A situação de desmonte do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), evidenciada com a negativa do governo estadual em conceder aos servidores do órgão reajuste salarial após quatro anos de congelamento, foi denunciada pelo deputado estadual Álvaro Porto (PTB) na tarde desta quarta-feira (11.04) na Assembleia Legislativa. Em discurso, Porto destacou que a defasagem salarial é gritante diante de uma inflação acumulada de 25% no período.
O deputado disse que, enquanto os salários estão congelados, planos de saúde, por exemplo, tiveram aumentos sucessivos, chegando, em um ano, a mais de 100% do valor inicial. “Muitos funcionários foram obrigados a desligar seus filhos, parentes e eles próprios desses planos, por falta de condições de pagar”, afirmou. “Na mesma tônica das perdas, o vale-alimentação, o auxilio de interiorização e auxílio-creche e educação estão também defasados”, completou.
Porto apontou que, além da desvalorização e retirada de dignidade dos funcionários, o desmonte do IPA também inclui o fim da rede de suporte às ações que garantem ao homem do campo a comercialização justa dos seus produtos. “No manifesto que divulgaram diante da insensibilidade do governo, os técnicos do IPA enfatizam que já convivem com ameaças de privatização das estações experimentais de pesquisa. O texto diz que há sucateamento de escritórios, corte de energia elétrica por falta de pagamentos e atraso dos aluguéis. Informa ainda que muitos escritórios municipais estão sendo mantidos pelas prefeituras e que outros estão simplesmente fechando as portas”, disse.
Os servidores, que tiveram audiência com o deputado antes da sessão desta quarta, informaram que o governo estadual reduziu em 90% a oferta de sementes de milho previstas para este ano. “Ou seja, apenas 10% do que é preciso para atender os agricultores está sendo disponibilizado”. Outro problema relatado, segundo Porto, diz respeito à desassistência com carro-pipa no período da seca por falta de pagamento. “E, agora, com a chuva, os servidores dizem que não há recursos para garantir assistência e aração”, salienta.
Segundo Porto, eles denunciaram ainda que, depois de investir R$ 1 milhão na estação de Arcoverde, equipando o laboratório para pesquisa com embriões e sêmen, o governo simplesmente deixou a unidade sem funcionar. No discurso, Porto lembrou que ele próprio já denunciara, há um ano, a situação de abandono do IPA de Garanhuns, após visita da bancada de oposição àquele município. “Escritórios estavam sem funcionar por falta de pagamento de aluguel ou por causa de cortes de energia em decorrência de débitos do Estado com a Celpe. Encontramos parados mais de dez carros que deveriam ser usados para o deslocamento de técnicos para propriedades rurais. Estavam lá virando sucata”.
O deputado disse que o mesmo foi constatado com inúmeras máquinas agrícolas que tinham sido repassadas ao estado pelo governo federal para municípios do Agreste. “Estavam servindo de depósito de pó. Tudo isso foi registrado em fotos e filmes veiculados nas redes sociais, com apelo para que o governo do estado cumprisse o seu papel. Um ano depois, vimos que a situação de descaso só cresceu”.
Porto enfatizou que o desmonte do IPA, além de desestimular servidores, põe e xeque a prestação de um serviço fundamental para quem vive da agropecuária. “Um não do governo do estado ao IPA é um não a programas que garantem a permanência do homem no campo, diminuindo o êxodo rural e fomentando a geração de trabalho e renda, bem como a dinamização das economias locais. É um não aos impactos positivos nos indicadores de saúde e educação, com a oferta de alimentos de qualidade para a merenda escolar, hospitais, creches, ongs, entre outras”.
O deputado avalia ainda que a não valorização dos funcionários do IPA é um descaso com mais de 83 anos de atuação com trabalhos exitosos em pesquisa, recursos hídricos e extensão rural no estado. “O governo ignora as mais de 150 mil pessoas que estão sendo beneficiadas, com regularidade, com refeições preparadas com alimentos fornecidos por mais de 4 mil agricultores familiares fornecedores, todos assistidos pelo IPA, em mais de 100 municípios”.
USO POLÍTICO – Porto foi aparteado pelos deputados Augusto César (PTB), Teresa Leitão (PT) e Júlio Cavalcanti (PTB). Os três reforçaram as perdas para os agricultores e para a economia do estado. Teresa adiantou que na próxima segunda-feira (16.04) servidores e diretores do IPA e ainda representantes da Secretaria de Agricultura estão sendo esperados para um debate sobre a situação do órgão na Comissão de Agricultura da Alepe. Por sua vez Júlio frisou que, infelizmente, as secretarias estaduais são usadas politicamente e que muitas das ações acontecem para beneficiar regiões ligadas eleitoralmente a dirigentes políticos.
Para encerrar, Porto reiterou disse que a retração do IPA compromete uma cadeia imensa de trabalhadores e pequenos negócios, fato que contribui para desemprego, redução de renda, êxodo rural e uma série de problemas sociais decorrentes desta realidade. “Voltamos a fazer apelo ao governo do estado para que não despreze o valoroso corpo técnico do IPA e que volte a investir no instituto que é tão necessário às milhares de famílias pernambucanas que tiram seu sustento do campo”.
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