Por Terezinha Nunes
O uso de estratégias engenhosas como palanques duplos em eleições estaduais ou nacionais surgiu na década de 80 como estratégia do regime militar para barrar a eleição de candidatos a governador da oposição nos mais importantes estados brasileiros. Na época não havia eleição para presidente mas era imperativo para a Arena assegurar o controle político dos estados, prevenindo-se contra rebeliões futuras.
Em Pernambuco, é público e notório o exemplo do senador Marcos Freire (MDB) que tinha tudo para vencer o pleito de 1982 para governador, quando foi vitimado pelo pacote de abril que vinculou o voto, adotou eleições casadas e criou as sublegendas (Arena, 1, 2 ,3 ) permitindo que o governo tivesse até três candidatos a prefeito. Resultado: não houve escapatória e mesmo quem simpatizava com Freire teve que votar no candidato da Arena a perfeito e a governador. Fraco no interior, o MDB perdeu a parada.
Agora, em plena democracia, a eleição de 2014 surge como a primeira em que os diversos partidos analisam a possibilidade de formar palanques duplos ou triplos nos estados para garantir competitividade na eleição para presidente.
Vai dar certo? É difícil prever até porque tal artimanha pode vir a ser utilizada na televisão para enfraquecer candidaturas num momento em que a população não anda nada satisfeita com a classe política.
De qualquer forma, de norte a sul do país se fala agora em palanques duplos ou triplos como se fosse fácil convencer o eleitor, em um regime democrático, a aceitar determinadas peripécias muito bem entendidas pelos que vivem na política mas difícil de explicar para os pobres mortais.
Hoje, por exemplo, até o PT, que ainda diz acreditar que vai vencer a eleição para presidente no primeiro turno, não quer se arriscar a ter apenas um candidato a governador em cada um dos 27 estados brasileiros. Como as lideranças locais estão mais frágeis após as manifestações do meio do ano, os petistas falam em palanque triplo no Rio e duplo em vários outros estados, incluindo Pernambuco.
O PMDB já fala em ter candidatos a governador em 21 estados, mesmo sem aliança local com o PT e preservando o alinhamento nacional com a presidente Dilma. Quanto ao PSDB e PSB de há muito analisam intramuros a duplicidade de palanques não só estaduais mas até nacionais desde que seja para garantir a chegada da oposição ao segundo turno.
Todas essas estratégicas acima serão mesmo utilizadas? É difícil saber não só porque é impossível definir hoje como estará o cenário em julho de 2014 quando serão realizadas as convenções federais e estaduais, como porque, já ensinava o experiente político mineiro Magalhães Pinto, “ política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.
No senso comum, diz-se que a política é tão volátil que “pode acontecer de tudo como pode também não acontecer nada”.
A verdade, porém, é que essas possibilidades são admitidas hoje de forma clara. Algumas são tidas apenas como blefes para ganhar espaço de poder, em se tratando de partidos da base do Governo, como o PMDB.
Na oposição, porém, fala-se em sobrevivência política do grupo que, finalmente, vê a chance de encerrar o ciclo petista na administração federal, aproveitando o enfraquecimento do PT na opinião pública e a queda de popularidade da presidente Dilma.
Tanto governo como oposição não podem, porém, cometer a imprudência de não analisar o que pensa disso a opinião pública, cada vez mais interessada em debater.
Afinal, ensinava Garrincha: “ Alguém se lembrou de combinar com os russos”?
CURTAS
Amuos – A base governista na Assembleia anda insatisfeita com o lançamento da candidatura a estadual do filho do conselheiro do TCE, Ranilson Ramos, Lucas Ramos. Sob o argumento de que o novo candidato está invadindo suas bases alguns deputados se dizem arrependidos de ter votado em Ranilson para assumir a vaga do Tribunal.
Explicação – Integrantes do PSB têm explicado que Lucas entrou na disputa porque o Governo não tem outro nome forte para segurar o voto para deputado estadual em Petrolina. A outra opção seria Miguel, filho do ex-ministro Fernando Bezerra, mas teria Bezerra demais na disputa já que Fernando Filho é federal e o pai pode integrar a chapa majoritária.
Coelhos – O comentário no meio político é de que o ex-ministro Fernando Bezerra sé tem a perder na queda de braço com o tio, o ex-deputado Oswaldo Coelho. Uma legenda na política pernambucana, sobretudo na região do São Francisco, Oswaldo pode ser vitimizado no embate e acabar fazendo o sobrinho perder mais pontos em Petrolina onde ele foi derrotado nas duas últimas eleições municipais.
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