Por Arthur Virgílio*
Lisboa – O Ministro Mantega, no começo de 2011, “profetizava” crescimento de 4,5%. Depois, oscilou para entre 4% e 4,5%. No final do ano, dava meio braço a torcer e insistia em 3,5%. Resultado: 2,79% apenas, contra inflação maquiada (corte na CIDE e adiamento da entrada em vigor do imposto sobre o cigarro) de 6,5%.
Repito: a inflação real beirou 7%; a dos mais pobres foi bem maior e a taxa de desemprego, felizmente baixa, para os jovens é bem alta, quase 15%. Mas sigamos em frente.
Para 2012, o mesmo Mantega, enrolado e diminuído com a nomeação e demissão, obscuras, do Presidente da Casa da Moeda, prevê, de novo, algo em torno de 4,5%, quando o próprio Banco Central fala em 3,5% e o mercado calcula 3%… se nada de catastrófico acontecer na Europa.
A inflação, novamente maquiada (diminuição do peso da educação, dos empregados domésticos e dos cigarros na construção do índice) ficará pouco abaixo de 6%. Sempre acima do centro da meta (4,5%, elevado demais, com tolerância de 2% para cima ou para baixo (!!!). Dilma, aliás, corre o risco de passar quatro anos lidando com inflação acima do centro da meta e crescimento medíocre.
Veremos, no fim do ano, quem terá falado sinceramente para a sociedade: os analistas que se dão ao respeito ou o Ministro da Fazenda que abre mão da sobriedade e vira propagandista de panacéias. A capacidade de rebaixar as taxas básicas de juros está, a meu ver, tecnicamente esgotada. Insistir nessa política pode dar ganhos de popularidade no curto prazo, a custo de terem de aumentar as taxas em algum momento do futuro próximo. Isso ou deixar a inflação desembestar. Escolha dolorosa.
A leviandade é tamanha que a Fazenda, até agora, não prognosticou nada para 2013 e tem o desplante de arriscar que, em 2014 (ano da eleição; lembremo-nos das sandices praticadas por Lula para forjar crescimento acima de 7%, com consequências que nos estão sendo cobradas já hoje), o PIB evoluirá 6%. Para 2013, silêncio; para 2014, PIB de 6%? Estão liquidando com a credibilidade do Ministério mais relevante da República.
Digamos que o mercado esteja certo e o Brasil cresça 3% neste ano. No biênio, teremos a média anual de 2,89% apenas, contra inflação também media – e maquiada – de mais ou menos 6,1%. Quem perde mais com isso? Os setores mais pobres da população, claro!
E os principais vetores do desenvolvimento vão muito mal: educação, saúde, segurança pública e infraestrutura. Crescimento pífio, os serviços essenciais falidos, investimento público declinante, priorização equivocada, inapetência administrativa e um nível de corrupção que corrói as entranhas do país.
A herança que Fernando Henrique legou a Lula foi mais do que bendita. Maldita é a que ele, Lula, construiu com sua sucessora e a ela repassou.
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado.
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