Por Maurício Costa Romão
O cientista político Antônio Lavareda, baseado em estudos de Thomas Holbrook, outro grande especialista em eleições, costuma mencionar em escritos e palestras três fatores considerados decisivos na tentativa de reeleição de incumbentes: (1) avaliação de governo (popularidade); (2) percepção da população sobre a economia e (3) tempo do partido do postulante no poder.
A menos de três meses para a eleição presidencial no Brasil, e já disponíveis resultados das últimas pesquisas eleitorais pós-Copa do Mundo (Sensus/Isto é e Datafolha), é oportuno fazer uma breve análise das possibilidades de reeleição de Dilma Rousseff à luz dos fatores aludidos.
Para simplificar a abordagem é conveniente focar a atenção apenas na avaliação de governo, deixando compreendido, por suposto, que a percepção do eleitorado sobre esta variável selecionada abrange também o desempenho do executivo no trato da economia e o julgamento do ciclo do partido da incumbente no poder.
Ao elencarem a avaliação de governo como um dos principais fatores determinantes do voto, Lavareda e Holbrook partem da constatação elementar de que os eleitores têm memória, são exigentes e pragmáticos.
Se os eleitores percebem que o governo está bem, que suas vidas estão melhorando, que as pessoas do seu relacionamento estão satisfeitas, eles querem a continuidade do governo em exercício ou, se não for mais possível, almejam que seu substituto mantenha as mesmas linhas de ação.
Esse desejo de continuidade é expresso pela população nas pesquisas eleitorais mediante generosas menções de aprovação (conceitos de ótimo e bom) à gestão sob julgamento.
Daí decorre o inevitável corolário: governos bem avaliados têm maior probabilidade de reeleger governantes ou candidatos apoiados por eles. Sob esse prisma, como está a avaliação do governo de Dilma Rousseff?
As pesquisas nacionais pós-manifestações de rua de meados do ano passado continuam expressando forte desejo dos brasileiros de que o próximo presidente faça um governo diferente do atual.
Aqui reside um primeiro obstáculo à pretensão de Dilma reeleger-se: este forte “sentimento de mudança” que permeia o ambiente político-eleitoral vigente.
Embora as pesquisas não detectem exatamente o que o eleitor quer mudar, ademais de ser da natureza humana almejar transformações, buscar algo novo, querer ações diferentes, o fato é que esse desejo mudancista é inegável e está presente atualmente em cerca de dois terços da população, segundo as pesquisas.
Saliente-se que um número expressivo dos que almejam mudanças prefere que elas sejam feitas por outro presidente no lugar de Dilma Rousseff (44%, segundo o Ibope de maio), enquanto um menor contingente (16%) quer que a promoção das mudanças esteja a cargo da própria presidente.
Essa ambiência de hoje é diametralmente oposta ao clima que permeava as últimas duas reeleições e a campanha de 2010.
Com efeito, nas exitosas reeleições de Fernando Henrique Cardoso (1998) e de Lula (2006) o sentimento à época era de continuidade, por conta das âncoras dos respectivos governos: o Plano Real e os programas de inclusão social. Em 2010 Dilma Rousseff surfou no mesmo desejo de continuidade, propelido pelo sucesso da gestão anterior e pelo prestígio do então gestor.
Naturalmente que a percepção do eleitorado sobre o desempenho geral do governo está relacionada a esse sentimento.
Veja-se, por exemplo, como o eleitor tem avaliado a gestão da presidente desde as inquietudes de meados de 2013. O gráfico que acompanha o texto foi gerado a partir de dados das 30 pesquisas nacionais de grandes institutos brasileiros divulgadas até agora (postas em seqüência de data de trabalho de campo).
O gráfico contrapõe a avaliação positiva do governo, mensurada pela soma das percentagens de ótimo e bom, com a avaliação negativa, representada pelos percentuais de ruim e péssimo. Note-se que a trajetória da avaliação positiva do governo Dilma é descendente e a da avaliação negativa é ascendente, conforme mostram as retas de tendência que representam as evoluções oscilatórias de cada curva.
(Malgrado o exagero reducionista da realidade, mas apenas à guisa de exercício projecional, essas retas, pelas suas configurações estatísticas, estão tendentes a encontrar-se na 31ª pesquisa, registrando empate numérico de 32%, mas já no 32º levantamento a linha vermelha deverá estar acima da linha azul, apontando 32,5% a 31,7%, ceteris paribus).
Portanto, há notória dificuldade de a presidente melhorar consistentemente sua popularidade depois das insurgências de 2013. As pesquisas pós-Copa não modificaram esse quadro: persiste o mau humor do brasileiro com o governo.
Ademais, considerados os mesmos postulantes à presidência, existe uma forte correlação entre intenções de voto do incumbente e a avaliação de seu governo: quando a avaliação positiva diminui as intenções de voto também o fazem e vice-versa.
Assim, se esse contexto de resiliência permanecer, cristalizando o desejo de mudança e impondo níveis baixos de aprovação ao governo, as intenções de voto da presidente vão gravitar no entorno desses patamares pequenos, abrindo espaço para a ocorrência cada vez mais provável do segundo turno, ocasião em que as chances da oposição são maiores.
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Maurício Costa Romão, Ph.D. em economia, é consultor da Contexto Estratégias Política e Institucional, e do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau. [email protected], http://mauricioromao.blog.br.
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