Por Terezinha Nunes
– “ Fiz tudo pelo Recife. Hoje ela me abandona. É uma cidade cruel”, lamentou-se, em 1950, o então governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães , que acabara de ser leito governador com expressiva votação no estado mas uma derrota expressiva na capital. Daí pra frente consolidou-se a máxima de que os governadores não conseguiam, por maior popularidade que tivessem, dominar o Recife e eleger o prefeito do seu grupo político.
A cidade deu sempre a impressão de que limitava os poderes do Palácio do Campo das Princesas, mantendo a oposição no poder. Assim aconteceu inclusive no período da reeleição quando o governador Jarbas Vasconcelos, um líder político do Recife e muito popular, perdeu a eleição na capital em 2000 para o PT que derrotou Roberto Magalhães (candidato à reeleição) e elegeu João Paulo.
Mesmo se reelegendo governador em 2002, com grande votação, Jarbas foi obrigado a, durante seis dos seus oito anos de mandato, conviver com a oposição na capital.
Aliado ao PT no Recife, o governador Eduardo Campos experimentou algo diferente. Em 2008, no seu primeiro mandato, conseguiu, através do vice Milton Coelho, participar da vitória do atual prefeito João da Costa e este ano, mesmo rompendo com o PT, elegeu em primeiro turno o seu aliado, Geraldo Júlio.
Considerando, porém, a alta popularidade do governador no Recife, chegando aos 70%, abertas as urnas o que se verificou é que cerca de 49% dos recifenses preferiram a oposição, mesmo que distribuídos entre os aliados ao PT, PSDB, DEM e alguns partidos nanicos.
A sensação no final da campanha era de que se Geraldo Júlio fosse obrigado a enfrentar um segundo turno poderia perder a eleição. O discurso do PT, de que não era recomendável ter um governador tão poderoso, e de Daniel Coelho criticando os poderosos e apelando aos votos“do João, da Maria e do José” ganharam corpo nas camadas mais esclarecidas da sociedade e contaminaram a juventude em todas as classes sociais.
Se o governador acabasse perdendo um segundo turno para o PSDB, isso não significaria que as pessoas estavam derrotando sua administração mas desejosas de permitir um melhor equilíbrio de poder no estado.
Os analistas do Palácio do Campo das Princesas já devem estar se debruçando sobre este recado popular até porque em determinados momentos da campanha o governador apareceu mais na televisão do que seu candidato e cuidou de , ele próprio, rebater os ataques recebidos sobretudo do PT.
Se alguma dúvida havia nas mentes palacianas sobre a lição das urnas, isso foi dissipado quando o próprio governador, mesmo usando uma expressão inadequada – “ a oposição tem o tamanho que o povo deu” – acenou, em entrevista, para o PSDB e o PT, chegando até a pedir desculpas por algum excesso cometido nas críticas feitas no guia eleitoral.
Da mesma forma, o prefeito eleito, Geraldo Júlio, cuidou de falar da importância do papel da oposição na democracia e acenou para um entendimento em nome de um novo projeto administrativo para a capital.
A “cidade cruel”, de Agamenon, conseguiu, portanto, o seu intento, alertando para a necessidade de respeito aos princípios democráticos da boa convivência entre os contrários e da necessidade de crítica aos administradores públicos por melhor que eles sejam e independente do poder que possam, eventualmente, concentrar.
CURTAS
Olinda – Vivendo há 12 anos em torno da discussão de dois grupos políticos, o liderado pelo PCdoB, que venceu três eleições seguidas, e o liderado pelo PMDB, os eleitores de Olinda mandaram um recado claro nestas eleições. Desejam mudança. Apesar de ser difícil aprender a votar nulo na urna eletrônica, 10,82% dos olindenses anularam seus votos e 10,87% votaram em branco. Ou seja, 21,70% dos eleitores disseram “não” aos dois partidos. Se somados os votos brancos, nulos e as abstenções as três opções juntas superaram os votos dados ao prefeito reeleito Renildo Calheiros.
Moreno – o novo prefeito de Moreno, Dilsinho Gomes, apareceu no balanço das eleições como o que teve maior percentual de votos na Região Metropolitana – mais de 80% dos votos válidos. O resultado, porém, escondeu uma realidade: os 30% dos votos dados ao ex-prefeito Vavá Rufino que concorreu subjúdice mas teve seus votos anulados pelo TSE.
Abreu e Lima – Sem nenhuma tradição na cidade, o PT conseguiu eleger o prefeito de Abreu e Lima, pastor Marcos José, o único do partido no Grande Recife. O pastor, porém, é, na verdade, um nome do prefeito Flávio Gadelha (PMDB) que só se filiou ao PT um ano antes do pleito. Na verdade, Flávio, altamente popular, colocou seus pré-candidatos em partidos de sua base e, através de pesquisa, escolheu o do PT por ter sido o mais aceito pela população com base no levantamento estatístico.
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