Por Terezinha Nunes
Conversando com alguns amigos, recentemente, o governador Eduardo Campos manifestou o dilema de Hamlet. O famoso “ser ou não ser”. Se mostrou preocupando com a definição do momento em que proclamaria sua decisão de ser candidato a presidente ou de excluir-se do cenário presidencial no próximo ano.
Esta semana, porém, vendo o cerco que lhe faz o ex-presidente Lula para antecipar uma decisão em relação a 2014, o governador viu cair por terra sua trajetória inicial de ajudar Dilma a vencer 2013 para, só em 2014, dependendo do panorama econômico, decidir fazer uma carreira solo ou apoiar a continuidade do PT a nível nacional.
Macaco velho de guerra, Lula entendeu que Eduardo estava ganhando tempo e poderia surpreender com uma candidatura em 2014 quando as forças governistas já poderiam estar esgarçadas. Foi aí que resolveu antecipar o debate sucessório.
A nova estratégia, que está levando Eduardo a se expor mais cedo do que deseja, não só estava fora dos planos do governador pernambucano como pode empurrá-lo para o canto do ringue e precipitar sua entrada firme na campanha correndo o risco natural de quem vai para a chuva para se molhar.
A ofensiva de Lula apenas reduziu o dilema de Hamlet na cabeça do governador, mas é uma jogada arriscada e intempestiva.
Antecipando não só os debates como suas viagens pelo País, o governador deixa de lado o discurso administrativamente coerente que vinha fazendo, dizendo que não interessa a quem está no governo precipitar o debate sucessório.
Como o PT não está nem aí para esses rompantes de ética pública, fará a campanha de Dilma assim mesmo e já deixa claro que vai usar o poder a todo custo para evitar que o palanque socialista se fortaleça.
Quanto ao governador, passará a correr o risco de ser cobrado por estar em campanha para presidente quando ainda faltam quase dois anos para encerrar o seu mandato e quando Pernambuco enfrenta a maior seca dos últimos 50 anos.
Na verdade, há muito tempo que o governador tem se dedicado mais à pauta nacional do que estadual. Sua agenda só contempla questões pernambucanas em atos públicos, como aconteceu recentemente com o encontro dos prefeitos em Gravatá.
Os deputados estaduais da base governistas se queixam diariamente na Assembleia de que não conseguem uma agenda com o governador.
Nem o secretário Tadeu Alencar, dono de uma paciência franciscana, tem conseguido suprir a ausência do chefe: recentemente depois que muito esperou um retorno do secretário a um pedido de audiência, o deputado Adalberto Cavalcanti (PHS) teve um gesto irônico quando Tadeu finalmente lhe atendeu ao telefone. Ao invés do tradicional alô ou, um obrigado pela atenção, Cavalcanti irrompeu ao celular um sonoro “aleluia, aleluia, aleluia”.
Por mais que apregoe que sua equipe trabalha monitorada e Geraldo Júlio, como qualquer outra pessoa, não seja insubstituível, é difícil manter o ritmo quando o comandante não tem mais tanto tempo para se dedicar à equipe.
Eduardo pode, com isso, provocar uma redução de ritmo na máquina pública suficiente para prejudicar sua aura de grande administrador.
CURTAS
Armando em ação – No Palácio do Campo das Princesas há um convencimento de que quando o deputado Silvio Costa (pai) fala é porque o senador Armando Monteiro pensa da mesma forma. Por isso entendeu-se que se Silvio defende a MP dos Portos – ao contrário do que faz o governador Eduardo Campos – é porque o senador pensa do mesmo jeito.
Outros tempos – Ao contrário do momento em que indicou para o TCE o conselheiro Marcos Loreto, na vaga da Assembleia, sem ouvir ninguém, o governador Eduardo Campos, que deseja ocupar outra vaga da Alepe com outro auxiliar seu, o ex-deputado Ranilson Ramos, aconselhou Ranilson a fazer um périplo pela casa para buscar consenso. Deixou claro que não vai partir para o tudo ou nada.
Vantagem – Ranilson Ramos, portanto, parte com uma vantagem em relação a Loreto. Chegou humildemente na casa pedindo apoio e, conforme tem argumentado, é um ex-deputado não sendo nenhum estranho no ninho. Seu discurso tem agradado.
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