvável e aposto em palanque único. Armando tomará uma decisão até o dia 20 de abril mais clara. O cenário para o Senado ainda está muito em aberto porque depende muito da definição dos candidatos a governador.
EL – E a situação de Olinda?
AC – Tem um prefeito que após um ano e três meses de gestão, ainda não reformatou o modelo de gestão, com uma prefeitura inchada e que se vangloria de poder andar na cidade e ter limpado 17 canais. Olinda quer mais.
EL – Como advogado, como é sua visão sobre o julgamento de Lula no próximo dia 04/04?
AC – A tradição jurídica do Brasil de 1941 a 1990 era de prisão na segunda instância. O mensalão mudou a jurisprudência. Acho que o Supremo pode surpreender, mas aposto na permanência da prisão com a condenação em segunda instância. Contudo, Lula será uma presença política ainda relevante na eleição, em qualquer das hipóteses.
EL – Na próxima semana teremos o 5º Congresso Pernambucano de Municípios, como vê o municipalismo nesse momento?
AC – Precisamos criar, na prática, um novo municipalismo, baseado em um novo modelo de gestão mais eficiente e transparente e uma plataforma inovadora de educação nos municípios.
Defenderei, no evento, a criação do Consórcio Intermunicipal de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe. O tema do encontro, inclusive, é sobre desenvolvimento sustentável.
EL – Como Presidente do IMA-Instituto Miguel Arraes, qual seu foco no momento?
AC – Temos feito várias atividades e, possivelmente, daremos entre o 2º semestre de 2018 e o 1º semestre de 2019 uma nova formatação ao IMA. O nosso foco atual é terminar de aprovar o projeto de lei que inclui o nome de Arraes no Livro dos Heróis da Pátria. Esse é um reconhecimento relevante na existência de um líder político e coroa o seu trabalho.
EL – Pernambuco editou recentemente um decreto de calamidade pública em 52 municípios do Sertão e o Sr. Esteve no 8º Fórum Mundial da Água. O que tem a dizer?
AC – A questão da água em Pernambuco é crucial. A causa da água é uma questão global. Em 2050, a demanda de água no mundo superará a oferta em mais de 40%.
No último dia 22 de março, celebrou-se o Dia Mundial da Água e levei ao 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, juntamente com entidades vinculadas a causa da água, proposta à Unesco de tornar o Rio São Francisco Patrimônio Natural da Humanidade, tendo já outros 7 biomas e ecossistemas brasileiros esse reconhecimento. O Velho Chico, que atravessa o Nordeste, marcado por 64% de semiárido, é um patrimônio dos nordestinos inalienável.
Tenho defendido também um Consórcio Intermunicipal Público para Revitalização da Bacia do Rio Capibaribe, conforme já dito, e a retomada da Hidrovia do Rio Capibaribe, no Recife, que poderá beneficiar 400 mil pessoas na sua mobilidade.
O Sertão está em calamidade pública, o que foi reconhecido por decreto. Tal desafio é superável. Um exemplo é o trabalho feito por Israel, que fez fértil um deserto.
EL – O Sr. Tem uma ação contra o aumento da energia elétrica e tem lutado contra privatização da Chesf. Como está esse assunto?
AC – A Celpe após a privatização, especialmente nos oito primeiros anos, aumentou a energia bem acima da inflação. O consumidor pagou a privatização. Recentemente, vem querendo repetir a fórmula, o que tem sido combatido por nós por ação própria e numa representação ao Ministério Público Federal. Estamos trabalhando contra a privatização da Eletrobrás e da Chesf por achar ela equivocada, por diversos aspectos, e pode ser uma estatal que, com um choque de gestão, pode passar a ter uma nova performance. Veja o exemplo da Petrobrás, que está superando a crise.
EL – E a segurança pública no País?
AC – O Governo Federal interveio no Rio de Janeiro e lançou um pacote de segurança, que possui aspectos importantes, com resultados ainda tímidos. O Brasil não pode se transformar num narco-país. O Brasil já o maior consumidor de crack, o segundo de cocaína e a principal passagem de drogas do mundo. Precisamos fortalecer as nossas fronteiras, o serviço de inteligência e combater o tráfico e o crime organizado fortemente. Colocar em prática um plano de segurança nacional.
Contudo, o verdadeiro Estado que o Brasil reclama é o Estado Social, com mais investimentos na área social, em programas de educação e emprego para nossos jovens, em geração de renda.
O Brasil é marcado por uma profunda desigualdade social. Precisamos de um pacote e um conjunto de medidas de proteção social de nossos jovens, dos nossos idosos, dos brasileiros, que certamente contribuirá de forma decisiva na diminuição da violência, por mais respeitáveis e necessárias que sejam as atuações policiais e militares.
Se vencemos 50 anos de inflação com o Plano Real, precisamos um plano social urgente e de geração de empregos, fortalecendo e aperfeiçoando alguns já existentes, criando novos.
EL – Você vai ao encontro das oposições no próximo dia 07/04?
AC – Irei. Defenderei o alinhamento de um novo projeto básico para Pernambuco, que vive uma nova fase econômica e política. Lançarei o Movimento Pernambuco quer Mais, que vai além dos partidos políticos.
EL – Qual o seu futuro político?
AC – A princípio continuo no Podemos e coloquei o meu nome à disposição das oposições para o Senado Federal. Lançaremos pelo Podemos um deputado estadual com base em Olinda e competitivo. A candidatura de Álvaro Dias pelo Podemos é mais estratégica do que se imagina. Em julho, se Bolsonaro continuar com índices expressivos, alguns líderes do centro democrático precisam se juntar e talvez uma chapa Alckmin e Álvaro seja uma força que possa levar o centro democrático ao 2º turno, possivelmente contra as forças que orbitam em torno do PT.
William Pontes diz
Não entendo esse frenesi pela prisão de Lula fruto de um processo fake. Gostaria de ver a reação do brilhante advogado Antonio Campos sendo réu num processo analogo. Não há que goste de ser condenado sem provas. É o fato juridico mais aberrante que vi na minha vida.